Análise: Avanços do capitalismo e retrocessos do Estado
Enquanto o capitalismo busca lucro oferecendo soluções, o Estado cria entraves, atrasa o país e prejudica a população
Patricia Lages|Do R7
A última vez que eu e meu marido chegamos de viagem e tomamos um táxi do Aeroporto de Guarulhos até nossa casa, pagamos incríveis 242 reais pela corrida. A tarifa vinha cheia de penduricalhos, como um adicional para cada bagagem (incluindo as pequenas), uma taxa intermunicipal e mais um complemento por ser um “carro de luxo”, que na verdade era um Chevrolet Spin.
Isso foi em dezembro de 2014, portanto, ao corrigirmos o valor pela inflação acumulada de lá para cá, estaríamos falando de quase 400 reais por um trajeto que não chega a 36 quilômetros. Se hoje não precisamos mais desembolsar esse valor absurdo é porque podemos chamar um carro de aplicativo e escolher entre vários tipos de tarifa, que vão desde R$ 63,10 por um carro compartilhado, até R$ 139,90 caso venhamos escolher um táxi de luxo. Sem adicionais, sem penduricalhos, sem complementos.
Essa redução drástica no preço do mesmo serviço só foi possível graças à corrida pelo lucro que o capitalismo promove. Nós, consumidores, literalmente pagamos para não ter problemas. Logo, uma empresa que resolve os nossos problemas receberá o nosso dinheiro e será uma instituição lucrativa. Em busca desse lucro é que, ano após ano, as empresas competem entre si para fabricar melhores produtos e oferecer melhores serviços, preferencialmente, a preços mais competitivos. E, obviamente, quem ganha com isso é a população.
É em busca do lucro que avançamos tecnologicamente, que progredimos e crescemos, caso contrário, ainda estaríamos cozinhando à lenha e andando a cavalo. Mas, na contramão de tudo isso vem o Estado, aquela máquina cara e pesada que não precisa ser eficiente, nem muito menos dar lucro. A sua função se resume a interferir na vida das pessoas – tanto físicas quanto jurídicas – e dizer a elas como devem fazer as coisas, caso contrário, sofrerão sanções que lhes trarão prejuízos.
Aparentemente, não interessa aos políticos brasileiros que o país progrida, pois basta que uma inovação chegue por aqui para colocarem as patas garantindo que as coisas permaneçam exatamente como estão. Um exemplo é a proibição de serviços como o da Buser, um aplicativo conhecido como o Uber dos ônibus, em Minas Gerais. Os mineiros não podem ter um serviço melhor e mais barato e devem continuar pagando mais caro por um serviço pior.
Enquanto isso, temos parlamentares redigindo leis ridículas que fazem as pessoas acreditarem que tudo é para o bem comum quando, na verdade, não passa de mais um caça-níquel. Uma demonstração clara é a lei nº 5.292, em vigor no Rio de Janeiro desde 2011, cujo texto proíbe “portar mochilas nas costas” em elevadores. À primeira vista parece justificável, pois evitaria que pessoas mal-educadas incomodassem as demais, porém, há duas questões importantes.
Primeira: não cabe ao Estado legislar sobre questões dessa natureza. Segunda: o que a lei obriga, na verdade, é a fixação de uma placa com a lei em todos os elevadores. Ou seja, ainda que alguém entre com uma mochila nas costas e incomode todo mundo, nada lhe acontecerá. Mas, se houver ausência da placa em qualquer elevador, o edifício será multado em mil reais.
Essa é a função da lei: fazer os edifícios gastarem dinheiro comprando e fixando mais uma placa (além de todas as outras que já são obrigatórias) e criando uma forma de arrancar mais dinheiro da população. E de atraso em atraso, de lei absurda em lei absurda que o Brasil tem sido o eterno país do futuro. Aquele futuro que já chegou para meio mundo, menos para nós.
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