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Patricia Lages
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Como estão transformando o Dia da Mulher em dia do mimimi

Em vez de comemorar conquistas femininas, data é usada para gerar divisões, vitimismo e desigualdade 

Patricia Lages|Do R7 e Patricia Lages


Dia da Mulher ou dia do vitimismo?
Dia da Mulher ou dia do vitimismo?

A manipulação das estatísticas estará sempre a serviço de qualquer narrativa que se queira “provar”, ainda mais quando boa parte das pessoas troca o raciocínio pela opinião de quem grita mais alto.

Desde o fim de fevereiro, minha caixa de e-mail está lotada de sugestões de matérias usando o Dia Internacional da Mulher como justificativa para a disseminação de pautas feministas e vitimistas, mas que sempre se apoiam em uma estatística para dar um ar oficial à narrativa.

Para citar apenas um caso – já que não quero dar palco para esse tipo de coisa – o release sugere difundir a informação de que as mulheres estão endividadas por “falta de apoio adequado”.

“Mulheres enfrentam desafios significativos devido à falta de apoio adequado. Embora elas assumam o controle das finanças domésticas com determinação e habilidade, a falta de educação financeira e a ausência de redes de apoio muitas vezes as deixam vulneráveis a endividamentos”, diz o release enviado por uma financeira que vive de vender empréstimos para mulheres.

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Veja só: se essas “vítimas” não contarem com o “apoio” dessas financeiras, como as pobrezinhas sobreviverão? Como deixarão de ser “vulneráveis”? Só não disseram qual é a taxa de juros que esse “apoio” cobra e que quanto mais vulnerável a pessoa for, mais fácil cairá na conversa de que empréstimos são soluções...

É sempre assim: a mulher é “empoderada” e faz tudo com “determinação e habilidade”, mas nunca é o suficiente, pois ela sempre precisa de algo que um terceiro tem de lhe dar ou ela jamais conseguirá sozinha. E a situação só piora, pois a onda agora é convencer as mulheres de que apenas “apoio” não basta, agora é necessário ter “redes de apoio”.

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A pauta ainda destaca que para uma mulher ser independente financeiramente, ela precisa de diversas coisas, entre elas: políticas públicas que ofereçam capacitação profissional e garantam boa remuneração no trabalho, rede de apoio para cuidar das tarefas domésticas sem abrir mão da carreira e flexibilização do horário de trabalho. Só isso!

Eu sou mulher (então, tenho “lugar de fala”), dona de casa (sem empregada doméstica e nem mesmo diarista), empreendedora há mais de 25 anos (sem nenhuma “rede de apoio”), com diversas capacitações profissionais (sem qualquer ajuda de políticas públicas) e com uma boa remuneração advinda do meu trabalho (não de “canetadas” do governo que obrigam a iniciativa privada a fazer o que ele mesmo não faz).

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O final do release chega a ser ainda pior: “empoderamento feminino é isso: promover às mulheres condições para que tenham mais liberdade, autonomia, e, acima de tudo, respeito”.

Qualquer pessoa que lê esse tipo de frase com o cérebro ligado percebe facilmente que por trás de toda essa “benevolência” para com as mulheres há um discurso totalmente vitimista. Afinal de contas, desde quando liberdade e autonomia têm a ver com ajuda e dependência? E desde quando apenas as mulheres devem ser respeitadas? Que igualdade é essa que pesa a balança apenas para um lado?

Mulheres estão sustentando seus lares sozinhas porque estão escolhendo viver dessa maneira. Mulheres se endividam pelos mesmos motivos dos homens, ou seja, pela falta de interesse por educação financeira e não por falta de acesso a informação. Pesquise sobre finanças pessoais na internet e você se surpreenderá com a quantidade de conteúdo de qualidade disponível gratuitamente. E, diga-se de passagem, a porcentagem de conteúdo gratuito criado e disponibilizado por educadores financeiros autônomos e pela iniciativa privada é infinitamente superior ao que o poder público produz.

No Dia Internacional da Mulher, assim como em qualquer outro dia, precisamos refletir sobre o que essas narrativas têm feito em prol da sociedade como um todo, principalmente em relação à mulher, que tem sido usada como uma marionete por grupos políticos que estão pouco ligando para seu bem-estar e de sua família.

Seja você quem for, dependa de si mesmo e saiba que só os seus próprios esforços serão capazes de vencer a mediocridade. Além disso, lembre-se sempre de que maus políticos se alimentam de mediocridade, pois se não houver pessoas medianas – e de preferência, abaixo da média – eles não sobreviverão.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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