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Cirurgia bariátrica: é para você?

Menos de 1% das pessoas que poderiam se beneficiar fazem o procedimento

Obesidade sem Tabu|Mariana VerdelhoOpens in new window

Preconceito em torno da obesidade ainda atrapalha a realização de cirurgias bariátricas Freepik/@freepik

Eu nunca me imaginei fazendo uma bariátrica, até porque na minha cabeça, este tipo de procedimento era indicado para pessoas mórbidas, como as que a gente vê na série Quilos Mortais.

Mas não é bem assim, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em 2023 foram realizadas 80.441 cirurgias bariátricas, sendo que 8.239.871 milhões de pessoas teriam indicação.

Afinal, por que o procedimento é realizado em uma parcela tão pequena dos obesos?

“Ainda há muito preconceito em torno da obesidade. De entender que ela é uma doença crônica, assim como tantas outras doenças. Que não é uma escolha, não é por preguiça ou falta de vontade. A partir do momento que a sociedade médica e geral entenderem e encararem a doença como algo grave e de difícil tratamento, a cirurgia bariátrica será vista como mais um procedimento para o tratamento desta doença”, explica a cirurgiã bariátrica Dr.ᵃ Carina Fernandes.


Atualmente as indicações para a cirurgia são para os pacientes portadores de Obesidade com grau de IMC acima de 40, ou aqueles com IMC acima de 35 com comorbidades (doenças agravadas ou desencadeadas pela obesidade) há pelo menos 2 anos com falha no tratamento clínico.

Então, a bariátrica era indicada para mim, afinal, o meu IMC era 35,08 e junto dele uma fascite plantar, com tendinite crônica no calcâneo e esporão no pé esquerdo. Lesões que me impediam de treinar e sair deste cenário em que estava. Eu já havia tentando diversos tratamentos sem sucesso.


Foi quando decidi procurar um médico para saber mais da cirurgia. Primeiro fui em uma clínica que apelidei de “fast food” de bariátrica. Ela aceita vários convênios e você é um número, funciona tudo meio que em um processo de larga escala. O atendimento não me pareceu acolhedor. Pelo menos, a viagem não foi perdida, pois saí de lá com vários pedidos de exames.

Fui fazendo os exames e procurando outros profissionais ao mesmo tempo. Fui em alguns médicos até chegar na Dr.ᵃ Carina Fernandes, profissional muito acolhedora e empática.


Ela conta que escolheu este ofício porque o acha fascinante em diversos aspectos: “Lidamos com sonhos e grandes mudanças em pacientes portadores de uma doença muitas vezes vista com estigmas e preconceitos. Fazer parte deste processo e acompanhar seus resultados foram grandes fatores de decisão na escolha de minha carreira”.

Eu e a Dra. Carina Fernandes 13 dias após a realização da gastrectomia vertical. Tinha emagrecido 7kg. Arquivo pessoal

Quando ela analisou meus exames, constatamos que eu tinha muito mais comorbidades do que imaginávamos. Eu tinha apneia do sono, gordura no fígado, asma — que me acompanha desde a infância — e uma insulina mais alta do que o normal. Índices que me garantiam a cobertura do plano de saúde para realização deste procedimento.

Bom, eu já sabia que estava apta, mas qual tipo de bariátrica seria o mais indicado para mim? Como decidir?

Existem diversas técnicas que podemos utilizar para a realização da gastroplastia, porém as mais comuns no Brasil são o Bypass Gástrico e a Gastrectomia Vertical, também chamada de sleeve.

“A técnica que o paciente irá realizar irá depender de sua individualidade: isto é, ela é definida de acordo com seus exames, seu IMC, se há doenças associadas, ou até mesmo pelo desejo do paciente”, explica Dr.ᵃ Carina. Nós decidimos que eu iria fazer a sleeve.

Entenda a diferença:

Bypass Gástrico (Gastric Bypass)

O que é feito: O estômago é reduzido a uma pequena bolsa (de ~30ml) e ligado diretamente ao intestino delgado, “desviando” parte do estômago e do intestino.

Como funciona: Reduz a quantidade de comida que a pessoa consegue ingerir.

Diminui a absorção de calorias e nutrientes, já que parte do intestino é pulada.

Vantagens: Grande perda de peso e melhora rápida de diabete tipo 2 e outras comorbidades.

Desvantagens: Cirurgia mais complexa, risco maior de deficiências nutricionais e pode causar “dumping syndrome” (mal-estar após comer açúcar/carboidratos).

Gastrectomia Vertical (Sleeve)

O que é feito: Cerca de 80% do estômago é removido, deixando um tubo estreito.

Como funciona: Reduz a capacidade do estômago e diminui a produção do hormônio da fome (grelina).

Vantagens: técnica mais simples do que a Bypass e menor risco de deficiências nutricionais.

Desvantagens: pode causar refluxo em algumas pessoas.

As duas técnicas mais comuns de cirurgia bariátrica IA

Os riscos da cirurgia bariátrica atualmente são muito baixos, comparáveis ao risco de uma cirurgia de vesícula, por exemplo, oscilando entre 0,1-0,3% dos casos.

É uma técnica bastante segura, ainda mais com o advento de tecnologias, como a cirurgia minimamente invasiva.

“As principais complicações, embora muito raras, podem ser bastante graves: sangramentos e fístulas, até complicações pulmonares como pneumonia e embolia pulmonar. Por isso, importante uma equipe preparada e especializada para realizar seu procedimento”, relata Dr.ᵃ Carina.

Fazer uma bariátrica não é como fazer uma cirurgia qualquer, e olha que eu já tinha feito seis. Você precisa estar preparada para esta mudança. O seu psicológico precisa estar muito fortalecido, pois não é fácil você mutilar seu corpo, sim, tirei parte do meu estômago, sem ser um caso de vida ou morte.

 Além disso, dois dias antes da cirurgia você come e bebe normalmente, depois passa por processo alimentar muito restrito e precisa reaprender até a tomar água.

Não é um procedimento para amadores. É preciso trabalhar muito a resiliência, o foco e disciplina, coisas, muitas vezes, difíceis na vida de um paciente obeso.

Dr.ᵃ Carina ressalta que equipe multidisciplinar é de fundamental importância para aqueles que pretendem realizar a cirurgia bariátrica.

“Ao nutricionista, cabe avaliar os hábitos alimentares do paciente e suas dificuldades, além de já o orientar em relação à dieta do pós-operatório e sua evolução. A equipe da psicologia busca trazer ao paciente uma maior percepção de obesidade como doença crônica, entender e ressignificar certos gatilhos que possam estar relacionados ao caso e até orientar ao paciente seu papel de protagonista em seu tratamento”, explica.

 Um dos maiores temores de quem pensa em fazer a bariátrica é a dieta líquida que precisa ser seguida a risca. Por duas ou três semanas, depende da orientação de cada profissional, você só se alimenta de líquido, são 50ml, um copo descartável de café, a cada 20 minutos.

A sopa, na verdade, é uma água salgada. Você precisa ter muito foco, porque apesar de, muitas vezes, você estar em casa se recuperando, o mundo não para ao seu redor. A sua família continua comendo e vivendo numa boa. O meu medo de comer algo sem querer era tanto que eu entrava na cozinha de máscara, para poder preparar as refeições do meu filho.

Depois da fase líquida vem a pastosa, a branda, a de alimentos em pedaços, até chegar na geral, que eu acabo de entrar. Hoje posso comer quase todos os alimentos e me permitir “sair da dieta” uma refeição por semana. Afinal, faz parte do tratamento se sentir inserido na sociedade, o que também implica em frequentar festas, sair para jantar e tudo mais.

De tudo que li até fazer a minha cirurgia, eu vi que existe uma fase de “lua de mel” da bariátrica que te faz perder peso com uma agilidade por até dois anos. Mas é preciso manter o foco, afinal, a cirurgia bariátrica não é a cura da obesidade, e sim uma excelente ferramenta no tratamento e controle da doença.

“Essa doença poderá ter momentos de maior ou menor controle, tal como qualquer doença crônica, como a hipertensão e o diabete, por exemplo. Cabe ao paciente ter a consciência do tratamento multifatorial da obesidade e sempre fazer seu acompanhamento médico e multidisciplinar”, completa Dr.ᵃ Carina.

Estou nos 40 dias pós-cirurgia, já passei pela fase mais desafiadora, e emagreci pouco mais de 10% do meu peso inicial. A média de perda de peso após a cirurgia bariátrica oscila entre 30 a 40% do peso inicial do paciente, lembrando-se que muito além do peso da balança, o foco também é direcionado a melhora das doenças associadas, qualidade e expectativa de vida.

Hoje vejo o rosto mais fino no espelho, minhas roupas mais largas, sinto mais facilidade para me levantar, mais disposição, meu sono está muito melhor. Mas mais do que tudo isso, eu sinto mais força, mais garra e me sinto muito mais poderosa.

Me lembro que quando completei 14 dias de dieta líquida liguei chorando para minha irmã e disse: “Depois disso, eu posso tudo que eu quiser. Tenho uma força que eu nem achava possível ter”.

Se você estiver pensando em fazer a cirurgia, fica a dica da Dr.ᵃ Carina:

- Procure uma equipe especializada em Cirurgia Bariátrica afiliada a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), com uma equipe multidisciplinar coesa e especialista no tratamento cirúrgico da obesidade.

 - Busque informação! Um exemplo é o PodBari, um podcast que tenho a honra de fazer parte com outras duas colegas também cirurgiãs bariátricas, cujo objetivo é levar mais informação para os pacientes que pensam ou que já realizaram o procedimento.

 

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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