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Patricia Lages

Se o preço da liberdade é a eterna vigilância, quanto custa impor controle?

A resposta é óbvia e está diante de todos, mas grande parte das pessoas está distraída demais para perceber

Patricia Lages|Patricia LagesOpens in new window

Na trama, Judah (Jack Huston) é acusado injustamente de trair o Império Romano. Vivendo anos como escravo, ele decide se vingar do irmão Messala (Tobby Kebbell), que foi o responsável por sua condenação. Judah então se torna corredor de biga e encontra aí sua chance para bater de frente com Messala
Política do pão e circo: distrair para controlar Divulgação/Paramount Pictures

Altos índices de desemprego, analfabetismo e de pessoas em situação de rua, carga tributária altíssima e quase nenhum retorno àqueles que trabalham meses a fio só para pagar seus impostos, corrupção e abuso de poder por parte daqueles que deveriam servir à população em vez de se servir dela. Esses eram os problemas sociais na época do Império Romano, que se manteve no poder por quase 450 anos. E esses são os problemas sociais do Brasil, que se arrastam por décadas.

Ao olharmos para a Roma Antiga, costumamos subestimar as pessoas da época considerando-as absurdamente ingênuas por não perceberem a manipulação imposta pelo imperadores tiranos. É comum perguntarmos por que uma população tão numerosa não uniu forças para impedir o avanço de um sistema tão cruel? Porém, em vez de analisarmos esse período como quem olha por cima dos ombros, deveríamos encará-lo como quem olha no espelho. Afinal, as semelhanças entre aquela época e o Brasil de hoje não estão somente nos problemas sociais.


Um dos motivos que fez a população de Roma baixar a cabeça e aceitar toda exploração imposta por seus governantes é o mesmo que faz grande parte dos brasileiros aceitar o que acontece por aqui: “panem et circenses”, a política do pão e circo. O Império distribuía pão e trigo, fingindo interesse em “matar a fome dos mais pobres”, além de promover espetáculos públicos, como corridas de cavalo, peças teatrais e apresentações sangrentas – e até fatais – de gladiadores, fingindo interesse em levar alegria à população “fomentando a cultura”. Que grande ironia, afinal, o próprio império empobrecia as pessoas e as fazia levar uma vida de sofrimento, para, depois, se apresentar como salvador de todos jogando nada mais do que migalhas a quem lhes dava tudo.


Obviamente, o interesse dos imperadores sempre foi manter o povo distraído e controlado para que não se revoltassem contra o sistema e ameaçassem seu poderio. Essa espécie de efeito anestésico era tão forte que as pessoas realmente acreditavam que os pães, o trigo e os espetáculos eram “de graça”, esquecendo completamente de que tudo era financiado com o dinheiro dos impostos arrancados delas mesmas.


Mais de 1.500 anos depois, cá estamos nós, brasileiros, repetindo a história como se ela jamais tivesse acontecido. Somos testemunhas oculares do quanto a estratégia criada e imposta por Otávio Augusto em 27 a.C. funciona até hoje. Aliás, funciona ainda melhor, pois naquela época o povo não escolhia seus representantes, sendo obrigado a aceitá-los, mas hoje, a população não só elege seus próprios algozes, como também os cultua e os venera com adoração doentia.

Em pleno século 21, o brasileiro ainda acredita que tudo o que o governo distribui é “de graça”, que o Estado está preocupado com os mais pobres, que entregar mais controle aos governantes vai fazer com que o país decole e que usar bilhões de reais de dinheiro do contribuinte para encher os bolsos de artistas tão militantes quanto milionários é apenas para “fomentar a cultura”.

Hoje, as pessoas estão ainda mais distraídas, mais anestesiadas, mais controláveis e mais fáceis de serem manipuladas. Hoje, as crianças aprendem nas escolas – criadas e controladas pelo Estado – que a História deve ser reescrita, que as coisa não aconteceram como os livros contam, que tudo é relativo e fluido e que é preciso respeitar a “verdade de cada um”.

Se antes o controle custava pouco, hoje as pessoas entregam sua liberdade de graça.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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