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Adega do Déco

Como Washington Olivetto me ajudou a entrar de vez no mundo do vinho

O que é que este espaço destinado ao vinho tem a ver com o maior publicitário de todos os tempos? Tudo!

Adega do Déco|André RossiOpens in new window

Washington Olivetto e André Rossi Arquivo pessoal/André Rossi

Garoto Bombril; O Primeiro Sutiã; Cachorrinho da Cofap; Rider, dê férias para os seus pés; Casal Unibanco; Não é uma Brastemp... Poderia ficar aqui enumerando campanhas memoráveis de Washington Olivetto, que precocemente nos deixou ontem, 13 de outubro de 2024.

Dono de uma inteligência acima da média, de uma criatividade poucas vezes vista no mundo, de uma cultura impressionante, de um bom gosto gastronômico assustador e, acima de tudo, dono de uma generosidade ímpar, Washington parte deste plano para criar campanhas memoráveis lá de cima, dando férias para os pés dele.

Ele deixa uma linda família com sua amada Patricia e seus filhos Homero, Antonia e Theo, além, é claro, de todos que o admiravam, tendo trabalhado ou não com ele, e os inúmeros amigos – e olha que ele tinha vários espalhados mundo afora. Acho que posso, com orgulho, me incluir neste grupo.

Mas o que é que este espaço destinado ao vinho tem a ver com o maior publicitário de todos os tempos? Tudo. Então sente, pegue sua taça de champanhe (bebida que ele adorava), erga um brinde ao mestre e vamos lá.


Washington era, como disse acima, um amante da boa mesa. Tinha lugar cativo em restaurantes tradicionais de São Paulo e do Rio, como Rodeio e o extinto Antiquarius, por exemplo, entre outros.

Cito estes dois pois tive o prazer de estar com ele em ambos. Em Londres, onde estava morando recentemente, chegou a me recomendar alguns que ele também já tinha lugar cativo, entre eles o tradicional Milos e o Dinings SW3.


E quem ama a boa mesa, ama um bom vinho. Neste campo, ele se cuidava como ninguém. Sempre bem acompanhado de um vinho escolhido com precisão para aquela refeição, este era um dos cenários prediletos do W para contar suas inúmeras histórias de vida e muitas destas situações serviam como ponto de partida para suas criações.

E se hoje eu estou neste mundo do vinho há 14 anos, muito disso foi fomentado por ele mesmo.


O ano era 2009. Eu era diretor de atendimento de um grupo de contas na W/Brasil, quando comecei a escrever sobre vinhos de forma despretensiosa, ainda sem nenhuma formação, juntando duas coisas que eu adoro até hoje: o vinho e a escrita.

Eu ia em degustações e jantares harmonizados e no dia seguinte escrevia sobre o evento, sobre as sensações, sobre as pessoas, e quase nada sobre algo técnico do vinho, pois eu nada sabia, apenas gostava. E mandava para meus amigos por e-mail.

Até que um dia um dos meus textos chegou ao Washington, que na época, tinha um blog num grande portal. E ele me pediu permissão para publicar meu texto lá no blog dele, dando todos os créditos, claro. Me assustei, obviamente, e me envaideci. Afinal, “o cara” estava publicando um texto meu no blog dele.

Depois disso, comecei a escrever com mais cuidado e comecei meu próprio blog, numa época em que quase não havia gente falando de vinho como hoje. Após esse dia, mais uns três textos meus foram parar lá no blog dele e cada vez que isso acontecia, era mais alguns dias de orgulho e alegria.

Ao ver meu gosto e meu interesse pelos vinhos, Washington começou a me chamar para alguns almoços, com amigos ou prospects que ele sabia que abririam boas garrafas.

O telefone da minha mesa tocava e a Dani, sua fiel escudeira até hoje, perguntava se eu tinha alguma programação para o almoço. Mesmo se eu tivesse, não seria louco de falar o contrário. E lá ia eu.

E nestes almoços, pela primeira vez, bebi o mítico português Barca Velha, e num outro almoço, o também mítico, só que espanhol, Vega Sicilia Único. Como dizia o mestre, “o primeiro, a gente nunca esquece”. E aproveitando o gancho, sim, estes vinhos estavam “uma Brastemp”.

Mas, em que agência de propaganda a criação não faz um bullying básico com o atendimento? Pois num outro dia, meu telefone toca depois do almoço. Era a Dani de novo, dizendo que o W estava me chamando.

Ao entrar na criação, vi uma garrafa de um outro Vega Sicilia em cima da mesa dele. Ao me aproximar, ele me dá uma taça e diz: “Andrezinho, sobrou do almoço, quer matar o resto?”.

Desconfiado e com a criação inteira me olhando, aceitei, mas achei estranho. E mesmo sem experiência e conhecimento, tomei um gole, olhei pra ele e em voz baixa, disse “Washington, tem certeza que isso é um Vega?”. Ele me olhou, tentou reforçar que sim, era aquele vinho, mas logo abriu um sorriso e disse “É, não colou. Algo ele parece entender.”

Depois disso, a W/Brasil se fundiu com a McCann Ericksson, se tornando o que é a W/McCann hoje. E dois meses depois de casa nova, tirei uma semana de férias e voltei com a decisão de que queria me dedicar 100% ao vinho.

Entrei na sala do W falei: “Washington, tô de saída da W/”. Ele prontamente me perguntou para onde eu ia, se eu tinha recebido uma proposta de alguma outra agência e que ele cobriria, pois queria que eu ficasse.

Falei que queria arriscar, queria tentar abraçar o mundo do vinho por inteiro e que iria para Nova Iorque estudar e na volta, abriria minha consultoria e começaria a trilhar este novo caminho.

Foi quando ouvi uma frase que me marcou e sempre me lembrarei: “Andrezinho, vai e voa. Você realmente gosta muito disso e leva jeito para coisa. Boa sorte! Mas se um dia você precisar, e espero que não, as portas da W/ estarão sempre abertas para você.”

E lá fui eu, deixando pra trás uma carreira que estava indo bem, mas deixando as portas da sala do mestre, abertas.

Fui para Nova York e desde que voltei até sua ida a Londres, Washington me prestigiava e pedia vinhos para os inúmeros jantares que ele fazia em sua casa. Pedia para eu harmonizar e mandar coisas boas, muito boas.

De chefe, passou a cliente fiel e amigo, a ponto de pedir minha mala de vinhos emprestada, pois precisava levar alguns vinhos e champanhes especiais para o Rio.

Garrafa de champanhe Taittinger Grand Cru, safra 1985, edição especial, com o design da garrafa assinado por Roy Lichtenstein Arquivo pessoal/André Rossi

Na volta, me entregou a mala, com uma preciosidade dentro: uma garrafa de champanhe Taittinger Grand Cru, safra 1985, edição especial, com o design da garrafa assinado por Roy Lichtenstein. Se estava esperando uma ocasião especial para abrir, agora ficou ainda mais difícil, pois o valor sentimental aumentou demais.

Por último, fica também o aperto no coração em saber que não poderei compartilhar da sua companhia em uma promessa dupla que ele me fez.

Quando fui a Londres para a graduação do meu DIPWSet, no ano passado, calhou da data ser justamente quando ele estaria aqui no Brasil e não poderíamos estar juntos.

Então ele me indicou alguns restaurantes para ir e disse: “Uma pena não estarmos juntos. Fico te devendo um jantar no Milos e no Dinings WS3. E se precisar algo em Londres, me avise. Beijo.”

Vejam bem que a promessa foi de dois jantares e não apenas um. Esse era o W, generosidade em pessoa. Gênio em pessoa. Aquele primeiro que a gente nunca esquece. Aquele que de fato é uma Brastemp.

Vá com Deus, amigo. E obrigado por fazer parte da minha vida de uma forma tão especial. E se hoje estou onde estou no mundo do vinho, você ajudou a me empurrar para isso.

Então continuarei honrando esse empurrão e sempre agradecendo todas as oportunidades que tive em aprender com você em todos os sentidos, menos no futebol, rsrs. Te amo.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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