Propaganda estatal de 1977 passa pito nos “culpados” pela alta de preços dos alimentos
Campanha Corrente do Povo Contra Inflação afirmava, há 48 anos, que “custo de vida é culpa de todos nós”
Ambientada em uma feira livre, o vídeo publicitário divulgado pelo governo militar de 1977, começa com a agitação característica do lugar: vendedores gritando e compradores concorrendo entre si para escolherem os melhores alimentos. Um senhor idoso reclama dos preços altos balançando a cabeça, enquanto outros escolhem apressadamente seus legumes numa espécie de frenesi. Um feirante agita os fregueses batendo palmas e as notas de cruzeiros, moeda da época, vão trocando de mãos. Uma senhora levanta um melão como se fosse um bebê e cheira o aroma suave da bela fruta.
Todos estão focados em suas funções: uns vendem, outros compram e, ao fundo, o locutor, com sua voz impostada, diz: “Todo mundo reclama do preço do arroz, do tomate, do feijão, mas todo mundo continua comprando e vendendo. E o custo de vida continua subindo. Ninguém faz nada! Todo mundo continua comprando e vendendo como se nada acontecesse.”
A seguir, o locutor sobe o tom e diz: “Entendam de uma vez por todas: o custo de vida é culpa de todos nós! Culpa de quem compra, culpa de quem vende.”
Diante da fala professoral, feirantes e fregueses parecem acordar de uma hipnose e passam a olhar para a câmera com o semblante de quem foi pego fazendo algo que não devia.
A locução continua em tom disciplinar, enquanto os compradores vão guardando seu dinheiro, a senhora devolve o melão à banca e os vendedores baixam a cabeça: “Você tem que fazer alguma coisa! Comece a pechinchar, comece a dar valor a cada centavo do seu dinheiro. Procure o mais barato, discuta o preço. Compre somente o que você precisa. Se todo mundo acreditar que esta é a única solução, aqueles que vendem caro vão acabar acreditando também!”
Durante as últimas frases, os feirantes se ajuntam e decidem baixar imediatamente os preços, enquanto o locutor finaliza a peça num tom vitorioso: “E o brasileiro vai vencer a inflação. A partir de hoje, compre só o que o seu dinheiro pode pagar!”
Como você tem muito a ponderar e refletir, vamos ficando por aqui.
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