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Patricia Lages

Consumidores se dizem preocupados com meio ambiente, mas pagar barato ainda fala mais alto

Preço baixo pesa mais do que produtos sustentáveis, e sites chineses são preferência nas compras on-line

Patricia Lages|Patricia LagesOpens in new window

Qualidade e sustentabilidade não são fatores decisivos na hora das compras Imagem gerada por IA

Uma pesquisa do Boston Consulting Group, revelou que 89% dos brasileiros se dizem preocupados com o meio ambiente ao adquirir produtos, sejam de uso pessoal, doméstico ou tecnologia.

O estudo ouviu quase 20 mil consumidores em oito países: Brasil, Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália, China e Índia e, embora 80% dos consumidores nestes países afirmem considerar questões de sustentabilidade em suas compras do dia a dia, na prática, apenas 3,5% dos respondentes, em média, aceitam pagar mais por produtos e serviços mais sustentáveis.

Em se tratando de vestuário, o Brasil é o nono maior mercado de roupas e acessórios do planeta. Segundo a Pesquisa Consumo de Moda no Brasil, de novembro de 2023, realizado pelo Opinion Box com mais de duas mil pessoas, 70% dos brasileiros já fizeram compras de roupas, calçados e acessórios em sites internacionais e, entre os 30% que nunca compraram, 21% responderam que gostariam de comprar.

A pesquisa também revela que 66% dos respondentes citaram especificamente uma marca de moda chinesa e 58% afirmaram que o fator principal de compra é o preço.


O que dizem os produtores X justificativas dos consumidores

O site espanhol “Laboratorio de Patrones” convidou o estilista de alta costura Lorenzo Caprile, um dos designers de vestidos de festa mais reconhecidos da Espanha, para avaliar um vestido comprado em um site chinês (o mesmo citado na pesquisa do Opinion Box) por 70 euros, incluindo o frete (cerca de R$ 430).

O vestido era composto por uma saia com duas camadas de tule mais forro e a parte de cima 100% bordada em pedrarias. Caprille revela que, em seu país, somente os materiais teriam um custo muito próximo dos 70 euros pagos pelo vestido mais frete. Ao avaliar a qualidade, o designer afirma que, em relação à mão de obra, a peça foi relativamente bem confeccionada, mas os materiais são “puro plástico” e o acabamento deixa bastante a desejar.


Mesmo assim, Caprille afirma que só um milagre faria o vestido custar apenas 70 euros e que prefere não mencionar as condições laborais que imagina terem envolvido sua confecção. Ao ser questionado sobre qual seria o preço real de um vestido similar àquele em uma loja espanhola, ele avalia que seria entre 500 e 600 euros (de R$ 3 mil a R$ 3.700).

A experiência foi postada em uma rede social e, enquanto alguns seguidores mencionavam que a peça era fruto de trabalho escravo e não deveria ser comprado por consumidores conscientes, outros acusavam a indústria espanhola de “hipocrisia”, pois as etiquetas das roupas de marcas nacionais trazem os dizeres “Made in China”, ou seja, são produzidas nas mesmas condições, mas vendidas a preços bem mais altos.

Diante de dados e fatos, vemos que, apesar de se dizerem preocupados com o meio ambiente, apenas uma pequena parcela de consumidores (3,5%) traz o discurso para a vida prática. Por enquanto, muitos preferem se agarrar à ideia de que para ser sustentável basta abolir os canudos plásticos que, no fim das contas, não afetam em praticamente nada o dia a dia de ninguém (e nem mesmo reduzem de forma significativa os impactos ambientais). Por enquanto, o dinheiro continua sendo o fator principal para a maioria das pessoas, ainda que digam o contrário.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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