Banheiro masculino: 57,7% das 'pichações' são discursos de ódio
Ensaio social realizado no Instagram expôs imagens das mensagens de banheiros masculinos e femininos: elas se apoiam, eles pregam violência
Blog da DB|Do R7 e Deborah Bresser
As paredes dos banheiros se revelam como um espelho do pior que o comportamento masculino é capaz de produzir. O projeto social realizado pelo perfil @banheirodehomem, no Instagram, fez uma análise estatística de 375 fotos, recebidas entre 20 de março e 10 de abril. Os números, infelizmente, não surpreendem: 57,7% das mensagens encontradas em banheiros masculinos são discursos de ódio. 33,8% das pichações envolvem homofobia, 14% ódio a mulheres, sendo que 5,6% deste total envolve agressão a mães.
Já nos banheiros femininos, 66,8% das mensagens foram de apoio e conselhos de vida. O assunto “Sexo” é recorrente nos dois banheiros: aparece 13,81% das vezes no feminino e, 16,26% no dos rapazes. O que muda, de novo, é o teor das mensagens. Enquanto no feminino as mensagens são sobre mulheres terem direito ao próprio corpo, ao empoderamento e a discussões sobre legalização do aborto, no masculino as mensagens estão relacionadas à dominação através de sexo anal, ao falocentrismo, a abusos sexuais e estupros e a comportamentos como se masturbar em locais públicos.
O projeto foi idealizado e realizado pela agência de earned media Soko, responsável pelo reposicionamento da marca de underwear masculina Mash. O objetivo é promover o debate quanto aos esteriótipos do masculino, com especial enfoque nos malefícios da chamada 'masculinidade tóxica'.
Antes de torcer o nariz para mais um jargão feminista, é importante entender do que trata. A masculinidade tóxica nasce dos ensinamentos sobre o que é ou não “coisa de homem”. É aquela que ensina aos homens que mostrar emoção, chorar e se abrir emocionalmente são “fraquezas” e, portanto, devem ser evitados, pois "homem que é homem não chora".
A questão é que esses mitos levam a comportamentos tóxicos que fazem mal para quem é homem, pois eles precisam se enquadrar nesses conceitos, e para quem convive com eles, pois estão aí as bases do machismo e da homofobia, por exemplo.
As paredes dos banheiros só refletem essas premissas, de que a violência é coisa de homem, e ‘emoção, afeto e diálogo”, não. E, no anonimato, o discurso de ódio ganha mais força.
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