Os Tintos de Destaque no Descorchados 2023

Continuando meus destaques do Guia Descrochados 2023, agora é a vez de falar um pouco dos tintos que provei e que me chamaram a atenção. Como falei nos textos anteriores, eram muitos vinhos, então é impossível de provar tudo o que gostaria, infelizmente. Mas do que eu provei, temos algumas coisas bem interessantes pra contar.

O primeiro é um velho conhecido meu, mas que nesta safra, está especial: Lagarde Primeras Viñas Malbec Gualtallary 2020. Esse vinho, pra mim, mostra a essência do Vale do Uco, especialmente Gualtallary, região que hoje é a Meca dos viticultores e enólogos, pela grande diferença de solos e terroirs dentro de uma pequena área, o que permite que possam “brincar” com diferentes estilos de vinhos. Falando do Primeras Viñas, esse vinho mostra o lado mineral e floral da Malbec em sua essência, conseguindo traduzir com maestria, o lado elegante e gastronômico da Malbec, fugindo de uma vez por todas, daquele estereótipo alcoólico e cheio de madeira. Um vinhaço!

Depois, para a minha surpresa, um clássico: Lota 2018, da tradicional vinícola Cosiño Macul. Digo que foi uma surpresa para mim, pois sempre achei os vinhos da Cosiño Macul meio pesados e enjoativos, com muita madeira e fruta sobremadura, quase que uma geléia. Feito com Cabernet Sauvignon e Merlot, esse Lota, que é o vinho ícone da vinícola, mostrou que aquele estilo ficou para trás. Com uma acidez linda e uma fruta madura, sem enjoar, ele impressionou pelo equilíbrio e e pela imponência, sem passar do ponto. Um vinho que vai envelhecer muito bem na garrafa, mas que já está uma delícia pra tomar agora.

Falando em clássicos, uma das vinícolas mais conhecidas – e reconhecidas – da argentina, não podia ficar de fora. A Zuccardi levou alguns rótulos consagrados, mas esse Finca Canal Uco 2020 pulou na frente. Também feito 100% com Malbec dos vinhedos de Paraje Altamira, também no Vale do Uco, esse vinho é outro retrato perfeito de seu Terroir. Elaborado em ovos de concreto e sem contato nenhum com madeira, ele ainda está bem novo, com taninos bastante presentes, mas sem incomodar. Sem dúvida um vinho para melhor se aproveitar daqui a pelo menos uns 3 anos, mas já mostrando sua grandiosidade e excelência de um dos melhores enólogos argentinos, o craque e querido Sebastian Zuccardi.

Para mostrar a evolução dos tintos brazucas, fiquei absolutamente maravilhado com um vinho tinto feito por um mestre em... espumantes!!! Adolfo Lona assina um vinhaço, o Baron 2020, que homenageia um vinho que alavancou sua carreira, o Barón de Lantier. Feito com Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat e apenas 5.700 garrafas, parte dele (apenas o Tannat), passa 12 meses em barricas de carvalho francês, o que lhe confere uma deliciosa complexidade e elegância, sem arestas para aparar. Um vinho surpreendente, motivo para nos encher de orgulho e que mostra que sim, podemos fazer ótimos tintos!

Por último, o mais diferente de todos, e com muito simbolismo. Elaborado pela finca Sophenia, uma das vinícolas de destaque no atual cenário argentino, o lançamento Finca Sophenia Anti Synthesys Parcela Rio Seco 2021 traz um corte inusitado: Cabernet Franc e Sauvignon Blanc. Tinta e branca juntas no mesmo vinho. A curiosidade é que elas duas, em um cruzamento, originaram a rainha das uvas tintas, a Cabernet Sauvignon. Mas voltando a falar do vinho, realmente algo intrigante e diferente, ressaltando a acidez da Sauvignon Blanc, que entra com 6% e o corpo e aromas herbáceos e de frutas da Cabernet Franc. Arredondado com 12 meses de barricas de carvalho, o vinho é intenso e delicioso! Uma ousadia deliciosa.

Terminando por aqui os textos sobre o Descorchados, ainda colocarei mais um específico para falar dos surpreendentes vinhos peruanos que provei e gostei muito! Por enquanto, apenas parabenizar Pato Tapia, Edu Milan e Chris Burgos pelo crescimento consistente do Guia, que hoje é, sem dúvida, referência obrigatória para os enófilos que buscam novidades e bons vinhos sul americanos!