Cobrança da ‘taxa das blusinhas’ começa neste sábado. Ainda vale a pena comprar?
AliExpress e Shopee repassarão novo imposto sobre compras até US$ 50 a partir de 27 de julho e Shein em 1º de agosto
Patricia Lages|Do R7

A polêmica e as fake news em torno da taxação sobre importações até US$ 50, até então isentas de imposto, finalmente chegou ao fim. Durante meses fomos expostos a todo tipo de informação controversa: desde que a isenção seria mantida a todo custo, até a afirmação equivocada de que o imposto seria pago pelas empresas e não pelo consumidor.
Como sempre, nada como o tempo para esclarecer as coisas. E, como sempre, nada como uma boa narrativa para que as pessoas arquem com mais taxas sem reclamar de nada. É óbvio que toda carga tributária entra na composição de preços de todo e qualquer produto, ou seja, é repassada para o consumidor. Porém, confiando na falta de interesse da população pela educação financeira e com boa parte da imprensa reforçando ideias tortas, até o óbvio deixa de ser óbvio para muita gente.
Mas vamos aos fatos: a AliExpress e a Shopee divulgaram que começarão a repassar o imposto de 20% sobre compras de até US$ 50 a partir deste sábado, dia 27. Já a Shein, que havia divulgado o repasse a partir de 1º de agosto, manterá a data. Logo, o consumidor arcará, sim, com a taxa, independentemente de quem disse que isso não aconteceria.
Aliás, o consumidor deveria deixar de lado suas paixões políticas e fazer sua lição de casa, pesquisando quem informou a população (e foi taxado de mentiroso) e quem apenas desinformou (mas foi aplaudido, defendido e repostado). Esse seria um ótimo exercício de “aquecimento” para escolher melhor os candidatos que disputarão a eleição deste ano.
Outra questão é que a maioria da população desconhece de onde surgiu toda discussão que culminou na “taxação das blusinhas”. Tudo começou – como sempre – bem longe de onde se queria chegar para não suscitar nenhuma antipatia com aqueles que fazem as leis e decidem quanto dinheiro tirarão dos bolsos dos brasileiros.
A suspensão da isenção dos impostos sobre as “comprinhas” se deu por meio do Projeto Mover (PL 914/24), que tem como objetivo incentivar a produção de itens menos poluentes. Quem seria contra uma coisa dessas, não é mesmo? Mas como a iniciativa requer um investimento superior a R$ 19 bilhões, em cinco anos, o dinheiro teria de vir de algum lugar. E como a opção de cortar as gastanças do governo está totalmente fora de cogitação, a ideia foi mandar a conta para o consumidor pagar, dando fim à isenção.
Para o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de São Paulo (FCDLSP), Mauricio Stainoff, a taxação dessas compras gera algum equilíbrio com o comércio brasileiro, mas não é a solução. “A decisão gera uma correção parcial em relação ao equilíbrio do consumo entre produtos nacionais e internacionais. O produtor e o varejista nacional ainda recebem uma carga muito alta de impostos para que a competitividade de seus produtos de fato se sobressaiam?”, questionou Stainoff.
Quem será mais impactado com a taxa? Ainda vale a pena comprar?
A cobrança da alíquota de 20% trará um impacto muito maior para o consumidor de baixa renda que via, principalmente nos sites chineses, a oportunidade de adquirir produtos aos quais não tinha acesso, por preços baixos.
Como mencionou Stainoff, a indústria brasileira enfrenta uma alta carga tributária, além de arcar com todos os custos que a CLT impõe, o que não existe em qualquer outro país do mundo nas mesmas proporções. Ou seja, a cobrança de mais taxas não muda praticamente nada para a indústria brasileira, enquanto encarece as importações.
Para saber se ainda vale a pena comprar em sites internacionais é preciso colocar todos os custos na ponta do lápis e fazer uma boa pesquisa de preços, comparando não só o valor de cada produto, mas a soma total, incluindo o frete, pois o imposto é calculado sobre o valor total da compra (produto mais frete).
Também é importante avaliar a reputação de cada vendedor, visto que muitos sites são market places, ou seja, locais onde praticamente qualquer pessoa pode colocar produtos à venda. Com isso, produtos iguais ou similares podem ter formas de pagamento, taxas e prazos de entrega diferentes, de acordo com a oferta de cada vendedor.
Além disso, tem sido comum a utilização de fotos que, muitas vezes, não correspondem ao produto real, o que pode demandar devolução do produto, algo que nem sempre é tão simples ou rápido de se fazer. Nesse sentido, comprar um produto nacional, ainda que com preço um pouco mais alto, pode ser uma opção mais adequada.
O que a “taxação das blusinhas” deixa como lição, principalmente para os mais jovens, é que aquilo que os políticos decidem impacta direta ou indiretamente em suas vidas. E que colocar suas paixões políticas acima do raciocínio, acreditando em todo tipo de narrativa não é o melhor caminho a seguir. No fim das contas, se a população realmente aprender isso, o pagamento desses 20% vai ter valido a pena, se é que me entendem.
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