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Makes & Afins

Entenda, ponto a ponto, o que Kendrick Lamar quis dizer em seu show cheio de simbolismo no Super Bowl

Desde Beyoncé lançando ‘Formation’, este foi o show do intervalo mais relevante culturalmente

Makes e Afins|Mariana MorelloOpens in new window

O rapper Kendrick Lamar no intervalo do Super Bowl 59 Reprodução/Instagram/@rocnation

O rapper californiano Kendrick Lamar foi o responsável por comandar a performance mais esperada do ano nos Estados Unidos: o show do intervalo do Super Bowl 59. O jogo entre Philadelphia Eagles e Kansas City Chiefs, que aconteceu na noite deste domingo (9), em Nova Orleans, e terminou com a vitória dos Birds em um “massacre” inacreditável, também foi palco de uma apresentação política e socialmente relevante. Ouso dizer que, desde Beyoncé lançando Formation no mesmo evento e lembrando o mundo de quem ela é, este é o show do intervalo mais culturalmente relevante da história.

Kendrick entrou em campo sob muita especulação sobre o tom da sua apresentação, visto que o artista está envolvido em uma polêmica com o canadense Drake (ambos artistas se atacaram publicamente em músicas após o primeiro golpe de Lamar, em 2024). O teor político das músicas do artista também era um ponto de incômodo para a NFL (Liga Nacional de Futebol), ainda mais com o cenário político e social norte-americano, após a vitória de Donald Trump na corrida presidencial.

Para a felicidade de muitos, Lamar superou as expectativas e entregou um show cheio de simbolismo (e política). Podemos dividir a performance do rapper em duas partes. De um lado, Kendrick foi fiel à sua disputa com Drake e continuou jogando as últimas pás de terra no caixão do canadense. Por outro, o cantor aproveitou a presença inédita do presidente dos EUA no estádio Caesars Superdome e mandou seu recado.

Entenda todas as referências usadas pelo rapper:


Estados Unidos racista e dividido

Após dois tempos dos Eagles reinando sobre os Chiefs, chegou a hora de Kendrick Lamar mostrar para que veio. E foi exatamente isso que ele fez. Apresentando-se em um palco que imitava um console de jogo, o rapper usou sua plataforma para enviar diversas mensagens políticas ao público.

Veja todas abaixo:


Samuel L. Jackson como “Tio Sam”

O público foi pego de surpresa com um Samuel L. Jackson como o simbólico “Tio Sam” (personificação nacional dos Estados Unidos) apresentando o que seria o “Grande Jogo Americano”, conceito explorado durante todo o show.

Ator Samuel L. Jackson interpretou a figura do "Tio Sam" Reprodução/Instagram/@rocnation

O “Grande Jogo Americano”

Aqui o jogo de Kendrick não é mais sobre futebol americano, mas, sim, sobre como o governo espera que a população — principalmente as minorias — aja: comportada e quieta.


Começa a revolução

O primeiro recado claro do rapper é: “A revolução está prestes a ser televisionada, vocês escolheram a hora certa, mas o cara errado”. Com essa fala, Kendrick mostra que não é um personagem que vai jogar conforme as regras e ser conivente. Ele vai contra o que o governo quer.

Corpo de dança

O show começa e o rapper passa a dividir palco com um grupo de dançarinos majoritariamente preto, vestido com as cores vermelho, branco e azul, as mesmas da bandeira norte-americana. Todos então dançam ao som de Squabble Up. O termo tem vários significados, incluindo se preparar para lutar ou discutir, ou para dançar.

Um recado do “Tio Sam”

Após a “festa”, Samuel L. Jackson aparece novamente em cena, desta vez com uma advertência. “Muito barulhento, muito irresponsável, muito ghetto. Senhor Lamar, você sabe mesmo jogar o jogo?”, questiona reforçando que esse comportamento vai contra as regras do “jogo americano”.

Estados Unidos dividido

Após a advertência, Kendrick Lamar toca Humble, com o refrão “Sente-se e seja humilde”, referindo-se ao que o governo espera que ele faça. Durante a música, os dançarinos formam a bandeira dos EUA, mas um detalhe chama a atenção. O símbolo aparece rachado ao meio. Para muitos, a representação mostra uma América dividida, que se esqueceu que o país foi construído nas costas dos povos indígenas colonizados e dos escravos africanos.

O rapper reproduziu a bandeira norte-americana em campo Reprodução/@NFL

“Menos uma vida”

Mesmo com o alerta, Kendrick não diminui o tom da sua performance e é penalizado por isso. Tio Sam “retira uma vida” do jogador.

Agradável e calmo

Com a penalização, o rapper avisa que vai desacelerar o ritmo, ou seja, voltar a jogar conforme as regras. Com a apresentação de duas músicas mais tranquilas, Tio Sam volta com um elogio a Kendrick, dizendo que é isso que a América quer, ele “agradável e calmo”.

40 acres e uma mula

Debatendo se quebra, ou não, mais regras do jogo, Kendrick reflete com o ditado “40 acres e uma mula. Isso é maior que a música”. A frase representa a promessa feita ao povo escravizado norte-americano ao fim da Guerra Civil Americana, que aconteceu entre 1861 e 1865 (a proposta era prover terras e recursos para ajudá-los a se tornar financeiramente independentes. Porém, após a morte do presidente [Abraham] Lincoln [presidente responsável pela libertação dos escravos em 1863] a determinação foi revogada, e as terras devolvidas, aos antigos “donos de escravos”).

Internautas estão analisando a fala como um lembrete de que o governo mente para a população e que não pode ser confiado.

“Eles não são como nós”

Depois de resistir durante o show todo e tentar “se comportar”, Kendrick manda seu recado final com o sucesso “Not Like Us”. Kendrick ir contra as orientações (quebrando mais uma regra) e ser fiel a si, mesmo sabendo que isso vai diretamente contra o que é exigido de alguém como ele, que deve ser controlado e conivente, também é um ato revolucionário por si só.

O Rei da West Coast x O Rei de Toronto: Round Final

Agora chegamos a segunda (e última) parte da apresentação. Kendrick coloca as críticas sociopolíticas de lado e passa a atacar seu inimigo artístico, o rapper canadense Drake, com o ‘Not Like Us’. No hit, Lamar acusa Drake de pedofilia e de ser um aproveitador. Em resposta, o canadense entrou com um processo de difamação, ação que gerou uma especulação de uma possível proibição da performance da música em TV aberta.

Porém, Kendrick não só tocou a música como atacou o colega de várias outras formas durante a noite.

“A menor”

Lamar apareceu em campo usando um cordão com um ‘a’ minúsculo, que representa a nota “lá menor” que, em inglês, se escreve “a minor”, reforçando o trocadilho feito na faixa, visto que “a minor” também pode significar “um menor de idade”, reiterando as acusações de pedofilia.

Serena Williams

A aparição da jogadora de tênis é mais um aceno a Drake, visto que os dois supostamente namoraram em 2011 e o rapper após ser rejeitado atacou a atleta publicamente diversas vezes. Na letra da música, Kendrick já havia passado o recado (ou ameaça?): “Melhor não falar sobre a Serena.”

Porém, como a tenista surge fazendo a “crip walk” (uma espécia de passo de dança comum da gangue Crips dos EUA), mesmo passo que ela foi muito criticada por reproduzir durante uma comemoração em Wimbledon, o convite pode ter sido uma homenagem a outra jogadora que quebrou as regras do “jogo americano”.

Fim de Jogo

Depois de cantar a música responsável pela queda astronômica na relevância do canadense, Kendrick finaliza com “TV Off”, mandando os espectadores desligarem suas TVs e afirmando que o jogo acabou para Drake.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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