Análise: Notícias manipuladas para anestesia geral da nação
A cada ano o Carnaval começa mais cedo e muitos acreditam que a festa beneficia a economia do país. Será?
Patricia Lages|Do R7
Segundo o calendário 2019, o Carnaval acontece em 05 de março, ou seja, daqui a nove dias. Apesar disso, já é sabido que a folia começa no sábado anterior e termina na chamada terça-feira gorda. O que me chama a atenção é toda a organização prévia para a data, coisa que não é nada comum na nossa cultura de deixar tudo para a última hora.
As escolas de samba iniciam os trabalhos meses antes, algumas nem chegam a parar e já emendam os preparativos para o ano seguinte. Há quem compre passagens e pacotes turísticos com mais de um ano de antecedência e, é claro, já programe os gastos no orçamento para não correr o risco de não ter verba suficiente. Não falta fantasia, nem bebida (ainda que se pague o triplo do preço) e muito menos energia. A motivação vem em doses suficientes para durar noite e dia, sem parar.
Em contrapartida, vemos todos os anos grande parte das pessoas se enrolando para pagar as mesmas despesas de sempre e estudantes incapazes de chegar na hora para a prova do Enem. As reclamações em relação ao preço dos materiais escolares são muito maiores do que em relação ao aumento do preço das bebidas, hotéis e tudo mais nos dias de folia.
Assim é o nosso país: capaz de mover céus e terra para festejar, mas que, ao primeiro sinal de fracasso, responsabiliza terceiros e posa de vítima para tudo e qualquer coisa. E há quem justifique todo esse movimento alegando ser benéfico à economia.
Você verá inúmeras matérias dizendo que o Carnaval faturou milhões, aquecendo o comércio e aumentando a arrecadação do governo. Você também verá – se formos na mesma toada do ano passado – que os acidentes de trânsito diminuíram. Mas não se iluda, pois estatísticas são dados altamente manipuláveis.
Dizer que os acidentes diminuíram em relação à mesma época ano passado é querer tapar o sol com a peneira, pois o fato é que, entra ano e sai ano e os acidentes sempre aumentaram nos dias de Carnaval. Todos nós sabemos que é época de grandes tragédias.
Os atendimentos em hospitais aumentam, assim como o número de óbitos. Isso sem falar que é justamente nessa época que muitos jovens conhecem as drogas e o álcool e o índice de adolescentes grávidas dispara. Quanto tudo isso custa aos cofres públicos? E ainda que os números fossem favoráveis, quanto vale uma vida ceifada pelo aumento da violência desses dias?
Cada brasileiro deve ter o direito de comemorar, brincar o Carnaval – ou a festa que for – e poder desfrutar de dias mais leves. Mas se colocássemos a mesma disposição e empenho para a educação e o trabalho, certamente não faríamos apenas o maior espetáculo da Terra, mas seríamos uma das mais espetaculares potências mundiais.
Patricia Lages
É jornalista internacional, tendo atuado na Argentina, Inglaterra e Israel. É autora de cinco best-sellers de finanças e empreendedorismo, palestrante e conferencista do evento “Success, the only choice” na Universidade Harvard. Apresenta quadros de economia na TV Gazeta e Record TV e é facilitadora da RME para o programa mundial WomenWill – Cresça com o Google.
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