Uma mulher em fuga, a grife de moda Dolce & Gabbana e a Sicília de Garibaldi
A fascinante história da propriedade Donnafugata

Prepare-se para uma história que começa no tapete vermelho e termina nas profundezas de um passado rico em lendas e revoluções.
Se você achava que vinho era só vinho, a Donnafugata vai te provar o contrário. Vai muito além: já imaginou a alta costura italiana encontrando os solos vulcânicos da Sicília em uma parceria que é pura arte engarrafada?
Pois a grife Dolce & Gabbana e a vinícola Donnafugata fizeram exatamente isso, criando rótulos que são um verdadeiro espetáculo para os olhos e para o paladar. E mais, por trás do glamour, existe uma trama muito mais profunda, com heróis históricos, mulheres em fuga e um romance que virou clássico da literatura.
Vejam neste Reels abaixo a minha passagem pela vinícola em 2024 - é só clicar neste link aqui ou na imagem abaixo!
Mas, o que sabemos da Donnafugata?
Trata-se de uma vinícola siciliana cujo nome evoca uma história de aventura, arte e paixão pelo vinho - em italiano, Donnafugata significa “mulher em fuga” e é a materialização da visão da família Rallo.
Vindo de uma linhagem com mais de 160 anos de tradição na viticultura, Giacomo Rallo foi o visionário-pioneiro que começou esta jornada. Em 1983, ele e sua esposa, Gabriella, fundaram a propriedade com a missão de transformar a percepção dos vinhos sicilianos.
Gabriella, uma “mulher em fuga” que deixou sua carreira de professora para se dedicar ao vinho, tornou-se uma das precursoras na vinificação de qualidade na Itália.
Ela também foi a responsável por criar a identidade visual da Casa em parceria com o artista Stefano Vitale, incluindo o logo da mulher com os cabelos ao vento, que é um símbolo da vinícola e de sua própria história.

A inspiração para a marca e para os rótulos de Donnafugata vieram de uma lenda local e de uma obra literária muito famosa que já foi traduzida para mais de 20 idiomas.
O palácio-castelo Donnafugata, que inspira a vinícola, tem esse nome por causa de uma suposta “mulher em fuga” que se refugiou lá.
Existem várias lendas deliciosas sobre essa “donna”: a primeira refere-se à rainha Maria Carolina, consorte de Fernando IV de Bourbon, que encontrou refúgio nas colinas de Contessa Entellina; outra diz que a “donna” era a rainha Bianca di Navarra, viúva do rei Martino I D’Aragona, que foi presa por Bernat Cabrera, um senhor da guerra espanhol que queria tomá-la e tornar-se seu rei; há também quem diga que deriva da expressão árabe Ayn as Jafat (“Fonte da Saúde”), que em dialeto siciliano virou “Ronnafuata”, e então Donnafugata. Independentemente da versão, a história de aventura e resiliência ressoa na alma da vinícola.
E, claro, o romance aclamado de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, Il Gattopardo (O Leopardo), que narra a história de uma família aristocrática siciliana do século 19, que se refugia no castelo-palácio de Donnafugata, também serviu de inspiração para a vinícola.
A obra, que aborda a relação entre Angelica Sedàra e Tancredi Falconeri e seu encontro original em um jantar no local, estabelecendo entre eles um jogo de sedução, foi imortalizada no cinema em 1963 pelo genial diretor Luchino Visconti.
Aliás, essa conexão profunda com a literatura se refletiu nos nomes de alguns de seus vinhos mais icônicos:
✅Tancredi: lançado em 1990, foi batizado com o nome de Tancredi Falconeri, o protagonista elegante, apaixonado e, acima de tudo, pragmático de Il Gattopardo. Um blend inovador e muito envolvente feito da uva nativa Nero d’Avola com Cabernet Sauvignon, forjado no caráter apaixonado e elegância do protagonista.
✅Mille una Notte: lançado em 1995, é o vinho emblemático da Casa. Seu nome é uma homenagem à famosa coleção de contos orientais, As Mil e Uma Noites, e seu rótulo representa o Palácio Donnafugata evocando um mundo de magia, mistério e histórias infinitas, reproduzindo as nuances complexas e sedutoras do vinho. Uma joia!
✅Sedàra: homenageia Angelica Sedàra, a ambiciosa, dedicada e belíssima personagem do romance Il Gattopardo que se casa com Tancredi. Acessível e muito gastronômico.
✅Sherazade: a inspiração aqui foi a protagonista das Mil e Uma Noites, Sherazade, cuja voz doce e cativante prende o ouvinte com suas histórias, salvando sua vida noite após noite. É um Nero d’Avola puro.
✅Sul Vulcano: o nome, que significa “no vulcão”, é uma homenagem direta a “A Etna”

Voltando à parceria entre Dolce & Gabbana e Donnafugata, trata-se do lugar onde o luxo encontra a lenda e onde a moda ousada encontra a tradição milenar siciliana!
Explico: em uma colaboração que inflamou o mundo do vinho e da moda, a Donnafugata uniu forças com a icônica Dolce & Gabbana para criar uma linha de vinhos que celebra a alma vibrante da ilha através de rótulos que viraram peças de design colorido e cheios de vida.
Os vinhos dessa coleção especial são verdadeiras joias:
✅Rosa: lançado com a safra 2019, este rosé é uma ode à Sicília, feito com as uvas Nerello Mascalese e Nocera, uma combinação elegante e refrescante, perfeita para um dia ensolarado na ilha.
✅Isolano Etna Bianco: sua 1ª safra foi a de 2019, um branco sofisticado e mineral, nascido das uvas Carricante cultivadas nas encostas do Etna – puro vulcão na taça!
✅Cuordilava Etna Rosso: Também lançado com a safra 2019, este tinto poderoso e elegante de Nerello Mascalese reflete a essência vulcânica do Monte Etna, um vinho com a força de um vulcão adormecido.
✅E para coroar a aliança, uma versão especial do icônico Tancredi de 2016, mas com a assinatura D&G, elevando o blend original a um novo patamar de exclusividade e estilo.
Essa união entre a alta costura e a vitivinicultura é um reflexo do espírito inovador da Donnafugata. Mas para entender a verdadeira essência desses vinhos – e de toda a vinícola – precisamos recuar no tempo, bem antes das passarelas e dos flashes. Um mergulho na trajetória de um herói que colaborou muito para forjar uma nação e que também passou pelo Brasil: Giuseppe Garibaldi.

Para entender a alma da Sicília – e, por extensão, de vinhos como os da Donnafugata – é preciso mergulhar no caldeirão histórico que a moldou. A ilha, antes de ser absorvida pela Itália, era parte do Reino das Duas Sicílias, governado pela Casa de Bourbon. Diferente do norte da península, a ilha mantinha uma identidade própria, com uma aristocracia rural e um sistema social e econômico bastante particular.
E é aqui que entra o valente Garibaldi, cuja vida remete a um testemunho de ideais revolucionários e a uma paixão inabalável pela liberdade, que o levaram de uma ponta a outra do mundo. Conhecido como o “Herói de Dois Mundos”, ele deixou sua marca permanente tanto nas terras sul-americanas quanto em sua pátria, a Itália.
Imagine o cenário: em 1834, após ser condenado à morte em sua terra natal por atividades revolucionárias, Garibaldi embarca em uma jornada épica. Buscando refúgio e oportunidades para continuar sua luta por repúblicas livres, ele desembarca no Brasil e, em 1836, junta-se à Revolução Farroupilha, no sul do país.
Rapidamente, ele se destacou por sua bravura e habilidades navais, tornando-se um dos principais comandantes da marinha Farroupilha. Suas façanhas incluem a tomada de Laguna, em Santa Catarina, e a criação de uma marinha para a República Catarinense.
Foi nesse período, em 1839, que ele conheceu a lendária Anita Garibaldi, que se tornaria sua esposa e companheira inseparável em batalhas. Juntos, eles enfrentaram perigos e privações, consolidando uma das mais célebres histórias de amor e guerra.
A participação de Garibaldi na Revolução Farroupilha durou até 1842, quando, após a derrota das forças republicanas, ele e Anita partiram para o Uruguai, onde continuaria sua luta por ideais de liberdade.
Após uma década na América do Sul, a chama da unificação italiana, o Risorgimento, chamou Garibaldi de volta para casa. Em 1848, ele retornou à Itália, onde foi recebido como um herói.
Sua participação no Risorgimento foi decisiva. Em 1860, ele e seu exército de “Mil” voluntários desembarcaram na Sicília, com o objetivo de conquistar o Reino das Duas Sicílias.
A Expedição dos Mil, com o apoio de voluntários locais, conseguiu derrubar o regime Bourbon e, em um gesto de pragmatismo, Garibaldi reconheceu a autoridade do rei Vítor Emanuel II e entregou o controle do sul, unindo o país sob uma única monarquia.
Mas, como todo bom drama histórico, a “pacificação” da Sicília não foi um processo simples, suave ou imediato. A ilha se viu ligada a um Estado com uma cultura, economia e sistema político muito diferentes.
A transição foi complexa e desafiadora, e as tensões entre o norte e o sul do novo país persistiriam por muito tempo, dando origem a um cenário que influenciou profundamente a história social e cultural da ilha.
Todo este legado siciliano continua através da paixão dos filhos de Giacomo e Gabriella Rallo, José e Antonio, que continuam a produzir vinhos de notável qualidade, recebendo inúmeros prêmios internacionais.
A Donnafugata não é apenas uma vinícola; é uma contadora de histórias, uma guardiã de lendas e uma embaixadora do charme inigualável da Sicília em cada garrafa.

Então, ao brindar com um Donnafugata, seja ele um elegante D&G ou um clássico Mille una Notte, lembre-se: você não está apenas degustando um vinho, mas uma fatia da história, da cultura e do espírito indomável da Sicília, que se estende dos campos de batalha de Garibaldi aos mais requintados salões da alta costura.
Cin Cin 🍷🍷!
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