Análise: Caso Lázaro e a fantasia progressista
Série de narrativas baseadas em suposições têm sido usadas para ampliar críticas à ação da polícia militar
Patricia Lages|Do R7
Que a esquerda existe para fazer contraponto a tudo o que acontece, além de não ser novidade, também não é problema. A oposição é necessária, até porque, ninguém é dono da verdade e todos são passíveis de erros. Logo, ter um opositor pronto para apontar falhas faz com que o outro lado seja mais cauteloso, mais prudente e até mais responsável. Porém, o que se espera é, no mínimo, coerência e compromisso com a sociedade.
Depois de toda repercussão de ontem sobre o caso Lázaro Barbosa e o apoio massivo da população à ação da polícia militar de Goiás, a “lacrolândia” baixou o tom dos ataques e passou a fazer suposições fantasiosas, como: “ninguém ouviu Lázaro”, “agora não temos como saber quem o financiava”, “ficou mais difícil chegar aos mandantes dos crimes”, “ele tinha que ser preso e pagar pelo que fez na cadeia”.
Porém, toda suposição requer uma certa lógica e, considerando as que estão sendo levantadas, as pontas soltas ficam evidentes, afinal de contas, quem disse que Lázaro queria ser ouvido? E quem disse que havia um financiador para pagar seu macarrão instantâneo e suas rosquinhas de coco? Quem pode afirmar, a esta altura, que terceiros o mandavam executar pessoas aleatoriamente, estuprar, roubar, furtar e sequestrar? E ainda: quem disse que ele permaneceria na cadeia?
O que Lázaro tinha a dizer ficou registrado em uma carta – encontrada em uma chácara por onde ele havia passado – que, ao que tudo indica, foi realmente escrita por ele. Nela, o criminoso deixa claro que preferia morrer a voltar para a cadeia. Ele não estava disposto a negociar, nem a entregar supostos mandantes. Até o momento, a polícia suspeita que um fazendeiro de 74 anos o teria ajudado, mas ainda não se sabe se isso é real e nem que tipo de ajuda – se ocorreu apenas na fuga ou se também estava relacionada aos crimes. Porém, cabe à polícia investigar e, considerando o desenrolar do caso, nada indica que Lázaro facilitaria esse trabalho. Dizer que se ele estivesse vivo tudo estaria resolvido e que vidas seriam salvas não passa de pura imaginação.
Além disso, é preciso considerar que esse mesmo Lázaro fugiu três vezes da cadeia – em três estados diferentes – e que sua extensa ficha criminal começou a ser escrita há 14 anos. Sendo assim, quem pode afirmar que ele pagaria pelos crimes de agora se nem mesmo pagou pelos anteriores? É óbvio que a morte de um criminoso não é solução para a violência, mas é inegável que a polícia estava lidando com alguém que não tinha nada a perder e que já havia dado indícios de que estava disposto a um tudo ou nada. Como negociar com alguém assim?
Em 2013, um laudo psicológico feito no Complexo Penitenciário da Papuda, diagnosticou Lázaro como “psicopata imprevisível”, com “comportamento agressivo, impulsivo, instabilidade emocional e falta de controle e equilíbrio”. Mesmo assim, no ano seguinte, sua prisão foi convertida para o regime semiaberto e, em 2016, ele fugiu da Papuda, uma prisão de segurança máxima. Lázaro não era “um pobre coitado que estava apenas dormindo em uma fazenda quando a polícia o encontrou e o executou”, ele era um criminoso de alta periculosidade, capaz de burlar o sistema penitenciário várias vezes e de movimentar quase 300 homens durante 20 dias. O problema não consiste na ação da polícia, mas sim, em um sistema prisional falido, que não recupera ninguém, e em uma justiça que sistematicamente solta quem deveria estar preso.
O problema é muito mais amplo, mas a oposição não parece ter a intenção de ajudar a solucionar e nem de focar no bem da sociedade. O objetivo é apenas se opor, ainda que seja contra os acertos. Resumindo: quando o adversário tem narrativa para reforçar que nada do que é feito está certo, tudo sempre estará errado. E quem paga a conta final somos todos nós.
Autora
Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog http://bolsablindada.com.br/. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.
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