Análise: Mais de 70% da população brasileira está endividada
Novo recorde de endividamento: 70,9% das famílias brasileiras recorreram ao crédito em 2021, o maior número em 11 anos
Patricia Lages|Patricia Lages, do R7
De acordo com um levantamento divulgado em 18 de janeiro pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 70,9% das famílias brasileiras terminaram o ano de 2021 endividadas. Só o percentual de dezembro ultrapassou 76%, o maior índice desde 2010.
Ter crédito à disposição e recorrer a ele não é o problema em si, mas sim a perda do controle que, invariavelmente, traz preocupações e insegurança financeira. Além disso, o endividamento é o primeiro passo para a inadimplência que, nos últimos anos, também vem batendo recordes.
Segundo dados da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), no primeiro semestre do ano passado, 11,79% da renda familiar ficou comprometida apenas com o pagamento de juros. É um quadro altamente preocupante, pois os juros são o segundo maior gasto do brasileiro, perdendo apenas para o aluguel.
Se o valor que é tirado do orçamento dos brasileiros para o pagamento de juros fosse injetado na economia em forma de consumo, teríamos um estímulo muito maior à produção, à indústria e, consequentemente, ao emprego.
Embora os salários no Brasil sejam relativamente baixos em comparação com os de outros países, o maior problema dos brasileiros não é a renda em si, mas, sim, a falta de educação financeira. Isso porque, se não houvesse esse endividamento a juros altos, quase 12% do orçamento poderia ser direcionado às necessidades familiares. Ou seja, se os brasileiros invertessem a ordem e passassem a receber primeiro para gastar depois, não estariam com sua renda tão comprometida.
É preciso entender que ter crédito é bom, mas que o seu uso não deve ser feito para tudo e qualquer coisa. Há que se ter objetivos, propósitos, controle financeiro e responsabilidade ao assumir um parcelamento, ainda mais para prazos longos, como já se tornou um costume para grande parte dos brasileiros.
Comprar com crédito é comprometer o orçamento futuro. Quanto mais longo o parcelamento, maior é o comprometimento. Nessas horas, não podemos ser otimistas demais achando que tudo vai dar certo e que “amanhã dá-se um jeito”. Não há jeito para quem se vê às voltas com um monte de parcelas a pagar e um orçamento encurtado, a não ser amargar o pagamento de juros e mais juros. Educação financeira e responsabilidade deveriam ter vindo antes da ampla oferta de crédito.
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