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Papo de Paciente

'O médico me deu seis meses de vida. Já se passaram nove anos'

Ninguém espera ouvir que a vida pode estar prestes a acabar. Muito menos antes dos 30 anos, como foi com Anna Carolina. Mas estar à beira do penhasco também pode ser um impulso para criar asas

Papo de Paciente|Marcela Varasquim e Marcela Varasquim


Anna Carolina descobriu câncer em estágio avançado há nove anos
Anna Carolina descobriu câncer em estágio avançado há nove anos

Anna Carolina tinha 29 anos, trabalhava com comércio exterior e estava prestes a tirar férias. Namorava Diego havia um ano — um relacionamento recente que, em breve, iria do encanto ao medo. Eles ainda não sabiam, mas em poucos dias teriam que abandonar grandes planos, desarrumar malas e aquietar sorrisos. A vida exigiria deles coragem para escalar um muro alto, sem ao menos terem tempo suficiente para fortalecer os músculos.

Faltava um mês para viajarem juntos, pela primeira vez, para a Europa. Anna sentia dores fortes na coluna e procurou um médico na esperança de resolver o problema antes do embarque. Não seria nada grave. Ela era uma mulher jovem, que mal pegava resfriados, e passava longe de hospitais — até descobrir que poucos segundos podem virar do avesso uma história de vida. O resultado da ressonância mostrou que as dores eram tudo o que Anna não imaginava: um câncer em estágio avançado.

"Você está à beira de um penhasco."

Não foi de um dia para o outro que Anna deixou de ser saudável para se tornar paciente paliativa. O corpo já havia dado sinais, que não pareceram relevantes ao médico. Em outubro de 2013, ela havia procurado um profissional após sentir um caroço no seio enquanto tomava banho. O doutor acreditou que fosse um nódulo benigno — como é o caso da maioria dos nódulos que aparecem nas mulheres. Nunca pediu uma investigação detalhada e achou melhor apenas analisar o comportamento do intruso ao longo do ano. Quando Anna descobriu que estava com câncer, a doença já havia saído da mama e atingido os ossos e o fígado.


Foi a primeira vez que Anna abriu um laudo e deu de cara com uma doença grave. Só não desconfiou que, daquele dia em diante, faria uma viagem nada programada por uma estrada difícil, de destino incerto. Seus pais e namorado foram alertados pelo médico de que ela teria apenas seis meses de vida se não respondesse rapidamente ao tratamento. A mulher que dias antes pisava em terra firme precisou ter coragem para ouvir em uma consulta que “estava à beira de um penhasco”, sem perder o equilíbrio.

Nove anos depois


É setembro de 2023. Nove anos se passaram desde que Anna se agarrou ao primeiro galho que viu pela frente, para não cair. Ela desarruma as malas e veste um casaco para se proteger do mau tempo. Durante toda a noite havia chovido forte, mas Anna já tinha anotado uma das inúmeras lições dadas a quem esteve diante de abismos: nenhum vento do lado de fora destrói sonhos que moram no coração.

Anna chama Diego, que agora é seu marido. Os dois caminham depressa, debaixo de um céu nublado. Querem sentir de perto a força das quedas-d’água que formam as Cataratas do Iguaçu. É uma pena que o tempo não ajude a deixar a experiência mais bonita, mas nem mesmo uma paisagem cinza é feia quando os olhos sorriem para a vida.


Foram nove anos mergulhando em recomeços e aprendendo a respirar nas profundezas. Inúmeras quimioterapias, radioterapias, medicamentos. Quando os seis primeiros meses se passaram, Anna não apenas estava viva como nasceu mais uma vez. Seu corpo reagiu bem aos tratamentos. Em algumas situações, a doença voltou. Mas em todas as outras, quem voltou foi Anna — mais forte. Desde 2019, ela está sem sinais de câncer no corpo. Os médicos chamam esse estágio de remissão. Mas ela dá o nome de milagre.

A viagem para a Europa foi feita, assim como tantas outras. Nenhum sonho fica para trás, mesmo quando a previsão é de chuva. Anna e Diego se aproximam das cataratas, o céu percebe que chegaram e se abre para mostrar o sol. Os raios do sol se alegram ao vê-los gratos e abraçam as gotas de chuva para dar à luz um arco-íris. O dia, que minutos atrás estava escondido debaixo das nuvens, se levanta para exibir uma paisagem deslumbrante. Anna é a prova — mais que viva — de que, quando uma porta se fecha, uma janela se abre. E dela pode entrar muita luz.

Siga @fevereirorosa para se inspirar com Anna Carolina.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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