Eu me chamo Mariana Lasso Verdelho, tenho 40 anos e sou obesa. Ufa! Que libertador poder falar isso. Mas não foi fácil reconhecer e aceitar que eu sofro dessa doença.Cresci ouvindo frases relacionadas ao meu corpo, que só pessoas magras tinham sucesso na vida, que só pessoas magras teriam namorado, que quem era magro era mais feliz e mais uma infinidade de coisas atribuídas a quem tinha o corpo esguio. E olha que eu não era obesa, era apenas uma criança com sobrepeso e uma barriguinha mais protuberante.O mais maluco disso tudo é que, na escola, nunca me chamaram de rolha de poço, baleia, boneco Michelin — ofensas comuns na época. Os comentários sobre o meu corpo e sobre como ser magro era a melhor coisa do mundo vinham de adultos. E é aí que mora o perigo: os adultos têm um poder gigantesco sobre a cabeça das crianças.Assim cresci, sempre achando que minha barriga era grande demais, que nenhum menino iria se interessar por mim, que eu não iria namorar, que não seria valorizada e respeitada. Passei a adolescência carregando esse peso, que não era físico — era mental. Tinha insônia pensando em que roupa usaria no dia seguinte, afinal, não poderia parecer gorda.Veio a faculdade de Jornalismo e o desejo de trabalhar na TV. Mas será que eu era magra o suficiente para apresentar o jornal da faculdade? Eu tinha 1,68 m e pesava 65 kg, não parecia “em condições”. Mas… e se eu emagrecesse? E foi aí que meu transtorno alimentar começou.Procurei um médico que receitava drogas pesadas para emagrecer. Passei a tomar Anfepramona duas vezes ao dia, além de uma fórmula cheia de ansiolíticos e antidepressivos.Em dois meses, emagreci 20 kg e cheguei aos 45 kg. Eu fiquei muito magra, tive queda de cabelo e chegaram a pensar que eu estava usando drogas ilícitas. Eu não comia mais, mas quando suspendia o uso do remédio por 72 horas, para poder beber bebida alcoólica, eu me alimentava só de besteiras.Até que tive que fazer uma cirurgia no nariz e o médico disse que eu precisaria pesar, pelo menos, 55 kg. Tinha pouco tempo para engordar, então passei a comer coisas ainda mais erradas. Cheguei no peso que ele pediu, mas sem nenhum acompanhamento psicológico ou nutricional.Depois desse episódio, nunca mais consegui emagrecer sem uso de remédios. E passei a engordar só de pensar em comida. O meu metabolismo ficou extremamente lento. Foram anos e anos experimentando todos os medicamentos que ajudavam a emagrecer. Mas eu ainda não tinha me tornado obesa — era apenas sobrepeso.Em 2017, quando fui me casar, fiz um super acompanhamento nutricional, passei a treinar, mas também tomava remédio. No ano seguinte, aos 34 anos, parei com tudo ao mesmo tempo.Em 2019, eu já era obesa. Não percebi o quão rápido ganhei peso. Nem via que estava cada vez maior. Até achava ruim, porque não encontrava as roupas que queria, mas, no começo, fui me aceitando.Engravidei em 2020 com o meu peso máximo, fiz uma dieta rigorosa durante a gestação e, na semana em que ele nasceu, eu pesava o mesmo peso máximo. Não engordei nenhum quilo.Então, logo após o nascimento dele, fiquei 7 kg mais magra. Era a hora de virar o jogo e voltar a ser sobrepeso. Tinha certeza de que, amamentando, eu conseguiria.Aí veio o 7x1: não consegui amamentar. E essa frustração mexeu tanto, mas tanto comigo, que voltei ao meu peso máximo. Foram 3 anos tentando emagrecer, tomando remédio, fazendo e parando academia e dieta. Experimentei o famoso Ozempic, mas nada dava resultado de fato.Até que, no dia da minha festa de 40 anos, conheci uma maquiadora, com o mesmo corpo que o meu, que tinha feito bariátrica pelo SUS. Pensei: se ela fez pelo SUS, é porque ela era obesa. Mas e eu? Será que eu também era obesa? Afinal, sempre tinha sido sobrepeso. E aí minha ficha caiu: EU ERA OBESA TAMBÉM!Confesso que era muito mais fácil me assumir obesa para desconhecidos, mas, aos poucos, fui criando coragem e falando para minha família, meu marido e meus amigos.Você não tem ideia de quantas vezes já pensei em falar sobre o assunto, sobre moda plus size, mas nunca me vinha a coragem de me expor e quebrar esse tabu.Precisei acolher a Mariana criança para conseguir aceitar que sofro de obesidade — uma doença crônica, complexa e multifatorial. Não é simplesmente uma questão estética ou de “comer demais”, e muito menos sinal de desleixo. A obesidade envolve fatores genéticos, hormonais, metabólicos, psicológicos, sociais e ambientais.E foi aí que decidi fazer a cirurgia bariátrica — assunto para um próximo post!Para saber tudo do mundo dos famosos, siga o canal de entretenimento do R7, o portal de notícias d a Record, no WhatsApp