Análise: Jornalismo negacionista prefere 'achismo' a ciência
Poucas coisas surpreendem no jornalismo militante que hoje se vê, mas agora temos também a predileção por 'achismos' sem embasamento
Patricia Lages|Do R7
Agora, além de termos monitoramento por todos os lados, a patrulha dos autointitulados “paladinos da verdade” — cuja função é calar qualquer um que pense diferente do que o status quo quer impor — está trabalhando sobre mais uma vertente: a dos “achismos”. Ou, para dar um ar mais “poo”: as opiniões sem elementos empíricos para embasá-las.
Questionado pelo Uol sobre “quem tende a acreditar mais em ‘fake news’, a direita ou a esquerda”, o fundador do Monitor do Debate Político no Meio Digital (sim, nós temos que debater sob vigilância) e professor de gestão de políticas públicas na Universidade de São Paulo dá duas respostas:
Primeira:
“É difícil mensurar a circulação de mentiras e compará-las de maneira metodologicamente séria. Como cientista, portanto, a resposta é que não sei.”
Segunda:
“Mas, como estudioso e observador do assunto, mesmo sem elementos empíricos para embasar essa opinião, eu diria que a circulação de desinformação é muito maior na direita do que na esquerda.”
Em outras palavras: embora eu devesse responder que não sei, porque simplesmente não há como saber, vou dar minha opinião mesmo que nenhum dos dados do monitoramento que fazemos confirme o que eu acho.
Esta é uma coluna de opinião, que está às vésperas de completar cinco anos de publicações. Porém, em nenhum dos artigos você encontrará achismos ou pareceres sem dados e fatos que lhes deem embasamento, por meio seja de estudos, pesquisas ou livros, seja por quaisquer outras fontes idôneas, sérias e confiáveis.
Ver a imprensa recorrer a esse tipo de expediente apenas para impor suas preferências políticas é lamentável ou, para usar uma das palavras lacradoras que os militantes adoram: é “negacionismo” puro.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.