Análise: Quem com lacre lacra, com lacre será lacrado
Não se trata de um novo trava-línguas, mas, sim, da galera da lacração sentir na pele o resultado de suas próprias hipocrisias
Patricia Lages|Do R7
A turma do cancelamento se apropria de todas as virtudes e atira para todo lado suas acusações de transfobia, racismo, misoginia, machismo. Afinal, na sua visão, esses grupos precisam ser defendidos, pois sozinhos não chegarão a lugar algum.
A galerinha do “ódio do bem” exige que redações demitam jornalistas que não rezam pela sua cartilha e que empresas que não se acovardam diante de sua gritaria percam suas receitas publicitárias. Porém, um novo, mas muito sábio ditado diz que "quem com lacre lacra, com lacre será lacrado".
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Dias atrás o adulto mais infantil do país deu uma entrevista onde choraminga ter perdido R$ 7 milhões em contratos publicitários por ser contra o governo Bolsonaro. Mas, ao mesmo tempo que afirma “a gente sabe que foi por esse motivo”, também diz que “por alguma razão que ninguém sabe qual foi, vetaram meu nome”. E completa: “Eu não podia perder esses dois contratos. Eu não tenho tanto dinheiro quanto as pessoas pensam que eu tenho”.
Surfando na onda da representatividade, o Magazine Luiza deu o que falar ao abrir vagas de trainees exclusivamente para negros. A medida – que exclui candidatos de todas as demais raças – seria em prol da igualdade racial. Porém, esta semana, o Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina (TRT-SC) condenou a rede varejista a indenizar um funcionário gay em R$ 40 mil por ter sido discriminado por um gerente na frente de uma cliente. Pois é, seja em maior ou menor proporção, nem sempre quem lacra, lucra.
E quanto ao PSOL, que se apresenta como única opção verdadeiramente de esquerda, representante daqueles que não têm nenhuma representação? O partido que diz lutar contra o racismo e a transfobia não tem um histórico muito coerente a esse respeito. Em 2018, o historiador Douglas Belchior, negro e presente no PSOL desde a sua fundação, afirmou que o partido é racista e não mantém coerência. "Há um histórico de desrespeito desse partido com a construção do movimento negro em São Paulo”. Ele acusa o partido pela "concentração dos recursos em torno de candidaturas brancas”.
Já em 2019, a professora Duda Salabert, primeira candidata travesti a concorrer ao Senado pelo estado de Minas, se desligou da legenda dizendo: “deixo o PSOL por não concordar com a transfobia estrutural do partido.” E, para completar, Keit Lima, negra, moradora da periferia de São Paulo e candidata a vereadora nestas eleições pelo PSOL, ficou com menos de 10% da verba eleitoral dos candidatos brancos. “O valor oferecido pelo partido à minha candidatura é uma ofensa não só a mim, mas a toda coletividade de mulheres negras que por várias razões não constroem diretamente o partido, mas constroem movimentos de base”, declarou.
Mas, fica que vai ter Boulos. Vamos falar daquele que tem a fórmula para acabar com o rombo nas contas da previdência: abrindo mais concursos públicos e aumentando a folha de pagamento. Com esse tipo de estratégia, não é de se admirar que a legenda não soube administrar os mais de R$ 5,3 milhões de verba de campanha, alcançados com a soma do fundão eleitoral, vaquinha, doações de artistas e até de herdeira de empreiteira. Agora, para cobrir as despesas de campanha que a verba arrecadada não deu conta, Boulos faz campanha para arrecadar mais verba e poder fechar a conta.
“As eleições terminaram e foram um processo muito bonito de mobilização e esperança. Durante toda a campanha contamos com milhares de pessoas que contribuíram financeiramente com esse projeto coletivo. Agora pedimos mais uma vez a ajuda de quem puder colaborar para que possamos cobrir os custos ainda pendentes”, apela Boulos em sua conta do Instagram. Pelo visto, quem lacra pode não lucrar e ainda ficar devendo...
Autora
Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.
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