'Corpos praticam esporte, não identidades', protesta levantadora de peso após mulher trans bater recorde feminino
Mulher transgênero bate recorde de todos os tempos no Campeonato Canadense ao levantar 200 kg a mais do que segunda colocada
Patricia Lages|Patricia Lages e Patricia Lages
Depois da polêmica com a nadadora transgênero Lia Thomas, que venceu a Liga Universitária Feminina dos Estados Unidos e desbancou as mulheres no próprio esporte, agora é a vez de Anne Andres fazer o mesmo no powerlifting, o levantamento de peso.
A atleta, de 40 anos, que nasceu homem, fez a transição há duas décadas e, por causa disso, alega que seu histórico não impacta nos resultados que obtém no esporte hoje. Porém, é exatamente a disparidade dos resultados que ela apresenta que deixa explícita a vantagem física que Andres tem sobre as demais competidoras.
No Campeonato Canadense Ocidental de 2023, da Canadian Powerlifting Union (CPU), realizado no último domingo, a atleta trans levantou de 597,5 kg nas modalidades de agachamento, banco e levantamento terra, totalizando 200 kg a mais que a segunda colocada, SuJan Gill. Com essa performance, Andres estabeleceu um novo recorde nacional feminino canadense, ao mesmo tempo em que bateu extraoficialmente o recorde mundial feminino.
Apesar de Andres ter dito que as demais atletas não reclamaram e chegaram até a aplaudir sua vitória, sua presença na competição tem sido alvo de crítica de outras atletas, como April Hutchinson, levantadora de peso da CPU.
Em uma entrevista à Talk TV, Hutchinson disse que “foi muito desanimador” e “completamente injusto" ver Andres bater o recorde e completou: “As atletas vêm perseguindo isso há anos. E estamos falando de atletas de ponta que têm treinado, treinado e treinado”. Segundo Hutchinson, algumas mulheres desistiram da competição quando souberam que Andres estaria presente, pois não teriam a menor chance de competir de igual para igual.
Na terça-feira (22), a nadadora americana Riley Gaines criticou o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, por permitir que a Canadian Powerlifting Union mantivesse uma Política de Inclusão Trans baseada apenas na autoidentificação de gênero, sem que seja exigida nenhuma comprovação de qualquer natureza. Gaines publicou em uma rede social que Trudeau tem um “desdém radical pelas mulheres e pela realidade”.
Hutchinson concorda: “Corpos praticam esporte, não identidades”. E acrescentou: “Meu namorado poderia basicamente entrar amanhã [na liga feminina], identificar-se como mulher, competir e, no dia seguinte, voltar a ser homem. Sem provas, sem necessidade de identificação, apenas basicamente como você se sente naquele dia ou qualquer gênero que você queira”.
Enquanto isso, Andres se limita a acusar de “preconceituosos” todos os que apontam o óbvio: que sua compleição física masculina oferece uma vantagem tal — comprovada, inclusive, por seus resultados — que exclui as mulheres de seu próprio espaço. Afinal de contas, se corpos masculinos não tivessem superioridade sobre corpos femininos, não haveria separação entre categorias feminina e masculina nos esportes.
Infelizmente, os devaneios da política identitária, que nega a biologia, a ciência e o bom senso, mas que ameaça e cancela quem raciocina, têm calado a sociedade. Esses desvarios não visam a que as pessoas trans tenham seu lugar, mas, sim, que tomem todos os lugares sem que ninguém possa contrariá-las.
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