Circo da mídia transformou o caso de Depp e Amber em um espetáculo sem vencedores
Qualquer que fosse a sentença do júri, a vida dos dois já estaria comprometida pela exposição devastadora nas redes sociais
Entretenimento|Marco Antonio Araujo, do R7
Chegou ao fim o julgamento em que Johnny Depp processava a ex-mulher, a também atriz Amber Heard, por difamação. O Tribunal do Condado de Fairfax, no estado americano da Virgínia, foi salomônico. Ambos foram condenados a arcar com indenizações milionárias, já que o júri, de forma sábia, entendeu que houve um fogo cruzado de difamações.
Amber terá de pagar US$ 15 milhões a Depp por causa de um texto opinativo publicado no Washington Post, em dezembro de 2018, no qual ela dá um depoimentio pessoal sobre abusos domésticos sofridos, sem se referir diretamente ao ex-marido. Ele, por sua vez, terá que desembolsar US$ 2 milhões.
O caso teve ampla repercussão, natural por envolver um dos maiores astros do cinema mundial. E rendeu inflamadas polêmicas desde o início, com a balança da opinião pública pendendo majoritariamente para o ator: o tribunal das redes sociais foi implacável com Amber, que de declarada vítima de abuso e violência doméstica se viu alçada ao papel de vilã.
Foram seis semanas de batalha campal. O caso envolve os milhões de dólares em indenizações, além da imagem pública dos dois artistas. A princípio, nem adianta questionar, todos saíram perdendo. Não havia como ser diferente, ao serem expostas as vidas íntimas e privadas de personalidades tão públicas. Um massacre para ambos.
Nem há como condenar os pobres mortais que decidiram gastar preciosa energia e inestimável tempo a discutir quem estaria falando a verdade, qual a versão mais razoável e quem era, do casal, o mais doente emocionalmente. É uma característica demasiadamente humana, observar as tragédias (e futilidades e fraquezas também) que grassam no Olimpo da sociedade.
Já era provável que a carreira (bem mediana) da atriz tivesse chegado ao fim, antes mesmo do veredito. O galã atormentado talvez ainda tenha fôlego para mais alguma empreitada na indústria cinematográfica. Pouco importa para quem teve a vida devassada da forma como vimos. Os dois tiveram suas atrocidades e culpas particulares submetidas ao escrutínio da multidão.
Muitos observadores voluntários e anônimos, sem serem perguntados ou receberem remuneração, profetizavam: as supostas mentiras ou exageros de Ambar trariam profundos prejuízos para a luta das mulheres. Bobagem.
É preciso muito cinismo e perversão para supor que um único caso (por mais midiático que seja) servirá de parâmetro para estancar ou prosperar o cenário pavoroso de abusos, machismos, violência doméstica e feminicídio que devastam o planeta.
O que fica, no fim, é um triste espetáculo, deprimente e degradante. Para todos.