Marca queridinha das famosas no Ano-Novo faz moda com propósito; conheça o Projeto Ponto Firme
Celebridades como Juliette, Camila Queiroz e Lívia Marques ostentaram as peças que misturam crochê e paetês
Makes e Afins|Mariana Morello e Mariana Morello

Arte e sociedade sempre andaram de mãos dadas, muitas vezes uma sendo reflexo da outra. Porém, de uns tempos para cá, os caminhos têm se distanciado — ou ficando mais exclusivos. Na contramão, existem artistas, como o estilista Gustavo Silvestre, que faz moda com propósito e atua proporcionando uma transformação social com o Projeto Ponto Firme, que ensina crochê para egressos do sistema prisional e pessoas em vulnerabilidade social.
Neste fim de 2023, celebridades como Juliette, Camila Queiroz, Silvia Braz, Lívia Marques e Marina Morena ostentaram peças da última coleção da marca desfilada em dezembro — em um evento no terraço do Edifício Copan, no centro de São Paulo.
Os vestidos apresentados na "passarela" misturam a técnica do crochê com paetês e pedrarias ressignificado e até peças recicladas. Conversei com Gustavo Silvestre nos bastidores pós-desfile e ele contou um pouco da história do Ponto Firme e da inspiração por trás das criações.
O PROJETO PONTO FIRME
Tudo começou com agulha e linha, em 2015, em uma penitenciária masculina na região metropolitana de São Paulo. "[O projeto] nasceu com o intuito de levar uma atividade, uma terapia ocupacional para dentro da penitenciária, além de uma formação profissional aos detentos", explica.
Gustavo conta que encara o crochê e as artes manuais como uma técnica que gera renda e melhora a condição de vida das pessoas que a utilizam. Então, dentro desse cenário, enxergou que o crochê poderia trazer um grande benefício aos encarcerados.
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"Descobri que era um ambiente muito fértil para o crochê, porque lá dentro os caras têm muito tempo livre, não tem absolutamente nenhuma atividade, não tem política pública que incentive esse tipo de curso dentro da penitenciária e nem fora."

Foi, aí, que o artesão entendeu que a técnica poderia ser uma ferramenta de transformação social e o projeto saiu do papel.
Porém, logo uma questão importante foi observada. O artesão percebeu que a parte mais crítica da realidade é quando o preso conquista a liberdade. Mesmo com os conhecimentos adquiridos, não há muitas oportunidades de trabalhos.
Com isso, o projeto foi ampliado e passou a existir também fora da penitenciária, não só ensinando, como empregando alguns dos alunos. "Além dos detentos e egressos, a gente também recebe pessoas em vulnerabilidade social, pessoas trans e imigrantes, por exemplo", conta.
"Eles não têm como entrar no mercado e, aí, acabam reincidindo no crime. Um em cada quatro detentos reincide no crime. É um número muito alto. E, para completar, o Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo", observa.
Pelas oficinas já passaram mais de 160 alunos e, atualmente, o projeto trabalha com uma equipe de 15 pessoas.
ÚLTIMA COLEÇÃO DESFILADA
As peças apresentadas por Gustavo no final de 2023 são a continuação de uma colaboração com o estilista Kevin Germanier, que também deu origem à coleção 'Supreme', apresentada na Paris Fashion Week.
Silvestre explica que, para montar a edição Primavera/Verão 2024 do projeto, trouxe resíduos do ateliê de Germanier, além de paetês feitos com material reciclado. "O plástico é todo recortado, pintado à mão e transformado em paetês. Eles são completamente exclusivos, inventados por mim e dentro das oficinas do projeto".

A peça mais trabalhosa da coleção demorou 200 horas de trabalho manual para ser produzida. "Depende muito da quantidade de artesão que a gente coloca envolvida em um projeto", explica.
CROCHÊ VEM DE FAMÍLIA
Gustavo Silvestre conta que aprendeu a fazer crochê observando as mulheres da família produzindo peças com a técnica.
"Aquela memória ficou guardada em algum lugar e bastou eu fazer uma aula que aprendi. E essa aula soltou toda essa vontade, essa criatividade que estava represada dentro de mim", relembra.
MODA COM PROPÓSITO
Gustavo ressalta desde o começo a importância de inserir as mais diversas pessoas no processo de produção e divulgação das peças, mudando, assim, a visão do mundo da moda como algo elitista e excludente.
"A moda já excluiu demais, já poluiu demais, né? Eu acho que está na hora da gente repensar ela como um todo, de incluir e puxar as pessoas para perto, para fazer parte desse sistema que é tão grande e que pode beneficiar muitas pessoas. Então, eu acho que a gente usa o projeto para isso, para falar que podemos cruzar esses mundos, esses universos e que todo mundo faz parte", finaliza.