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Patricia Lages
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Evitar informações e notícias é solução para melhorar saúde mental?

Neurologistas dizem que sim, mas há outros prejuízos causados por uma vida alienada e desconectada do que acontece à nossa volta

Patricia Lages|Do R7


Viver na própria bolha, alheio às notícias, nos priva do poder que o conhecimento traz
Viver na própria bolha, alheio às notícias, nos priva do poder que o conhecimento traz

Em uma postagem recente em uma rede social, a neurologista inglesa Tara Swart, autora do best-seller A Fonte, listou algumas razões para evitar os noticiários. Segue uma tradução livre do post originalmente publicado em inglês:

“Esse é o motivo por que eu, uma neurocientista (e todos os neurocientistas que conheço!) evitam assistir aos noticiários... O cérebro humano tem um viés negativo. Isso significa que ele tende a dar mais atenção às experiências negativas do que às positivas.

As notícias, muitas vezes, focam eventos angustiantes e traumáticos; isso pode desencadear esse viés e nos fazer liberar picos de hormônios do estresse, como cortisol e adrenalina.

Essa reação foi adaptada dos nossos ancestrais, que precisavam ficar alertas com as ameaças físicas, mas, no contexto do mundo moderno, essa resposta contribui para o estresse e a ansiedade crônica.

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No nível neurológico, evitar a exposição a emoções de estresse contínuas e repetitivas ajudará a manter um estado mental mais saudável.

Obviamente eu acesso as redes sociais, e meus amigos e família me informam se há algo que eu preciso saber.”

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É claro que, como cientista renomada, Swart está coberta de razão, e seu alerta está cheio de boas intenções. Porém, vivermos totalmente alienados ao que acontece à nossa volta pode causar outros prejuízos que talvez sejam tão ruins ou até piores do que enfrentar uma dose diária de estresse.

Quem vive dentro de sua própria bolha e ignora o que acontece do lado de fora provavelmente viverá livre de estresse, mas também se privará do poder que o conhecimento traz. Até porque ignorar os problemas nunca foi a melhor maneira de lidar com eles e, sem dúvida, não vai diminuí-los nem muito menos resolvê-los.

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Nós, seres humanos, temos uma capacidade de adaptação muitas vezes subestimada. É certo que, se passarmos o dia todo envolvidos com mortes, violência e todo tipo de tragédia, seremos negativamente influenciados e viveremos sob um estado de alerta insano. Porém, é possível encontrar um ponto de equilíbrio entre as coisas às quais precisamos nos expor e as que devemos evitar.

Como alguém que trabalha com notícias todos os dias, sei muito bem dos males que essa exposição pode causar. Já pedi licença de alguns dias para me “desintoxicar”, já disse que mudaria de profissão e já pensei em escrever ficção e poder criar meu próprio mundo livre de toda e qualquer mazela.

Mas, ao enfrentar a realidade e entender que esse não é o caminho, consegui desenvolver mecanismos que poupam meu cérebro dos efeitos negativos do que acontece no mundo e que, por outro lado, me impelem a buscar soluções ou, pelo menos, tentar mudar as coisas dentro das minhas muitas limitações.

Acredito que, em vez de evitar totalmente as notícias e apenas esperar que alguém nos informe sobre o que julgam ser do nosso interesse, deveríamos treinar nosso senso de seletividade e fazer a nossa parte, tanto para nos prevenir de tudo o que está acontecendo, como para fazer o que esteja ao nosso alcance para melhorar o nosso entorno.

Entender os problemas do nosso bairro, da rua onde moramos ou mesmo conhecer nossos vizinhos e criar uma cultura de ajuda mútua pode ser um bom começo. Não custa tentar.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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