Análise: Estamos na pandemia da perda do senso do ridículo
Vivemos um momento inédito que tem suscitado ações e reações dignas de vergonha. É preciso cuidar da saúde, mas sem perder o senso do ridículo
Patricia Lages|Do R7
A postura de muitos políticos, jornalistas e profissionais de diversas áreas tem sido digna de vergonha. Não apenas no Brasil, mas em várias partes do mundo. Por aqui, chegamos ao cúmulo de ver jornalista tentando calar colegas simplesmente por não gostar de suas posições políticas. Não bastam as big techs censurando postagens e classificando o que querem ocultar como “fake news”, agora também temos jornalista querendo calar a própria imprensa. Tempos sombios...
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Também temos militantes, quer dizer, jornalistas, que criticaram duramente o presidente por ter aparecido publicamente erguendo uma caixa de remédio, mas que agora aplaudem governador-aspirante-a-ditador por suas aparições posando com vacina (não testada e não aprovada) em punho, como se fosse uma espécie de messias brasileiro. Realmente perdeu-se o senso do ridículo... Não bastasse a falta de testes, de aprovação e até mesmo do tempo absolutamente necessário para comprovar a eficácia e possíveis efeitos colaterais, temos também uma nuvem obscura pairando sobre o tal laboratório que confessou ter o hábito de pagar propina para acelerar processos de aprovação. Sério mesmo que isso aconteceu? Ah, “vac”! Pura política, puro interesse por poder e dinheiro, pura hipocrisia quando dizem que é “para salvar vidas”.
E que tal uma imprensa que cava críticas contra seus adversários políticos crendo piamente que somos completos idiotas? Ou será que a manchete “Jair Bolsonaro causa aglomeração e come sem máscara” não subentende que quem lê é totalmente estúpido? A Band Jornalismo, autora da pérola, apagou o post, mas uma vez que é “printado” fica eternizado.
Um levantamento do “The Global State of Democracy” do Idea (Instituto para a Democracia e Assistência Eleitoral), da Suécia, revelou que 61% dos países adotaram medidas antidemocráticas durante a pandemia. E você aí achando que o mundo está preocupado com a sua saúde... tsc, tsc, tsc...
A crise na saúde tem sido a oportunidade perfeita para que mais da metade das nações mundo afora aplique sanções e ações que ferem a democracia em cheio, como impor vigilância aos cidadãos, perseguir opositores e ampliar os poderes das forças militares. Segundo o instituto, tais medidas são ilegais, desnecessárias e desproporcionais, além de abrirem um precedente para o surgimento de mais ações autoritárias.
O Idea cita como atos de violação à democracia a imposição de lockdowns feita sem bases legais, a ocultação de dados sobre a pandemia, o cerceamento à liberdade de expressão, a censura a médicos, cientistas e jornalistas que questionaram medidas adotadas, a obrigatoriedade do uso de aplicativos de rastreamento pessoal e a imposição de uso de medicamentos de efetividade questionável.
Tais ataques à democracia foram adotados por 90% dos países autoritários, o que não surpreende ninguém. Mas a questão preocupante está em que 46% dos países que afirmam ser democracias também aderiram às violações.
Diante dessa realidade chega a ser surpreendente que ainda haja pessoas acreditando que todo esse circo, com direito a lei seca, solda em porta de comércio e toque de recolher, é para a preservação de vidas. Porém, mais do que nos livrarmos de germes patogênicos, precisamos nos livrar mesmo é dos tiranos patológicos.
Autora
Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.
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