Barcelona pretende atrair turistas mais conscientes com novo modelo de turismo sustentável

Barcelona voltou a chamar a atenção do mundo em 2025 pelo seu fluxo turístico extraordinário. Não somos nós que o dizemos, mas sim o relatório anual “A Year in Travel” da plataforma de viagens eDreams Odigeo, um dos grandes termômetros da indústria turística, que apontou a capital catalã como a cidade mais visitada do mundo neste ano. A pesquisa destaca o número recorde de visitantes internacionais que procuram a cidade, consolidando Barcelona como um destino urbano de referência global.

Esse reconhecimento ocorre em um momento em que a cidade vem implementando políticas de turismo sustentável, equilibrando a chegada de turistas com a qualidade de vida dos moradores e incentivando experiências mais conscientes. Barcelona, conhecida por seu patrimônio cultural e arquitetônico, também se destaca na gastronomia: o restaurante Disfrutar foi recentemente eleito um dos melhores do mundo, com três estrelas Michelin, combinando tradição mediterrânea e inovação culinária, e se tornou um ícone da cena gastronômica global.

A combinação entre alta densidade turística e excelência gastronômica reforça a posição de Barcelona como um destino que oferece experiências culturais, históricas e culinárias de nível internacional, consolidando seu prestígio mundial em 2025.

A Catalunha, região no nordeste da Espanha que abriga Barcelona, Costa Brava, Tarragona e os Pireneus, deu nesta quinta-feira (11) um passo decisivo rumo ao turismo do futuro. Na monumental Sala Oval do Museu Nacional de Arte da Catalunha (MNAC), em Barcelona, mais de 600 profissionais dos setores turístico, econômico e cultural se reuniram para a apresentação do plano “(+) Catalunha, melhor turismo”, documento que irá nortear a promoção internacional do destino até 2028. O evento marcou também as celebrações dos 40 anos da Agência Catalã de Turismo, responsável por levar a imagem da região ao mundo e que, em 2025, planeja participar de 40 feiras internacionais.

Poucos destinos no mundo vivem hoje o desafio de equilibrar o fluxo crescente de visitantes com a qualidade de vida dos moradores como Barcelona. A cidade, uma das mais visitadas da Europa, tornou-se laboratório de políticas que buscam um modelo mais sustentável, consciente e descentralizado. O novo plano apresentado pelo governo reforça exatamente isso: uma Catalunha que valoriza o território, a cultura, a natureza e, sobretudo, os residentes, que passam a ocupar papel central nas decisões relacionadas ao turismo.

O presidente da Generalitat, Salvador Illa Roca, destacou que a próxima etapa será guiada por sustentabilidade, dessazonalização e colaboração entre poder público, iniciativa privada e comunidades locais, abrindo espaço para um turismo mais humano e de impacto positivo. Duas mesas-redondas reuniram vozes influentes dos setores de gastronomia, tecnologia, economia e hotelaria, defendendo que diálogo e cocriação são essenciais para enfrentar os desafios globais do setor.

Os desafios e transformações do turismo catalão

Entre os temas mais debatidos no evento, esteve a gestão de visitantes em grandes cidades e a necessidade de equilibrar turismo e moradia, assunto especialmente sensível em Barcelona. Nesse contexto, ganha destaque a recente política que prevê o fim dos aluguéis turísticos de curta duração, como os oferecidos pelo Airbnb, até 2028. A medida, segundo representantes institucionais, busca mitigar impactos na habitação e reorganizar o fluxo de turistas de maneira mais sustentável e distribuída pelo território.

O diretor do escritório da Agência Catalã de Turismo para a América do Sul, Jordi Solé, que representa a instituição desde São Paulo, ressaltou que os 40 anos celebrados representam uma trajetória de referência internacional. Segundo ele, o evento homenageia diretores, trabalhadores e todos que ajudaram a transformar a Catalunha em um dos destinos mais estudados do mundo no que diz respeito à gestão turística. “Celebramos a trajetória do turismo catalão. É uma homenagem aos diretores, aos trabalhadores e a todos que continuam atuando. A Catalunha é referência não apenas na Espanha ou na Europa, mas mundialmente. Trabalhamos sustentabilidade e gestão de visitantes, fundamentais para uma cidade como Barcelona, uma capital global com desafios como o preço da moradia. As políticas aplicadas hoje buscam justamente equilibrar esses fatores”, afirmou.

Sobre a nova política municipal que prevê o fim dos aluguéis turísticos de curta duração, como os do Airbnb, até 2028, Solés explicou que a medida faz parte de um plano mais amplo de gestão urbana: “Grandes cidades enfrentam desafios similares. Barcelona está buscando garantir que o turismo siga sendo positivo para quem vive aqui.”

Representantes de diferentes áreas também reforçaram que o futuro passa necessariamente por responsabilidade social, regeneração ambiental e impacto positivo. A hoteleira Cristina Cabañas, presidenta do grupo Guitart Hotels, destacou a importância de práticas contínuas como plástico zero, uniformes recicláveis e integração com as comunidades. Já Mireia Font, proprietária da Casa Leonardo, nos Pireneus, enfatizou a necessidade de comunicação clara com os visitantes: “O turismo precisa trabalhar diversas frentes – mobilidade, cultura, natureza. Os indicadores não podem ser apenas números, e sim melhorias reais para as gerações futuras.” Para Josep Santacreu, presidente da Câmara de Comércio de Barcelona, a construção dessa nova realidade depende de uma forte parceria público-privada.

Durante o coquetel, os convidados foram recebidos com alguns dos sabores mais simbólicos da Catalunha. Cavas das marcas Vilanau e Codorníu, vinhos de regiões como Penedès, Empordà, Priorat e Pla de Bages e produtos artesanais como o arroz do Delta de l’Ebre e a manteiga de l’Alt Urgell i la Cerdanya compuseram o menu, que também incluiu clássicos como canelones de carne, arroz com mariscos, salada com bacalhau e a tradicional crema catalana.

O clima foi de celebração, mas também de compromisso: o entendimento de que o turismo que a Catalunha projeta para os próximos anos busca qualidade, equilíbrio e um visitante mais consciente, uma mensagem que dialoga diretamente com o mercado brasileiro, historicamente apaixonado pelo destino.

Como profissional do turismo, eu, Gisele Rodrigues, que tenho uma agência de receptivo, a We Love Espanha, voltada para brasileiros na Espanha, sinto-me também parte dessa responsabilidade. Trabalhar diretamente com visitantes brasileiros me coloca na linha de frente para promover um turismo consciente, equilibrando a experiência dos turistas com o respeito à cidade, às comunidades locais e às políticas de sustentabilidade implementadas em Barcelona. É um compromisso que reflete não apenas a valorização da cultura e da gastronomia local, mas também a preocupação com o impacto positivo que cada visitante pode deixar.

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