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Patricia Lages

Análise: “Até que seja seguro” significa nunca

Se você acredita que a volta às aulas, ao trabalho e à vida normal não deve acontecer até que seja seguro, a OMS tem um recado para você 

Patricia Lages|Do R7

Quando será seguro?
Quando será seguro?

Viver é um verbo impossível de se conjugar sem que haja riscos. Sair de casa é um risco – devido à violência, aos perigos no trânsito e aos inúmeros incidentes que podem acontecer – assim como ficar dentro dela. Aliás, acidentes domésticos como queimaduras, asfixias, envenenamento e fraturas devido a queda, são a sexta maior causa de morte em idosos. Um banheiro escorregadio ou um sapato mal calçado podem resultar em uma fatalidade.

Mas há quem acredite que só poderemos voltar à vida normal quando estivermos 100% seguros em relação à covid-19, uma doença cujo índice de letalidade é de cerca de 0,6%, mas que, curiosamente, foi o suficiente para virar o mundo de cabeça para baixo. Todas as expectativas no momento estão voltadas para uma vacina que, acredita-se, nos devolverá a tão superdimensionada segurança.

Porém, ainda que esta fosse a única ameaça à vida, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) já vem dando “spoilers” sobre o que vem por aí. Em entrevista coletiva há exatos três meses, Ghebreyesus afirmou que “esta não será a última pandemia” e que “quando a próxima vier, o mundo deve estar pronto”. E em meados de novembro adiantou que a vacina “não será suficiente para derrotar o novo coronavírus”, sendo apenas uma “ferramenta complementar” às que já fazemos uso.

As questões agora giram em torno de como interpretar essas falas. Até quando teremos de acatar e achar normal nos mantermos afastados de outros seres humanos como se, de uma hora para outra, tivéssemos nos tornado ameaças ambulantes? Até quando nos esconderemos atrás de máscaras que nos desumanizam e cuja eficácia não conta com a unanimidade da classe médica e científica? Será que teremos de deixar de viver para nos mantermos vivos?


Enquanto isso a “vida” que o “novo normal” impõe diante da possibilidade de não adoecer por conta de um único vírus, tem causado estragos reais e que ainda não são possíveis de mensurar ao certo. Aumento do desemprego, dos divórcios, das mortes por suicídio. Agravamento de doenças cujos pacientes abandonaram os tratamentos, crianças mais ansiosas do que nunca, idosos deprimidos, adultos abusando cada vez mais do álcool e das drogas, adolescentes se cortando em busca de alívio.

Manter a vida em suspenso “até que seja seguro” significa nunca voltar a viver. Isso porque vida em si é um risco. Sempre foi e sempre será. Mas pior do que os riscos inerentes ao ato de viver é abandonar a vida por medo de morrer.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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