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Patricia Lages

Análise: Para todo problema complexo existe uma solução simples e estúpida

Falta de conhecimento sobre assuntos complexos faz das redes sociais celeiros de ideias estúpidas incentivadas por pessoas inescrupulosas

Patricia Lages|Do R7

Inconsistência dos dados e analfabetismo funcional dão o tom de comentários em redes sociais
Inconsistência dos dados e analfabetismo funcional dão o tom de comentários em redes sociais

“Para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada.” A frase é do jornalista americano H. L. Mencken (1880-1956), que ficou conhecido por seu sarcasmo e suas ideias nada convencionais.

Pergunto-me o que ele diria hoje diante de postagens completamente erradas, mas sem elegância alguma, que vemos frequentemente nas redes sociais. Para ilustrar a que esta análise se refere, seguem abaixo três exemplos reais.

Uma garota, aparentando 20 anos de idade, deixa sua contribuição para a erradicação da pobreza no país: “Eu não entendo o que tanto o povo fala do problema da pobreza. Gente, a população do Brasil é 250 milhões de pessoas e o prêmio da Mega-Sena é de R$ 250 milhões. Se a pessoa que ganhar doar R$ 1 milhão para cada brasileiro ninguém mais vai ser pobre!”

Vamos esquecer por um momento a inconsistência dos dados e o analfabetismo funcional em matemática e pôr o foco em que, ainda que tudo isso fosse verdade e todo brasileiro tivesse acesso a R$ 1 milhão, passado algum tempo teríamos novamente ricos e pobres. A riqueza não vem da quantidade de dinheiro que se tem, mas do conhecimento para saber o que fazer com ele.


Outro exemplo é o de um rapaz que, após assistir a um vídeo no qual explico o impacto dos juros compostos nos financiamentos, queria saber por que eu estava “impedindo os pobres de conquistar um carro”. Entre outras coisas, ele escreveu:

“Para ensinar alguma coisa você precisa primeiro aprender ‘conta de vezes’. Se o financiamento é de R$ 30 mil e o juro é 3%, é lógico que o carro vai sair por R$ 30.900, que é o lucro do cara da loja. ‘Manja’ 30 mil vezes 3 por cento, querida? Depois é só dividir pelos 48 meses para saber o valor da prestação. De onde você tirou que vai sair quase o dobro? Vai estudar!”


E um universitário que se identificou como estudante de economia da Unicamp postou um vídeo em que chamava o ministro Paulo Guedes de mau-caráter por não querer imprimir dinheiro. Segundo o futuro economista, expansão monetária não tem nada a ver com inflação. Fica difícil não parafrasear Roberto Campos: “Ou o Brasil acaba com os economistas da Unicamp ou os economistas da Unicamp acabam com o Brasil.”

A questão é que políticos inescrupulosos se aproveitam da falta de conhecimento de grande parte dos brasileiros para vender soluções tão estúpidas quanto essas em seus discursos populistas. Não é à toa que o ensino no Brasil vem descendo a ladeira a cada década. O objetivo parece ser apenas encher a grade curricular com muita doutrinação para que ninguém tenha tempo de aprender o que realmente interessa.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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