Quando cozinhar significa solidarizar: exemplo que vem do litoral de SP
Chef de cozinha caiçara promove enorme rede de apoio para ajudar as vítimas da tragédia em São Sebastião - SP.
É de comer|Camé Moraes @ehdecomer para o R7
Das ruínas dos morros do litoral norte de São Paulo, surge um sopro de esperança. Enquanto comerciantes locais promovem preços abusivos por alimentos essenciais nos mercados (o Procon-SP relata denúncias de fardos de água que passaram de R$10 para R$40 e macarrão por R$20), cozinheiros locais se mobilizam por aqueles que perderam tudo.
Sob a coordenação do chef Eudes Assis, do Taioba Gastronomia, um mutirão de cozinheiros prepara, durante 12 horas por dia, quentinhas para a população afetada, militares e voluntários que trabalham nas buscas sob os escombros. É um vai e vem bonito de se ver na cozinha do projeto Buscapé, uma ONG do litoral paulista.
Nascido na região, Eudes é o grande nome da culinária caiçara brasileira, do sudeste. Ele trabalhou em mais de 40 países, durante cinco anos, até abrir o próprio negócio, no litoral norte.
O Taioba é um oásis gastronômico no sertão da praia de Camburi. O bolinho que leva o nome do restaurante retrata o uso total dos alimentos e das Plantas alimentícias não-convencionais, as PANCs. Uma delícia. O que dizer da caldeirada de frutos do mar, do arroz de lula com robalo e do peixe azul marinho, então? O pastel de camarão é o melhor que já comi na vida. Tudo muito fresco, executado com maestria pela equipe do Eudes. Um cardápio que respeita o meio ambiente e as sazonalidades - mais uma prova da preocupação com sustentabilidade e com o meio ambiente.
Mas ele não parou por aí. Eudes bem que poderia ter expandido o Taioba pra cidade grande, onde ganharia rios de dinheiro com os excelentes pratos que cozinha (como fizeram alguns outros restaurantes que nasceram na região – de nível gastronômico, inclusive, inferior).
Eudes permaneceu em São Sebastião e se tornou, além de chef-proprietário, um empreendedor social. Emprega e treina em seu restaurante a molecada local e ainda coordena a área de gastronomia da ONG Projeto Buscapé. Por lá, dezenas de chef renomados de todo Brasil estiveram para dar aulas às crianças. Desceram a serra a convite do Eudes nomes como Paula Labaki, Érick Jacquin, Janaína Rueda e Nina Bastos.
O Buscapé, foi criado pela Polícia Militar em 2009 e hoje está sob o comando do Capitão Fabrício Ricardo Paluri Cunha. São atendidas mais de 170 crianças das escolas de bairros da Costa Sul de São Sebastião. Desde 2016, o Projeto tem sede própria, na praia de Boiçucanga - uma das mais atingidas pelas chuvas. A instituição promove, além das aulas de culinária, também a prática esportes e atividades culturais.
O local agora se tornou um grande polo de solidariedade de São Sebastião. Recebe e prepara donativos e através das redes sociais, arrecada verba para os atingidos. Até o fechamento dessa matéria, quase um milhão de reais foi doado. Para saber como ajudar, clique aqui ou acesse o meu insta, o @ehdecomer, que eu vou disponibilizar tb o link na bio.
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