Capitalismo surgiu dos mais pobres, não dos mais ricos
Sistema nasceu da atitude de indigentes que não tinham campos para cultivar e não conseguiam emprego nas cidades
No livro “As Seis lições”, o economista e membro da Escola Austríaca de pensamento econômico, Ludwig von Mises, introduz o assunto explicando como era a economia duzentos anos atrás, antes do advento do capitalismo: “O status social de um homem permanecia inalterado do princípio ao fim de sua existência: era herdado de seus ancestrais e nunca mudava. Se nascesse pobre, pobre seria para sempre; se rico – lorde ou duque –, manteria seu ducado, e a propriedade que o acompanhava, pelo resto de seus dias.”
Como cerca de 90% da população europeia vivia da agricultura, só os mais ricos se beneficiavam das indústrias da época, voltadas apenas para a cidade e não para o campo. Esse modelo da sociedade feudal atravessou os séculos por todo o continente, até a chegada do capitalismo. Ao contrário do que muitos podem pensar, o sistema não foi uma invenção dos ricos e abastados para explorar os mais pobres, mas sim, de indigentes que não tinham campos para cultivar e nem eram aceitos nas cidades, quando buscavam empregos nas indústrias. Na Inglaterra do século XVIII, o número de pessoas em situação de miséria era tão alto que, segundo estimativas, pode ter ultrapassado 25% da população, representando um dos problemas mais graves naquela altura.
“Foi dessa situação social que emergiram os começos do capitalismo moderno. Dentre aqueles párias, aqueles miseráveis, surgiram pessoas que tentaram organizar grupos para estabelecer pequenos negócios, capazes de produzir alguma coisa. Foi uma inovação. Esses inovadores não produziam artigos caros, acessíveis apenas às pessoas de classes mais altas: produziam bens mais baratos, que pudessem satisfazer as necessidades de todos. E foi essa a origem do capitalismo tal como hoje funciona. Foi o começo da produção em massa – princípio básico da indústria capitalista. Enquanto as antigas indústrias de beneficiamento funcionavam a serviço da gente abastada das cidades, existindo quase que exclusivamente para corresponder às demandas dessas classes privilegiadas, as novas indústrias capitalistas começaram a produzir artigos acessíveis a toda a população. Era a produção em massa, para satisfazer às necessidades das massas.”, explica Mises.
Foi dessa forma que os indigentes da época, excluídos totalmente do sistema e sem qualquer perspectiva de enriquecimento, conseguiram obter renda e sair da situação de miséria. Eles passaram a garantir sua subsistência a partir de uma ideia, de uma inovação, ou seja, sem tirar nada do bolso de ninguém, apenas oferecendo aos mais pobres artigos que antes eles não podiam comprar, por preços acessíveis. Por esta razão – além de outras –, a ideia de que o enriquecimento de alguns significa o empobrecimento de outros é totalmente infundada.
Retrato do empresariado brasileiro
No Brasil, 93,6% dos negócios são micro e pequenas empresas (MPEs). Portanto, o que faz a roda da economia brasileira girar são as ideias de pessoas comuns, como eu e você, que muitas vezes começaram do nada, na cozinha ou na garagem de casa e que, se forem bem aceitas pelo mercado – ou seja, se suprirem necessidades e atenderem os anseios do consumidor por um preço competitivo – produzirão riqueza, além de gerar emprego e renda a milhões de pessoas.
Entender o conceito básico da riqueza é compreender que ela não é um bolo de tamanho limitado, mas sim, um bolo que aumenta de tamanho cada vez que alguém acrescenta um novo ingrediente à massa, quando alguém cria uma forma mais eficiente de preparo ou quando surge uma nova receita que atenda às necessidades e desejos do consumidor por um preço que ele esteja disposto a pagar. O que, infelizmente, muitas vezes inviabiliza ideias e negócios é a alta carga tributária e a burocracia impostas pelo Estado.
O empresariado brasileiro não é o causador dos males e das desigualdades do país, ao contrário, pois os micro e pequenos empregam seis de cada dez trabalhadores (57,5%), segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Assim como na Europa do século XVIII os mais pobres só conseguiram mudar sua realidade financeira por meio do capitalismo, o mesmo se repete nos dias de hoje. Ensinar nas escolas – principalmente públicas – o contrário disso, colocando o Estado como provedor de todas as necessidades é tirar, justamente de quem mais precisa, a oportunidade de quebrar o ciclo de pobreza.
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