Análise: Depois das eleições, mais restrições
As coisas estão monótonas, afinal de contas, quem não sabia que logo após as eleições “o vírus”, que havia dado trégua, voltaria a atacar?
Patricia Lages|Do R7
Menos de 24 horas após as eleições, já foi decretado o que absolutamente todas as pessoas que não estão anestesiadas já sabiam: mais restrições por conta de uma suposta segunda onda (ainda que ninguém tenha dito que a primeira havia acabado). E elas vêm de várias partes do país. Vamos viajar?
Começando pelo estado de São Paulo: dias antes da eleição, João Doria, o gestor e seguidor da ciência, aparece sem máscara e, usando um tom indignado, declara que “depois das eleições nós não vamos fechar comércios ou endurecer medidas de combate à pandemia. O meu repúdio aos que espalham esse tipo de mentira na tentativa de prejudicar a nossa gestão ou fazer um golpezinho às vésperas da eleição”.
Porém, após exatos 17 dias, o mesmo João Doria (ou seria outro?) reaparece – desta vez de máscara e usando um tom manso e solene – dizendo que São Paulo volta à fase amarela e não fecha atividades econômicas, mas “é mais restritiva nas medidas para evitar aglomerações e o aumento do contágio da covid-19”.
Nesse caso, será que a primeira frase não seria fake news? E quanto à ciência: ela está pautando as ações do primeiro João Doria ou do segundo? E sobre evitar aglomerações? Será que foi a ciência que liberou a aglomeração na comemoração da vitória de seu aliado Bruno Covas? Lá podia ficar ombro a ombro, abraçar, pegar na mão. Que festa bonita, senhores!
Mas, em qual dos João Doria devemos acreditar? No que aparece esbravejando sem máscara ou no que a aparece mansinho e de máscara?
A única coisa que coincide nos dois Doria é que ambos usam e abusam de programação neurolinguística. O primeiro, sem máscara e em tom de combate, passa a mensagem que a doença não é ameaça, logo podemos enfrentar as ruas bravamente e sair para votar! Já o segundo, de máscara e em tom de quem não gostaria de ser portador de más notícias, transmite a ideia de que não podemos baixar a guarda, senão o vírus vem e todo mundo morre. A “ciência” é realmente uma coisa bem difícil de entender...
E que tal irmos para o Paraná, onde, a partir de hoje, haverá toque de recolher? Por lá, a ciência decretou algo diferente: quem sair de casa entre 23h e 5h nos próximos 15 dias o bicho vai pegar, quer dizer, o vírus vai atacar. Algum acontecimento transcendental, astrológico ou cabalístico deve acontecer durante essas seis horas. Mas, não se preocupem, afinal, quem obedecer e ficar em casa vai sobreviver sem o menor problema. Mas tem que ficar dentro de casa, hein!
Por isso, para “garantir a vida” de todos, a Polícia Militar e as guardas municipais vão intensificar a fiscalização nas ruas em ações conjuntas. Quanta harmonia! Só me pergunto como agora há policiamento suficiente para controlar as ruas de um estado inteiro, mas para lutar contra o crime – de verdade – sempre foi insuficiente? A ciência tem mesmo seus mistérios...
Bem, vamos para o Distrito Federal? No DF o vírus deve ser meio aparentado com o do Paraná, pois ambos têm atuação após o místico horário das 23h, mas com uma diferença: esse até deixa as pessoas circularem, só não gosta que elas fiquem em bares e restaurantes depois desse horário. #comaebebaemcasa
Para fechar, vamos a Belo Horizonte, onde o prefeito reeleito Alexandre Kalil soltou o verbo no programa Roda Viva. A fala dele é tão clara que me poupa o trabalho árduo de comentar os acontecimentos “científicos” que estamos sendo obrigados a presenciar. Respire fundo antes de ler (e depois também), vai lhe fazer bem.
“Se estão achando que a doença acabou, eu fecho tudo de novo. Se quando precisava de voto, eu fechei, imagine agora que eu não preciso?” Kalil, Alexandre.
Uns se escondem atrás da “ciência”, enquanto outros nem se dão ao trabalho. E quanto a nós, só nos resta ficar assistindo, de dentro de nossas casas, o circo que esse país se transformou. O maior espetáculo da terra em nome da vida, claro!
Autora
Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.
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