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Ícone do rap desabafa: "Estou vivo e quero ser reconhecido agora" 

No início dos anos 80, Frankie Bruno fez sucesso com o grupo Black Juniors, mas agora ele reclama da falta de oportunidades para voltar ao mercado

Música|Daniel Vaughan, do R7

Frankie Bruno procura uma gravadora para lançar o CD solo
Frankie Bruno procura uma gravadora para lançar o CD solo Frankie Bruno procura uma gravadora para lançar o CD solo

"Quero ser reconhecido agora! Não deixem para me homenagear só depois que eu morrer." Assim, começa a conversa com o cantor Frankie Bruno, de 47 anos, em pleno centro de São Paulo. A frase impactante de Frankie é um desabafo sobre a falta de oportunidades que ele encontra para trabalhar, apesar de ser considerado um ícone do rap.

No início dos anos 80, Frankie Bruno fez parte dos Black Juniors, quarteto musical formado por jovens irmãos da zona sul da periferia paulistana. Dançando break e rimando frases ingênuas, eles se tornaram um dos percussores do hip hop brasileiro, que estava começando naquele momento. Porém, a fama repentina da banda terminou de forma trágica, após dois integrantes serem assassinados.

"Superei muitos traumas e sigo em frente com minha arte. O que seria da minha vida sem a música%3F

(Frankie Bruno)

Recuperado dos traumas do passado, Frankie voltou a cantar e agora procura uma gravadora para lançar o CD solo, Frankie Bruno Pra Geral.

— Estou muito bem, mas é difícil retornar ao mercado, pois existe "panelinha" no meio artístico. E, com o passar dos anos, o brasileiro esquece com facilidade dos artistas.

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Para saber mais sobre a trajetória de Frankie Bruno, a reportagem encontrou o compositor na Praça da Colméia, no metrô São Bento, um dos berços do hip hop. Vestido à carater, de agasalho esportivo chamativo, e cabelos com tranças azuis, ele mal conseguiu relaxar para começar a entrevista para o R7. Muito simpático e hiperativo, o artista deu um giro no local relembrando cenas históricas do início do rap na capital paulista.

Frankie Bruno relembra os tempos de break no centro de São Paulo
Frankie Bruno relembra os tempos de break no centro de São Paulo Frankie Bruno relembra os tempos de break no centro de São Paulo

Com o artista sendo uma espécie de "guia musical" de São Paulo, seguimos para o viaduto Santa Ifigênia, ao lado. Derrepente, o entrevistado pega a reportagem de surpresa.

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Rapidamente, o MC saca do bolso uma caixinha de som bluetooth e capta algo do celular. Secando o suor do rosto, ele grita para o fotógrafo do R7, no melhor estilo diretor de clipes, enquanto prepara a pose de astro.

— Liga a câmera aí, irmão! A gente fazia assim lá na Europa. Dá play, grava e já era...

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De improviso, correndo de um lado para o outro no meio do povão, Frankie começa a cantar em cima da base musical. Enquanto isso, o repórter segura o miniamplificador na mão, perseguindo o colega de equipe. Assim, Frankie canta Break Nas Ruas, faixa do primeiro LP dos Black Juniors, de 1984 (veja abaixo).

Com o clipe caseiro devidamente registrado para o R7, o cantor volta ao bate papo com um longo sorriso no rosto. Ele diz que está retomando a carreira musical e coleciona projetos para o futuro.

— Tenho histórias que dariam um filme emocionante sobre a família Black Juniors. O livro já está pronto, trazendo minhas memórias e depoimentos importantes de músicos, produtores e fãs. E, assim como meu CD, só falta patrocínio para chegar às lojas. Meu sonho é lançar tudo isso.

Frankie Bruno é um dos percussores do hip hop
Frankie Bruno é um dos percussores do hip hop Frankie Bruno é um dos percussores do hip hop

Sucesso na feira

Em 1983, Adilson, Francisco (Frankie), Laércio e Roberto foram descobertos em uma feira no Bixiga, na zona oeste da capital paulista. Como é comum na profissão, os vendedores mirins improvisavam rimas animadas para promover as frutas da barraca. Mas a desenvoltura musical dos irmãos ia além dos outros comerciantes. Eles também eram dançarinos e davam uma espécie de pocket show por ali.

Capa do disco de estreia do grupo Black Juniors, em 1984
Capa do disco de estreia do grupo Black Juniors, em 1984 Capa do disco de estreia do grupo Black Juniors, em 1984

Dessa forma, a molecada entre 11 e 15 anos acabou chamando a atenção de outro precursor no hip hop, Nelson Triunfo. O dançarino apadrinhou os meninos, sendo coreógrafo do grupo, ainda chamado de Funk Juniors. Nelson relembra o início.

— Eu criava as coreografias e as roupas deles. Rolava muito James Brown na vitrola e passos de dança no meu apartamento, mas sempre tinha reclamações dos vizinhos. (risos) E, mesmo sem cobrar nada, eles levavam caixas de frutas para mim. (risos)

Com os meninos arrasando nas ruas e festas, Nelson também pressentiu que o sucesso dos adolescentes poderia ir além das exibições.

— O grupo chegou no intervalo entre o soul e o hip hop no Brasil. Nessa época, os bailes black estavam diminuindo e o rap começando a acontecer. Os Black Juniors chegaram dentro dessa história, que é muito verdadeira.

Devido ao sucesso na América do Sul, a banda gravou em espanhol
Devido ao sucesso na América do Sul, a banda gravou em espanhol Devido ao sucesso na América do Sul, a banda gravou em espanhol

Depois do professor de dança e estilo, o quarteto acabou encontrando outro mestre pelo caminho. O DJ, produtor e compositor Mister Sam, conhecido por lançar a cantora Gretchen, trabalhava na época na RGE (hoje, Som Livre) quando se deparou com o quarteto pelos corredores da gravadora.

— O chefe de divulgação apareceu com uns moleques que cantavam e dançavam na feira. Por coincidência, o diretor Hélio Costa Manso havia chegado da Midem (feira mundial de negócios da indústria fonográfica), na França, dizendo que o break estava na moda. Fui para casa, dormi e acordei às 4h com a melodia de Mas Que Linda Estás na cabeça. Escrevi a música e comecei a compor material para o que poderia ser um grupo.

Sempre de olho nas tendências de época, o argentino Mister Sam acertou em cheio ao fundar os Black Juniors com os irmãos. 

— Chamei eles e mostrei o que havia composto. Apesar deles estarem acostumados mais a dublar, aceitaram o desafio de aprender a cantar meio falado, como o rap. Como resultado, Mas Que Linda Estás foi um estouro! (ouça abaixo) Eles tinham muito carisma.

Frankie relembra do sucesso repentino, que transformou os quatro feirantes em popstars.

— Vendemos mais de 1 milhão de cópias, viajamos pelo Brasil, além de Argentina e Espanha. Tocamos em todos os lugares que você imagina e até gravamos em espanhol. Foi uma loucura!

O LP de estreia produzido por Mister Sam, foi gravado em 1984, impulsionado pelo hit. O álbum é considerado um dos primeiros trabalhos com elementos do que viria a ser o rap nacional. Estão ali, canções que traduzem o estilo urbano como Hey Disc-Jockey, Break nas Ruas, além de Mas Que Linda Estás.

"Depois do sucesso%2C algumas pessoas passaram a nos olhar de forma diferente. A inveja é uma desgraça"

(Frankie Bruno)

Tragédia

A banda original durou cerca de cinco anos. E com o dinheiro do sucesso, os garotos compraram de presente para os pais à tão sonhada casa na periferia do Campo Limpo, na zona sul. Nos anos 90, tudo ainda corria as mil maravilhas até acontecer uma tragédia, como lamenta Frankie.

— Depois do sucesso, algumas pessoas passaram a nos olhar de forma diferente. A inveja é a desgraça do mundo! Para piorar a situação, invadiram nossa casa achando que iriam encontrar muito dinheiro e um disco de ouro que, na visão dos ladrões, era muito valioso. No dia, o criminoso matou meu pai e meus dois irmãos.

Frankie Bruno faz shows pelo País cantando músicas solo e hits do Black Juniors
Frankie Bruno faz shows pelo País cantando músicas solo e hits do Black Juniors Frankie Bruno faz shows pelo País cantando músicas solo e hits do Black Juniors

No roubo, o Black Juniors perdeu Laércio, que estava à frente do grupo, e o irmão feirante Luís Paulo. E, dias depois, outro integrante da banda, Adilson, foi assassinado em uma espécie de emboscada.

A banda terminou de forma dramática. Roberto desistiu da música por desgosto. E, com o tempo, Frankie tentou voltar à ativa para superar o trauma. Sozinho, ele reformou o grupo, lançando trabalhos como New Black Juniors. 

— Meu irmão sobrevivente não queria saber de mais nada. Então, fui cantar com outros integrantes, mas não era a mesma coisa. Não rolou.

Superação

Sem sucesso com a banda nova, na década de 90, Frankie procurou trabalhar em diversas áreas artísticas. Foi ator de teatro, TV (Turma do Gueto, da RecordTV) e cantou jingles para comerciais.

O artista também foi tentar a sorte na Europa e Estados Unidos. Na gringa, atuou como dançarino, integrando o elenco de uma Ópera Rap, além de ser professor de street dance. Porém, quando voltou ao Brasil nos anos 2000, enfrentou o anonimato.

— Fui lançando trabalhos musicais independentes, mas era impossível entrar no mercado. Todo mundo achava que eu tinha morrido! Infelizmente, em nosso País, os artistas caem rapidamente no esquecimento.

Frankie Bruno: "Estou vivo e quero ser reconhecido agora"
Frankie Bruno: "Estou vivo e quero ser reconhecido agora" Frankie Bruno: "Estou vivo e quero ser reconhecido agora"

E, pior do que isso, o cantor entrou em depressão depois de tomar um golpe do empresário.

— O cara fugiu com todo meu dinheiro para fora do País, em vez de investir na minha carreira aqui. Então, mais uma vez, comecei do zero.

"É difícil retornar ao mercado%2C pois existe `panelinha´ no meio artístico"

(Frankie Bruno)

Mesmo assim, o compositor leva tudo na esportiva e diz que continua firme e forte.

— Olha, já sobrevivi a tudo quanto é coisa! Foram facadas, atropelamentos, falcatruas... apesar de nunca ter me metido em crime e drogas, minha vida foi assim.

Atualmente, Frankie Bruno está solteiro e mora com a família (incluindo, Roberto, ex-integrante dos Black Juniors). Ele é professor de dança no bairro e, orgulhoso, fala que é cuidador do filho cadeirante, de 19 anos, que "um dia será cineasta".

O compositor também é um dos membros do Hip Hop All Stars, projeto capitaneado pelo DJ Hélio Branco, que reúne os principais pioneiros do rap nacional.

Frankie Bruno é cantor, dançarino e ator
Frankie Bruno é cantor, dançarino e ator Frankie Bruno é cantor, dançarino e ator

Apesar de reclamar da falta de espaço, o cantor ainda tem muita esperança de mostrar seu trabalho. Com o CD solo Frankie Bruno Prá Geral gravado, ele só espera a chance de lançá-lo no mercado. E, enquanto o disco não chega às plataformas, Frankie percorre o País fazendo shows que, claro, trazem no repertório o eterno hit juvenil Mas Que Linda Estás.

— Hoje, superei muitos problemas e sigo em frente com minha arte. O que seria da minha vida sem música? Para meus fãs famosos, eu digo que não basta apenas elogiar o passado dos Black Juniors, eu preciso de uma chance para mostrar que estou ativo. E para quem achava que eu estava derrotado, só digo: "Estou vivo e forte!"

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