Maturano Bianco: a uva rara que renasce no Lácio e chega a Teresópolis
Uma variedade autóctone do Lácio, quase perdida no tempo, renasce em Picinisco e ganha novo lar nas serras de Teresópolis

No interior verdejante do Lácio, na província de Frosinone, Itália, uma variedade de uva quase perdida volta a ganhar protagonismo. Seu nome é Maturano Bianco, uma cepa rara, inscrita oficialmente apenas em 2009 no Registro Nacional das Variedades de Vite da Itália, mas cuja história remonta a séculos de cultivo no Vale de Comino.
A vinícola I Ciacca, estabelecida nesta região, sob consultoria do renomado enólogo Alberto Antonini, decidiu apostar todas as fichas nessa uva autóctone. Foram plantados 5 hectares exclusivamente de Maturano Bianco, em um solo virgem onde nunca se utilizou química agrícola. O resultado é um vinhedo conduzido de forma orgânica, onde o maior desafio é o míldio, controlado apenas com produtos biológicos.
Uma uva peculiar e sem parentes
Estudos genéticos confirmaram que o Maturano Bianco não possui parentes conhecidos entre as cerca de 3.000 variedades catalogadas no mundo, reforçando sua unicidade e vínculo profundo com o território frusinate. De maturação tardia, apresenta cachos médios, bagas arredondadas e sabor neutro, que se transforma em vinhos de surpreendente frescor, acidez vibrante e notas minerais.

Quatro estilos, uma mesma alma
Na adega, a filosofia é de mínima intervenção: fermentações espontâneas, sem adição de leveduras selecionadas, e uso mínimo de sulfuroso. Dessa forma, a vinícola expressa a autenticidade da uva em quatro estilos distintos.
- Nostalgia: vinho delicado, sem contato com as cascas, fresco e elegante.
- Sotto le Stelle: breve maceração com as cascas, resultando em mais corpo e textura.
- Filosofia: fermentado com cascas e engaços por até 10 meses, intenso e complexo.
- L’Essenza: uvas passificadas por até seis meses, maturadas em carvalho francês por quatro anos, um vinho raro e de longa guarda.


A minha experiência na taça
Degustei todos os vinhos produzidos pela I Ciacca e confesso que fiquei impressionada. São vinhos pouco aromáticos no nariz, mas extremamente complexos em boca, revelando camadas de sabores e texturas que se desdobram a cada gole. Percebi que o Maturano Bianco é uma variedade com grande potencial de guarda: suas melhores características se manifestam verdadeiramente depois de alguns anos em garrafa.

Do Lácio para a Serra Fluminense
A história ganha ainda mais charme com uma conexão inesperada. No Brasil, a Vinícola Maturano, de Teresópolis (RJ), leva este nome por ser o sobrenome da família fundadora. Ao descobrirem que existia, na Itália, uma variedade de uva com o mesmo nome, não hesitaram em atravessar o oceano para conhecer a I Ciacca.
O encontro foi tão marcante que decidiram levar mudas do Maturano Bianco para sua propriedade. Em breve, os amantes de vinho poderão provar o primeiro Maturano Bianco vinificado em solo brasileiro.

O futuro de uma uva redescoberta
O Maturano Bianco pode até ter ficado esquecido por décadas, mas hoje se apresenta como uma das variedades mais intrigantes da Itália, com potencial de atrair enófilos em busca de autenticidade. Seja entre as montanhas do Vale de Comino, seja nas serras de Teresópolis, essa uva rara promete escrever uma nova página na história do vinho.
Quem diria que uma variedade quase perdida no coração do Lácio poderia encontrar um segundo lar do outro lado do Atlântico?
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