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Calábria surpreendente: sul da Itália começa a revelar seus vinhos

Entre mares, história milenar e uvas autóctones, a região mais enigmática da Itália vive um momento decisivo

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LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA

  • A Calábria, região do sul da Itália, começa a se destacar na vitivinicultura após muito tempo fora do radar.
  • A história vitivinícola da Calábria remonta à Magna Grécia, com vinhos de Cirò oferecidos aos atletas das Olimpíadas antigas.
  • A Gaglioppo é a uva autóctone mais emblemática, essencial para a produção de vinhos elegantes e gastronômicos.
  • Cirò foi elevada à Denominação de Origem Controlada e Garantida (DOCG), confirmando a Calábria como um importante produtor de vinhos.

Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

Vinicola Librand, em Cirò, Calabria Cynthia Malacarne/Arquivo pessoal

Por muito tempo, a Calábria permaneceu fora do radar do grande público do vinho. Extremo sul da Itália, espremida entre os mares Jônico e Tirreno, a região sempre foi celebrada por sua beleza quase selvagem, suas praias de águas transparentes, vilarejos suspensos entre montanhas e mar, e uma culinária intensa, marcada por azeites potentes, pimentas, embutidos artesanais e peixes fresquíssimos.

O que poucos sabiam, ou começavam apenas a intuir, é que esse mesmo território guarda uma das histórias vitivinícolas mais antigas e fascinantes do Mediterrâneo.


A viticultura na Calábria remonta à Magna Grécia. Foram os gregos, há mais de dois milênios, que trouxeram as primeiras videiras e transformaram o vinho em parte essencial da cultura local.

Não por acaso, acredita-se que os vinhos de Cirò eram oferecidos aos atletas vencedores dos Jogos Olímpicos da Antiguidade. Uma herança simbólica poderosa, que hoje começa a ganhar novo significado.


Um território extremo, vinhos singulares

Diferentes cores e expressões dos vinhos da Calabria, na Itália Cynthia Malacarne/Arquivo pessoal

A Calábria é uma região de contrastes. Vinhedos plantados próximos ao mar convivem com áreas de altitude, solos argilosos, calcários e arenosos, e um clima marcado por sol abundante, ventos constantes e grande amplitude térmica em algumas zonas. Essas condições favorecem vinhos de identidade muito própria, sobretudo quando elaborados a partir das uvas autóctones locais.

Entre elas, a Gaglioppo reina absoluta. Casta tinta emblemática da região, é a base dos grandes vinhos de Cirò. Trata-se de uma uva de casca fina, taninos presentes, acidez surpreendente para um território tão solar, e uma expressão aromática que privilegia fruta fresca, cereja, framboesa, romã, além de notas florais, ervas mediterrâneas e um fundo levemente salino.


Quando bem interpretada, entrega vinhos elegantes, diretos, gastronômicos e com excelente capacidade de envelhecimento.

Outras variedades merecem atenção, como a Magliocco, que gera tintos mais estruturados e profundos; e, entre as brancas, a Greco Bianco, capaz de produzir vinhos frescos, minerais e de grande personalidade, especialmente nas áreas mais próximas ao mar.


Cirò: a primeira DOCG da Calábria

O grande marco recente da vitivinicultura calabresa é a elevação de Cirò ao status de DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida), tornando-se a primeira da região.

O reconhecimento oficial do Cirò Classico DOCG, amplamente celebrado pela imprensa especializada italiana, representa não apenas um avanço técnico, mas também simbólico: é a confirmação de que a Calábria entrou definitivamente no mapa dos grandes vinhos italianos.

Cirò é, sem dúvida, a apelação mais importante da região. Localizada na província de Crotone, às margens do Mar Jônico, concentra produtores históricos e uma nova geração de vinhateiros que aposta cada vez mais na identidade local, na valorização das uvas autóctones e em práticas de vinificação mais respeitosas ao território.

Surprising Calabria: uma imersão no novo momento da região

A convite da revista e jornal Cronache di Gusto, participei recentemente da press trip Surprising Calabria, uma experiência que me levou a conhecer de perto esse novo momento da viticultura local, com foco especial na região de Cirò.

Ao longo da viagem, tive a oportunidade de provar vinhos de diferentes produtores e estilos, o que permitiu uma visão bastante clara da diversidade, e do potencial, da Calábria hoje.

'AVita Vini, seleção de vinhos. Cynthia Malacarne/Arquivo pessoal

Entre os produtores que mais me chamaram a atenção está a A Vita Vignaioli, referência em Cirò quando se fala em mínima intervenção. Seus vinhos expressam com precisão o caráter da Gaglioppo, com fermentações espontâneas, uso comedido de madeira (ou nenhuma) e um respeito absoluto pela matéria-prima e pelo território.

Luigi e seus vinhos da vinicola Brigante Vigneti e Cantina

Outro destaque foi a Cantina Brigante Vigneti & Cantina, onde Luigi Brigante trabalha de forma muito sensível as variedades autóctones. Seus vinhos da linha Zero, elaborados sem adição de sulfitos, mostram pureza e frescor impressionantes.

Já o Etefe Rosso Cirò, 100% Gaglioppo, é um exemplo claro de elegância e autenticidade — e merece atenção especial do consumidor brasileiro, já que está disponível no país por meio do importador Massimo Ferrari, sob o selo Felice e Maria.

Susy Ceraudo, com seus vinhos da vinicola Ceraudo

A Ceraudo, vinícola histórica e respeitada, também merece menção. Seus vinhos, como Dattilo e Nanà, mostram uma Calábria refinada, com excelente equilíbrio entre tradição e precisão técnica.

Vinicola Librandi, seleção de vinhos

Impossível falar de Cirò sem citar a Librandi, uma das grandes pioneiras da região e responsável por levar o nome da Calábria para além das fronteiras italianas. O Duca Sanfelice, rótulo emblemático da casa, é um clássico moderno e está presente no Brasil através da importadora Mistral, sendo muitas vezes a porta de entrada do consumidor brasileiro aos vinhos calabreses.

L'Arciglione di Cataldo Calabetta

Por fim, vale destacar a L’Arciglione di Cataldo Calabretta, projeto profundamente ligado à tradição local, conhecido por vinhos de perfil mais austero e autêntico, como seu Cirò Riserva, que traduz com fidelidade o potencial de guarda da Gaglioppo.

Um futuro promissor, com identidade em construção

O balanço geral da experiência é extremamente positivo. A Calábria possui um potencial vitivinícola enorme, especialmente quando falamos dos vinhos elaborados com a Gaglioppo. São tintos que dialogam perfeitamente com o que o consumidor contemporâneo busca: frescor, fruta nítida, menor teor alcoólico e grande versatilidade à mesa.

Ao mesmo tempo, é perceptível que a região ainda vive um momento de experimentação. Os estilos variam bastante entre os produtores, alguns apostam em vinificações mais tradicionais, outros em abordagens naturais, e há quem ainda busque referências mais internacionais.

Essa diversidade, longe de ser um problema, faz parte de um processo natural de amadurecimento. A sensação é que a Calábria está, passo a passo, encontrando uma linguagem própria, cada vez mais conectada às suas uvas, ao seu clima e à sua história milenar.

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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