Pedreiras, sim! Elas colocam a mão na massa e acertam o rejunte
Uma pedreira de carteirinha e uma "faz tudo" que substitui marido de aluguel. Conheça mulheres que desbravaram a construção civil
Viva a Vida|Hysa Conrado, do R7

Com um capacete de obra e uma blusa de manga comprida para se proteger do sol, Geny do Carmo, de 37 anos, tem um carrinho de mão cheio de cimento em sua frente. Em um vídeo, que já passa de 10 milhões de visualizações, ela aparece em um canteiro de obras construindo um muro. “Trabalho de menina”, explica na legenda. Na internet, ela é conhecida como Pedreira Geny e afirma que está na profissão por ser curiosa.
Se no imaginário popular a profissão de pedreiro está atrelada ao universo masculino, um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o número de mulheres na construção civil cresceu 120% nos últimos 12 anos, o equivalente a 239.242 trabalhadoras registradas. Geny é uma delas. Contratada por uma empreiteira, ela trabalha com obras desde a fundação até o acabamento.
A história dela com o cimento e a argamassa começou em 2009, quando as empresas de construção, por não terem mão de obra suficiente, começaram contratar mulheres para trabalharem como serventes de pedreiro. “E eu que sempre trabalhei com moda, costura e estamparia, resolvi experimentar a área da construção”, conta a pedreira.
Com menos de um mês na nova função, Geny aproveitou a hora do almoço para tentar algo novo. “Comecei a assentar uns tijolos, o mestre de obras passou e me viu”. Por causa da ousadia, foi promovida a meio oficial, que é como se fosse um aprendiz de pedreiro. Desde então não parou mais. “Acredito que, por ser mulher, a gente se atenta mais aos detalhes, o que chama a atenção dos clientes”, afirma.
"Muitas mulheres, por acharem que o preconceito existe em todos os lugares, deixam de tentar por medo. Procuro mostrar que nao existe impossível, se alguém um dia fez eu também posso".
Marido de aluguel ou faz tudo
Geny é uma referência para Kethy Molina, de 43 anos e avó de três (como gosta de pontuar), que também trabalha na área da construção civil e hoje tem uma empresa de reformas. “Comecei pela necessidade de melhorar um imóvel que eu estava indo morar e estava terrível”, conta. Esta foi a virada de chave da qual ela precisava. “Quando vi que eu tinha o dom pra isso, me realizei. Exerci muitas profissões antes e nunca tinha me sentido assim”.
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“Eu mesma executo sozinha todos os serviços da empresa. Sou eletricista, azulejista, pintora, além de fazer montagem de móveis, reparos hidráulico e os serviços de marido de aluguel”, explica, justificando a fama de “Molina Magaiwer” que ganhou no começo da empreitada, uma alusão ao personagem “faz tudo” da série norte-americana dos anos 1990.

Ao passo que Geny enxerga a condição de mulher como um “plus” na hora do acabamento bem feito, Kethy encara como uma brecha para a desconfiança. “A cobrança é dobrada na minha mente. Se o cliente contratou uma mulher por ser mais caprichosa e detalhista que um homem, então ele espera a perfeição. No fim sou eu tentando quebrar minhas próprias barreiras, para mostrar para mim mesma que posso além do que esperam”.
Para Kethy, mulheres colocando a mão na massa serão algo comum para as próximas gerações. "Fico feliz de ouvir quando elas falam que se espelharam em mim e hoje estão na profissão".