Barato e prático: pesquisadores criam sensor que detecta agrotóxico em alimentos
Dispositivo é feito de papel kraft e, ao entrar em contato com legumes e verduras, identifica presença de pesticida em instantes. Poderia ser usado pelo consumidor em mercados, quitandas e lojas de alimentos.
É de comer|Camé Moraes @ehdecomer para o R7
Não é de hoje que fugir do consumo de agrotóxicos é uma meta pra mim. Busco sempre comprar produtos frescos, de agricultores familiares que evitam os defensivos agrícolas. Nem sempre é possível. Entre os fornecedores de orgânicos, muitas vezes não encontro um pimentão numa determinada época para uma receita, um kiwi pro café da manhã e até mesmo uma hortaliça pra dar aquele gostinho num preparo especial. Aí, recorro ao varejo comum sem saber a quantidade de veneno que estou levando pra casa. Mas e se fosse possível descobrir, em poucos segundos, se um produto da prateleira tem resíduo de agrotóxico? O que você faria? Eu deixaria de comprar e você?
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um sensor de papel capaz de detectar imediatamente a presença de pesticida em frutas e verduras. Rápido, prático e BARATO! Só falta uma empresa amiga do consumidor abraçar a causa e produzir em larga escala. Conversei com um dos pesquisadores que participaram do projeto, o José Luiz Bott Neto. Ele é autor correspondente do artigo com os resultados da pesquisa e que divulgado na revista Food Chemistry.
Funciona assim: em contato com os legumes, por exemplo, o sensor, ligado a um dispositivo eletrônico, identifica e mede a quantidade do fungicida carbendazim – que é amplamente utilizado no Brasil, apesar de proibido: “O carbendazim, um fungicida utilizado nas plantações de citros e cereais, apesar de ter sido proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), foi selecionado como objeto de estudo devido à sua toxicidade e potencial carcinogênico”, conta Bott Neto.
E fiz a questão de milhões... Quer pagar quanto?
A resposta me impressionou. O custo de produção desse dispositivo é de APENAS cinquenta centavos. E ele ainda poderia ser reutilizado. “O sensor desenvolvido apresenta diversas vantagens em relação aos métodos convencionais para detectar agrotóxicos em alimentos. Seu custo é estimado em apenas R$ 0,50, o que representa uma economia significativa em relação às análises tradicionais, que podem custar em média entre R$ 150 e R$ 200 por amostra”, revela.
Não dá pra entender como um projeto desse ainda não ganhou um financiamento pra ontem. Tem tanta start up que se diz agrocorreta por aí...quando surge algo que pode realmente fazer diferença nos hábitos de consumo, acho que o nosso papel é divulgar. Vem comigo....daria pra dona de casa levar no bolso pro mercado e fazer o teste lá mesmo. É autonomia REAL pra família brasileira:
“Esse sistema é portátil, permitindo que a detecção seja realizada no próprio local, sem a necessidade de coletar a amostra e enviá-la para laboratórios. Atualmente, estamos em busca de parcerias com empresas interessadas em disponibilizá-lo comercialmente”, completa Bott.
O sensor é inédito no Brasil. É composto basicamente por papel kraft (sim, aquele de cartazes) e uma tinta condutora de eletricidade à base de carbono. Um dispositivo eletrônico conectado ao sensor faria a medição do agrotóxico presente no alimento.
“Com a finalidade de prevenir a ingestão do pesticida carbendazim, a dona de casa poderia fazer uso do sensor desenvolvido para averiguar sua presença nos alimentos. Ao conectar o sensor a um dispositivo eletrônico, é possível obter automaticamente a concentração desse agente químico. Destaque-se que o uso de carbendazim é proibido, portanto, qualquer quantidade detectada pelo sensor indica uma irregularidade. Assim, a dona de casa pode identificar com maior segurança os alimentos que representam riscos à saúde e, assim, evitá-los.”
Fica aqui a ideia. Enquanto iniciativas assim não ganharem aplicações práticas, a gente aguarda e reza pro bom senso do produtor rural. Num sistema capitalista como o nosso, dispositivos como esse garantem a auto-regulação do mercado, muitas vezes mais eficaz que as nossas agências de controle sanitário. Me segue lá no meu blog, o @ehdecomer, pra mais ideias e dicas de gastronomia e alimentação saudável.
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