O mar como adega: o que acontece quando vinhos passam 12 meses submersos?
Como a profundidade do oceano altera a maturação do vinho
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Envelhecer vinhos no fundo do mar pode soar como provocação, estratégia de marketing ou ousadia enológica, mas tem atraído cada vez mais interesse entre enólogos, pesquisadores e produtores que buscam compreender como ambientes não convencionais podem influenciar a maturação.
Recentemente, participei de um evento realizado pela vinícola Carputo, instalada na região vulcânica de Campi Flegrei, na Campânia, que reuniu jornalistas e profissionais da área do vinho para apresentar um projeto singular: degustar vinhos que passaram doze meses submersos entre quarenta e sessenta metros de profundidade no Golfo de Nápoles, ao lado do icônico Castello dell’Ovo, e compará-los às versões da mesma safra envelhecidas de forma tradicional em adega.
A experiência surgiu inicialmente como uma ação comemorativa pelos trinta anos da vinícola. No entanto, os resultados foram tão consistentes que os proprietários já avaliam ampliar o experimento para outros rótulos.
O processo de imersão e monitoramento das garrafas foi realizado em parceria com a Cantina Megaride, empresa especializada nesse tipo de operação, que garante rastreabilidade, segurança e acompanhamento técnico durante todo o período subaquático.
Segundo o professor e pesquisador Domenico Fulgione, do Departamento de Biologia, da Universidade Federico II, presente no evento: o ambiente marinho profundo reúne condições impossíveis de reproduzir integralmente na adega, como temperatura naturalmente estável, ausência total de luz, pressão elevada e constante, micro oxigenação e um entorno rico em vida microscópica.
Biólogos que estudam o Golfo de Nápoles destacam ainda a presença de organismos marinhos muito antigos, o que torna essa área biologicamente singular. A combinação desses fatores parece influenciar diretamente a velocidade de evolução e a integração sensorial de determinados estilos de vinho.
As garrafas, após 12 meses submersas, retornam à superfície cobertas por incrustações marinhas, uma assinatura natural do período passado no fundo do mar.
Para o projeto, dois rótulos foram escolhidos. O primeiro, um espumante elaborado com a variedade de uva branca Falanghina safra 2021, método tradicional e mantido trinta meses sobre borras. O segundo, um tinto composto pelas uvas Aglianico e Piedirosso, safra 2020.
A degustação comparativa iniciou-se pelo espumante que permaneceu na adega, que exibiu uma bolha mais agressiva, maior intensidade aromática e um perfil de acidez e salinidade acentuados.
Na sequência, provamos a versão submersa, que apresentava uma bolha mais cremosa, textura mais arredondada, salinidade sutil e uma persistência mais longa, um espumante que transmitia a sensação de maturidade ligeiramente superior, sem perder frescor, com perfil mais gastronômico.
Nos tintos, o contraste foi ainda mais evidente. O exemplar que passou pelo processo de maturação em adega apresentou taninos rústicos, por vezes mais agressivos, além de fruta fresca bem marcada e um claro potencial de guarda.
Embora já pudesse ser apreciado naquele momento, era nítido que alguns anos adicionais de envelhecimento realçariam ainda mais sua estrutura e complexidade.
Já o vinho que passou um ano no fundo do mar revelou aromas mais integrados, fruta de madura e taninos macios, a impressão era de um vinho que havia evoluído alguns anos, mesmo tendo permanecido o mesmo período que a outra garrafa, apenas em ambientes diferentes.
O projeto da Carputo não busca competir com práticas tradicionais de envelhecimento. Ele amplia o debate sobre como o ambiente pode atuar como agente modulador na evolução do vinho.
O mar, com sua estabilidade térmica e pressão natural, surge como uma espécie de “adega alternativa”, revelando caminhos sensoriais até então pouco explorados. Não se trata de moda passageira ou de truque comercial, mas de uma área de estudo que começa a atrair a atenção de pesquisadores e profissionais do setor.
A experiência em Nápoles também deixa claro que ainda há um campo amplo para investigação. Estudos adicionais, assim como análises químicas e físicas mais detalhadas desses vinhos submersos, serão essenciais para compreender plenamente os mecanismos envolvidos nesse tipo de envelhecimento.
O que já se pode afirmar, no entanto, é que a imersão no mar provoca alterações sensoriais reais e mensuráveis, e que esse fenômeno merece ser observado com a mesma atenção dedicada às grandes evoluções do mundo do vinho.
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