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Patricia Lages

O que importa mais: como a notícia é dada ou o fato em si?

Fatos idênticos noticiados de formas diferentes podem moldar e conduzir opinião pública

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Teoria do enquadramento afirma que não processamos informações de forma totalmente racional Folha Vitória

A Teoria do Enquadramento deriva do inglês frame (moldura) e, na comunicação e nas ciências sociais, significa que a forma como uma informação é apresentada influencia diretamente na maneira como ela será percebida e interpretada. Em outras palavras: não se trata apenas do que se diz, mas de como se diz.

O conceito foi desenvolvido principalmente pelo sociólogo canadense Erving Goffman (1922–1982), que chamava as estruturas cognitivas que usamos para interpretar a realidade de “quadros de experiência”. Mais tarde, sua teoria foi aplicada amplamente na política e no jornalismo, mostrando como o framing effect, ou o efeito de enquadramento, é capaz de conduzir a opinião pública.

Daniel Kahneman, israelense-americano especialista em psicologia cognitiva, mostra em sua obra Rápido e Devagar que uma mesma informação leva a decisões diferentes: “Itália e França disputaram a final da Copa do Mundo de 2006. [...] ‘A Itália ganhou.’ ‘A França perdeu.’” Segundo o autor, embora as duas afirmações sejam verdadeiras, não possuem o mesmo significado: “‘A Itália ganhou’ evoca pensamentos da equipe italiana e do que ela fez para vencer. ‘A França perdeu’ evoca pensamentos do time francês e do que ele fez que o levou à derrota.”, explica.

Diferentes enquadramentos, diferentes resultados

Um dos exemplos que Kahneman e seu parceiro Amos Tversky utilizaram em suas pesquisas foi a do enquadramento emocional. Médicos da Harvard Medical School receberam o resultado de um tratamento para câncer. Porém, metade deles recebeu a informação: “A taxa de sobrevivência de um mês é de 90%” e a outra metade: “Há 10% de mortalidade no primeiro mês.”


O autor explica que nem mesmo os médicos ficaram imunes ao poder do enquadramento, pois a maioria de nós não fica indiferente a palavras emotivas, por isso, 90% de sobrevivência soa encorajador, mas 10% de mortalidade é um dado muito assustador.

Da mesma forma, quando um político quer usar uma estatística a seu favor, mas seu opositor quer usar o mesmo dado contra ele, basta transmitir as informações de formas diferentes: “Desemprego cai para 5,6% em todo país” ou “Taxa de desemprego cai, mas há escassez de mão de obra qualificada”.


A primeira tem tom positivo e sugere que a economia vai bem. Já a segunda tem abordagem negativa e sugere que, apesar da queda, a qualidade dos profissionais é ruim.

O enquadramento importa porque não processamos informações de forma totalmente racional. Podemos ser guiados por sentimentos e atalhos mentais, e a forma como os dados nos são apresentados podem causar emoções totalmente diferentes. Políticos, meios de comunicação e educadores usam e abusam dos enquadramentos para influenciar interpretações, sentimentos e decisões.

Segundo a teoria do enquadramento, não há mensagens neutras ou imparciais, pois a maneira de apresentar fatos conduz a forma como são entendidos, lembrados e passados adiante.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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