Análise: Clichês existem por uma razão, eles funcionam
Há fatos incontestáveis considerados injustamente como clichês, mas se eles existem e se perpetuam é porque são efetivos
Patricia Lages|Patricia Lages

Clichê, chavão, bordão, estereótipo, lugar-comum. Esses são alguns sinônimos da palavra que indica uma ideia muito batida, previsível e que, por mais real que seja, acaba se tornando algo banal devido à quantidade excessiva de repetições. Porém, por mais que se tente reduzir algumas verdades a meras trivialidades, desconsiderá-las pode significar a perda das reais virtudes.
O fato de usar o termo “reais virtudes” se dá pela preocupação de separá-las da “sinalização de virtudes” que muito se vê nos dias de hoje e que, no fundo, não significa nada. As virtudes reais vêm de ações, o resto é pura hipocrisia. Feita a devida distinção, este artigo tem como objetivo questionar os motivos de reduzir verdades a bordões vulgares. A quem isso interessa?
Apesar de não gostar da nomenclatura, sei que acabo sendo “mentora” das pessoas que me seguem em busca de informações sobre finanças pessoais, empreendedorismo e desenvolvimento pessoal. E se há uma coisa comum entre muitos que me seguem é uma certa aversão a alguns conceitos por considerarem nada mais que clichês, como:
• Por mais longa que seja, toda jornada começa com o primeiro passo; por mais extenso que um livro seja, ele começa com uma palavra;
• O sucesso é uma escada, não um elevador;
• É preciso mudar a mente para mudar as atitudes, trabalhe seu “mindset”, abandone as crenças limitantes;
• Cuidado com as pessoas com quem se relaciona; você é o resultado da média das cinco pessoas com quem mais convive;
• A primeira pessoa que precisa acreditar em você é você mesmo.
Os exemplos são muitos, mas a questão é que, ao cair na classificação de clichê, as pessoas já não querem mais ouvir conselhos como esses que, efetivamente, formam as bases para que elas possam mudar de vida. Porém, o fato de esses fundamentos – assim como tantos outros – serem ditos e repetidos é por uma razão: eles funcionam.
A falta de um conhecimento estruturado tem feito muitas pessoas levarem a vida como quem constrói sobre a areia: buscando sempre resultados rápidos e preferindo os caminhos mais fáceis. Porém, mal sabem que esse tipo de construção é também extremamente frágil.
É assim que vemos pessoas caindo em golpes financeiros (por não terem paciência de dar um passo de cada vez na “escada do sucesso”), perdendo dinheiro em investimentos sobre os quais nada sabem (entrando na bolsa sem nem mesmo ter uma reserva de emergência em renda fixa), falindo negócios que tinham tudo para dar certo (por não se prepararem para administrá-lo) ou até mesmo ficando descrentes de tudo por não terem resultados positivos naquilo que fazem.
Por mais que se fale em ressignificar o mundo, reescrever a história, romper limites com soluções disruptivas e que cada um tem a sua própria “verdade”, ninguém pode mudar a ordem natural das coisas. Novas ideias, quebra de paradigmas e propostas criativas de produção, trabalho e até de pensamento são bem-vindas, porém, não se pode subverter aquilo que é fundamental, afinal, uma casa sempre será construída a partir do alicerce e jamais do telhado.