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É de Comer

O que há no indigesto prato do europeu

Relatório direcionado à comunidade internacional destaca ciclo de pobreza e desmatamento no Brasil relacionado ao consumo de produtos exportados para a União Européia.

É de comer|Do R7


Trabalho escravo nos laranjais e pouco suco no Brasil
Trabalho escravo nos laranjais e pouco suco no Brasil

Carne, café, suco de laranja e cacau. Não dá pra fazer uma receita em que tudo isso harmonize muito bem. Mas dá pra fazer uma análise muito bem feita com os impactos ambientais e trabalhistas comuns na produção desses alimentos no Brasil. E eles estão todos no mesmo caldeirão, uma sopa difícil de engolir.

A ONG Repórter Brasil trouxe em detalhes em relatório lançado nessa semana como esses setores do agronegócio estão ligados ao desmatamento de florestas e à exploração de trabalho escravo no país. A ideia é pressionar junto a organismos internacionais, principalmente da Europa, uma mudança no consumo de produtos brasileiros que tenham ligações com práticas criminosas.

O documento destaca que 17% da carne bovina exportada do Brasil para a União Europeia estava ligada a regiões de desmatamento ilegal da Amazônia. Somente Mato Grosso e Pará, em 2017, exportaram 18,9 mil toneladas métricas de carne “contaminadas” por desmatamento ilegal. Há pressão pela preservação da Amazônia, mas comercialmente os que condenam as queimadas das florestas continuam privilegiando produtos que vêm justamente dessas regiões. O preço fala mais alto? Itália, Holanda, Espanha e Alemanha foram as principais importadoras dessa produção rastreada, segundo o relatório.

Vale conferir no relatório a participação dos três principais frigoríficos do país (JBS, Marfrig e Minerva) nesse latifúndio de desmatamento ilegal. Veja aqui.


Dados de desmatamento e produção agrícola
Dados de desmatamento e produção agrícola

A tragédia não é só ambiental. É também humana, no pasto. Mais da metade (51%) dos casos de trabalho escravo flagrados no Brasil nos últimos 25 anos se deu na pecuária, segundo dados do governo federal. Isso contribui para o empobrecimento geral do trabalhador no campo.

Mesmo problema encontrado nos laranjais, cafezais e plantações de cacau. Temos três grandes exportadoras de suco por aqui: Cutrale, Citrosuco e Louis Dreyfus Company (LDC). Em dezembro de 2020, fiscalizações flagraram casos de exploração em propriedades ligadas às empresas que dominam o setor. No caso do café, entre 2017 e 2020, foram 466 libertações. A maioria em Minas Gerais, segundo a comissão pastoral da terra. Sobre o Cacau, as lavouras da Bahia e do Pará, juntas, produzem 95% do fruto colhido no país e nessas regiões há um suposto regime de parcerias, envolvendo núcleos familiares completos no cultivo - o que dificulta os autos de infração. Não é raro flagrar crianças nesse tipo de plantio.


Produção x Exportação
Produção x Exportação

O que fica é um legado de empobrecimento da terra e do ser humano. O suco de laranja exemplifica bem a imoralidade dessas cadeias produtivas (todas seguem essa mesma linha, guardadas as devidas proporções. 98% da bebida produzida no Brasil é vendida para o exterior. Mas os pequenos produtores do setor da laranja ficam com menos de 5% dos valores pagos por essas exportações nas gôndolas dos supermercados de países consumidores ricos.

Vai-se toda nossa riqueza, para os europeus, chineses e americanos consumirem o que produzimos de melhor, às custas do desgaste dos melhores anos de vida dos nossos cidadãos. Mais sobre alimentação sustentável no meu insta, o @ehdecomer.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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