No Brasil, número de apostadores é sete vezes maior do que de investidores da bolsa
Quantidade de pessoas que gastam com apostas é maior do que a soma dos investidores em tesouro direto, ações, criptomoedas e fundos
Patricia Lages|Do R7
Acreditar que o brasileiro não poupa por ganhar pouco e não investe porque não sobra dinheiro é um erro. Dados e fatos apontam para uma realidade bem diferente, na qual a má relação com o próprio dinheiro está ligada a uma falta de conhecimento tão alarmante que arrisco dizer que estamos em meio a uma epidemia nacional de analfabetismo financeiro.
Uma pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) concluiu que “o consumidor médio brasileiro gasta mais do que ganha, não guarda dinheiro e tampouco planeja o próprio futuro, tanto que oito em cada dez entrevistados (81%) têm pouco ou nenhum conhecimento sobre como fazer o controle das despesas pessoais”.
Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (ANEFAC), 99,4% da população brasileira não sabe o que são juros compostos. A porcentagem já assusta por si só, porém em um país onde mais da metade das pessoas recorrem a empréstimos, financiamentos e possuem, em média, dois cartões de crédito – operações baseadas em juros compostos – o quadro é ainda pior.
O resultado disso, de acordo com a Fecomercio/SP, é que o pagamento de encargos chegou a ser a quarta maior despesa dos brasileiros, em 2022, correspondendo a 12,6% da renda. De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2024, do IBGE, o percentual consumido em juros fica menos de 2% abaixo das despesas com alimentação (14,5%), mas é superior aos gastos com saúde (8%) e educação (4,7%) somados.
Significa dizer que se as pessoas tivessem conhecimento financeiro, poderiam ter mais qualidade de vida, com mais comida na mesa e recursos para investir em saúde e educação. Mas justamente quando o assunto é investimento que as estatísticas são ainda mais alarmantes. Segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), 67% dos brasileiros não investem nenhum dinheiro, em contrapartida, 14% da população queima dinheiro em apostas, considerando o gasto como “investimento”. Para piorar, o percentual de apostadores é maior do que a soma de investidores em fundos (4%), criptomoedas (4%), ações (2%) e tesouro Direto (2%).
Uma pesquisa do Datafolha revelou que os apostadores gastam, em média, R$ 263 por mês e que boa parte do público é composta por homens mais jovens, incluindo beneficiários do Bolsa Família. Se o mesmo valor fosse investido mensalmente no Tesouro Prefixado 2031, por exemplo, o resgate no final do período seria de R$ 29.406,13, já descontados impostos e taxas.
Isso mostra que a má administração financeira do brasileiro não está ligada à baixa renda, mas sim, ao alto grau de analfabetismo financeiro. Portanto, o antídoto para essa triste realidade não é o aumento da renda, mas sim, o aumento do conhecimento.
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