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Patricia Lages

Caixa entrará no mercado das bets em 2025. Como levar o Brasil a sério?

Apostas geram dívidas, consomem dinheiro público e afetam economia, mas governo foca em garantir sua fatia

Patricia Lages|Patricia LagesOpens in new window

Governo se diz preocupado com as apostas on-line, mas Caixa anuncia que vai entrar no mercado das bets

Somente no mês de agosto, mais de R$ 3 bilhões de reais do Bolsa Família foram gastos em jogos on-line, as chamadas bets. Significa dizer que, mesmo quem não aposta está sendo prejudicado, pois o dinheiro do contribuinte que, supostamente seria para garantir comida na mesa das pessoas de baixa renda, vai parar nos bolsos dos donos das plataformas.

A liberação dessas apostas no Brasil se deu em 2018, com a promessa de que as operações seriam regulamentadas em quatro anos, o que não aconteceu até hoje e, segundo o governo, só deve acontecer em 2025. O que se tem até o momento é a previsão de que as empresas de apostas terão de pagar uma outorga ao governo para poderem operar no país. Com o pagamento das outorgas, o governo espera arrecadar até R$ 3,4 bilhões, cifra inexpressiva diante do montante perdido no Bolsa Família em um único mês.


O comércio também já começa a sentir os efeitos negativos, com a redução do consumo, inclusive nos supermercados. Segundo a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, 63% das pessoas entrevistadas afirmaram que as apostas consumiram parte de sua renda, fazendo com que diminuíssem o consumo em roupas (23%) e no supermercado (19%), além de atrasarem ou deixarem de pagar contas (11%). Um levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP) apontou que 41% dos entrevistados usarem o dinheiro antes investido em lazer para jogar nas bets e 20% apostaram o dinheiro de pagar contas.


No país onde há um golpe em cada esquina, o nível de ingenuidade do brasileiro chega a ser inacreditável ao crer que vai ganhar dinheiro de uma plataforma cujo lucro só existe a partir da perda do jogador.


Além de todos os prejuízos financeiros, ainda há questões de saúde mental, com um crescente número de apostadores que, ao perderem tudo e ainda contraírem dívidas, caem em depressão e desenvolvem outros transtornos emocional. Enquanto isso, o que o governo tem feito? Promessas, apenas promessas. Promessas de que uma regulamentação virá, não se sabe exatamente quando e nem o que propõe, e de que a “pandemia instalada” será combatida.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as apostas são um problema social grave e que o governo irá enfrentar a “questão da dependência psicológica dos jogos”. Enquanto isso, a Caixa anuncia que entrará no mercado das apostas esportivas em 2025, o que não parece, nem de longe, uma forma de combate. Ou será que é possível livrar as pessoas de caírem em buracos abrindo mais um?

Diante disso, no que devemos acreditar: no que o governo está dizendo ou no que o governo está fazendo? Se este país tem alguma intenção de ser levado a sério, é melhor que as autoridades comecem a fazer o que prometem e a deixar de prometer o que não têm nenhuma intenção de fazer.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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