Por que tantos homens ainda demoram a cuidar da obesidade?
Dados mostram crescimento entre os homens que ainda buscam ajuda tarde demais
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Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

A frase “Obesidade masculina cresce, mas cuidado ainda chega tarde demais”, que vi em um post nas redes sociais, me fez refletir. Talvez porque, de certa forma, sempre houve uma aceitação maior de corpos masculinos com sobrepeso — frequentemente associados à ideia de força, sucesso ou maturidade. Ou talvez porque nós, mulheres, somos tão cobradas esteticamente desde muito cedo. Quantas vezes me senti julgada por ter obesidade e meu marido, não. Já ouvi: “Seu marido vai acabar te trocando, você precisa emagrecer.” Mas juro que não consigo imaginar um homem com obesidade ouvir a mesma frase.
Os homens são incentivados a mostrar força e autocontrole, o que colabora para que o impacto emocional da obesidade seja vivido de forma diferente entre os gêneros. Mas é claro que o sofrimento masculino precisa ser reconhecido e acolhido. Percebo que muitos homens buscam cuidado após as mulheres terem começado uma rotina de treinos e a seguir um plano alimentar.

Segundo a presidente e cofundadora do Instituto Obesidade Brasil, Andrea Levy, os homens, em geral, procuram menos cuidados de saúde do que as mulheres. “Felizmente isso vem mudando positivamente, mas diversos fatores podem influenciar: estresse, ansiedade, dificuldades emocionais não expressas, alimentação como forma de compensação afetiva, sono irregular e excesso de trabalho”, explica. Além disso, pressões culturais sobre a masculinidade — como a ideia de “aguentar firme”, “não demonstrar fragilidade” ou até o medo de passar por exames — fazem com que muitos homens evitem buscar apoio emocional, o que pode agravar desequilíbrios de comportamento alimentar, completa.
Essa resistência cultural faz com que os homens demorem mais para reconhecer a obesidade como uma condição de saúde e adiem a busca por tratamento, procurando ajuda apenas quando surgem complicações clínicas. “O estigma gera vergonha, isolamento e baixa autoestima, o que pode reduzir a motivação para o autocuidado. Muitos homens internalizam a ideia de que deveriam ‘resolver sozinhos’ ou ‘ter mais força de vontade’, o que aprofunda sentimentos de inadequação e impede o acesso a redes de apoio ou tratamentos adequados.“, explica.
Assim como nas mulheres, a obesidade nos homens pode vir acompanhada de ansiedade, depressão, compulsão alimentar, dificuldades de socialização e queda da autoestima. A insatisfação corporal e o preconceito social podem gerar retraimento e dificultar o enfrentamento da própria imagem. Além disso, as limitações físicas que a obesidade traz podem agravar questões emocionais e de saúde mental.
A resistência em procurar ajuda muitas vezes vem de construções culturais que associam o cuidado emocional à fraqueza. Falta de informação sobre o papel do profissional de saúde mental e medo do julgamento também são barreiras importantes. “É essencial normalizar o cuidado emocional como parte do tratamento integral da obesidade. Além disso o paciente deve saber que não é tolerável sofrer preconceito por causa do seu peso, principalmente de profissionais de saúde. A obesidade não é uma escolha e a pessoa com obesidade pode e deve se posicionar contra esse tipo de postura”, reforça Andrea.
A escuta acolhedora e sem julgamento é fundamental. Grupos de apoio, psicoterapia, tratamento psiquiátrico e acompanhamento integrado com outros profissionais tendem a melhorar a adesão ao tratamento. Trabalhar autoestima, aceitação corporal e estratégias para lidar com recaídas também faz parte do processo. “É importante que o paciente seja compreendido em suas dores e acompanhado por profissionais especializados e sensíveis ao tema”, acrescenta Andrea.
Expressões que romantizam o excesso de peso ou associam corpos grandes à força e ao bom humor mascaram sinais de alerta e atrasam o diagnóstico. A ideia de que ‘estar bem’ é o mesmo que ‘parecer forte’ impede que muitos homens percebam a obesidade como doença crônica.
“Promover educação alimentar sem restrição excessiva, incentivar o autoconhecimento e a escuta do corpo, reduzir comparações e valorizar práticas de autocuidado. Não estimular que pessoas façam comentários depreciativos sobre outros corpos também é um fator importante. Atividades físicas prazerosas, alimentação consciente e suporte emocional são pilares fundamentais”, reforça Andrea.
Os dados mais recentes do Vigitel e da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que, embora a obesidade ainda seja mais prevalente entre as mulheres, o crescimento é mais rápido entre os homens. Isso indica que eles ainda buscam menos acompanhamento e demoram mais para cuidar da própria saúde — o que reforça a urgência de políticas públicas e campanhas voltadas ao cuidado precoce e sem estigma.
A obesidade é uma doença complexa, mas tratável. Cuidar do corpo e da saúde vai muito além da aparência. É um ato de coragem, de amor e de compromisso com a própria vida. Atividade física, alimentação equilibrada e acompanhamento médico são cuidados que todos merecem — inclusive quem vive com obesidade.
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