O papel fundamental dos algoritmos na polarização do país
Divisões e embates conferem mais poder à elite do poder enquanto enfraquecem cada vez mais a população

“Radicalização Algorítmica” é um material produzido por Daniela Klaiman, especialista em comportamento do consumidor e um dos principais nomes do futurismo da América Latina. Nele, ela descreve como as redes sociais se tornaram o agente central da polarização global que testemunhamos nos nossos dias.
Segundo a futurista, “o algoritmo não entrega informação, ele entrega confirmação”, pois tudo o que aparece no feed é mais do mesmo, ou seja, conteúdos que o usuário sinalizou aprovar, seja curtindo, comentando ou assistindo até o fim. “Isso vale para tudo: política, saúde, cultura, comportamento ou até preferências entre gatos e cachorros”, completa.
Klaiman explica que a função do algoritmo de garantir que cada usuário veja mais daquilo que aprova e menos (ou nada) do que não é de seu agrado é o grande propulsor da polarização, pois coloca a pessoa em um “looping infinito de uma só versão de mundo”.
Aprisionados em uma realidade paralela
Quando milhões de pessoas são expostas todos os dias – durante horas – a conteúdos que apenas reforçam os conceitos em que acreditam, a polarização é inevitável. “Cada bolha passa a acreditar que está certa, que está informada, que tem provas e que o outro lado é burro, mal-intencionado ou até perigoso”, diz Klaiman.
Para ela, trata-se de uma armadilha, pois enquanto as pessoas acham que estão mais informadas, estão apenas mais “reforçadas” e mais convencidas de que têm razão. A especialista aponta, de forma objetiva, o perigo desse equívoco: “Cada lado vive num universo onde o outro simplesmente não faz sentido, ou sequer existe.”
A forma como as redes sociais funcionam não contribui para ampliar a visão dos usuários, mas sim, para prender sua atenção e mantê-lo rolando a tela para consumir cada vez mais conteúdo agradável. Isso tem custado muito caro, pois praticamente elimina, de uma só vez, inteligência coletiva, diálogo e convivência, fatores fundamentais para o desenvolvimento de uma nação forte, tolerante e civilizada.
É preciso romper a bolha
A orientação da especialista é consumir as redes sociais com intenção e não apenas de forma passiva. De certa forma, é preciso burlar a ação do algoritmo, curtindo e dando atenção a conteúdos que normalmente o usuário evitaria. Ou seja, para romper a bolha é preciso ir em busca do contraditório.
“A polarização gera paralisia e conflito. Nos mantém ocupados e, ironicamente, alienados. Então, na próxima vez que algo te agradar no feed, pergunte: ‘e o outro lado disso?’ Porque pensar exige fricção, não confirmação”, orienta a futurista.
A verdade é que, enquanto a população perde tempo defendendo ideias com unhas e dentes, muitas vezes sem muito conhecimento de causa e, quase sempre, sem nenhum interesse em ouvir o outro lado, a pequena elite que controla o mundo ganha ainda mais poder. Essa estratégia não é nada nova, o que muda são apenas as ferramentas, afinal, há milênios fomos orientados quanto a isso:
“Todo reino dividido contra si mesmo será arruinado, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá.” (Mateus 12.25)