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Patricia Lages

Suas redes sociais não são mais suas: o algoritmo assumiu o controle

Gradualmente, algoritmos passaram a determinar a ordem, a frequência e os conteúdos que você vê

Patricia Lages|Patricia LagesOpens in new window

Algoritmos de redes sociais determinam o que você vê, a ordem e a frequência Marcello Casal/Agência Brasil/Arquivo

“Vou dar uma olhadinha nas minhas redes sociais”, diz você. Porém, as suas redes não são exatamente suas, mas sim, dos algoritmos que passaram a comandar não só o que você vê, mas também a ordem e a frequência.

Em junho de 2007, cerca de dois anos depois de surgir nos Estados Unidos, o YouTube chegou ao Brasil. Inicialmente, a plataforma de vídeos criava uma página de tendências sugerindo aos usuários os conteúdos mais populares.

Porém, a partir de 2008, o sistema de recomendações começou a operar, utilizando ferramentas de análise do histórico de visualizações dos usuários para oferecer conteúdos similares e, dessa forma, aumentar a retenção (tempo de permanência) na plataforma.

De lá para cá, o sistema foi evoluindo significativamente e, em 2024, um levantamento da Data AI Intelligence revelou que os brasileiros passam, em média, 22 horas por mês no YouTube, que se consolidou como a segunda rede social mais utilizada no país, perdendo apenas para o Instagram.


Por sua vez, o Instagram, desde 2016, começou a implementar um algoritmo que une duas estratégias: recomendação de postagens similares às que o usuário mais interage (curtindo, comentando, salvando ou compartilhando) e sugestão dos conteúdos mais populares, o que pode incluir posts de perfis não seguidos e conteúdos com os quais o usuário não interage diretamente.

E assim, a “sua rede” — aquela que você formou para acompanhar conteúdos de seu interesse — é invadida por postagens que você jamais acessaria se pudesse, de fato, escolher. Mas seria isso um problema? Sob alguns pontos de vista, sim.


Construindo casas no terreno dos outros

Um deles é óbvio: perda de tempo. Afinal, uma parte significativa do feed é composta por conteúdo sugerido pelo algoritmo que, como vimos, se baseia em diversos fatores e não somente no interesse do usuário.

Outra questão — não tão óbvia, mas muito importante — é que aprendemos por repetição. Além de ser uma técnica, a repetição é uma ferramenta que influencia diretamente o funcionamento do cérebro, colaborando para o processo de memorização e consolidando informações.


Ou seja, aquilo que o seu cérebro vê com frequência se torna cada vez mais natural e mais aceitável, podendo formar padrões que serão assimilados como verdade, ainda que não façam sentido.

Não é à toa que as polarizações se instalaram massivamente ao redor do mundo em questão de poucos anos. Não é à toa que os grupos de “nós contra eles” se multiplicaram exponencialmente. Assim como não é à toda que as divisões e subdivisões baseadas em ideias — não em ciência — dividiram tanto as pessoas, a ponto de muitos nem sequer saberem a qual grupo pertencem.  

Ainda assim, ao contrário do que estão dizendo, as redes sociais não são um “problema para a humanidade”, pois — pelo menos por enquanto — tem sido por meio delas que fraudes, escândalos e golpes ganharam forças, mentiras foram desmascaradas e pessoas de caráter duvidoso têm sido expostas frequentemente.

Não fosse isso, jamais tomaríamos conhecimento de barbaridades que têm acontecido (e que seguiriam sendo acobertadas pelos poucos que detinham o controle da informação).

Na verdade, o maior problema da humanidade é não usar o próprio cérebro e permitir que as criaturas deem ordens a quem as criou. A preguiça de raciocinar, a constante fuga da realidade e a busca por migalhas de dopamina em forma de entretenimento vazio esvaziam a mente de muita gente e sequestrado seu senso crítico.

É como alguém que é proprietário de um vasto terreno, mas fica sem ter onde morar, pois permite que outros construam casas em todo o seu espaço, pagando-lhe apenas alguns centavos de aluguel.

O problema não é o uso do terreno, mas a perda da propriedade. Assim como o problema não são as redes sociais, mas a perda da propriedade do pensar.

Lembre-se de que o seu cérebro é o seu terreno e nele só devem entrar aqueles que você permitir.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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