Jovem de 30 anos vira mestra de bateria e faz história no Carnaval
Thaís Rodrigues é uma das poucas mulheres a ocupar o posto dominado por homens; ela comanda os ritmistas da escola Feitiço do Rio
Rio de Janeiro|Camila Juliotti, do R7
Desde que o caso de Thaís Rodrigues veio à tona, ela virou "celebridade". É reconhecida nas ruas, recebe muitos pedidos de fotos e ganhou o apelido de "garota da bateria".
O assédio não é por acaso, Thaís está fazendo história no Carnaval. A jovem de 30 anos vai assumir a bateria da escola de samba carioca Feitiço do Rio, um posto dominado por homens — além dela, o único registro que se tem de uma mulher mestre de bateria é de Helen Maria, há 10 anos na Unidos do Uraiti.
A vida de Thaís no samba começou em meados de 2003. Na ocasião, ela visitou a quadra da Acadêmicos da Rocinha durante um ensaio e se apaixonou pelo som da bateria.
— Esperei um intervalinho, peguei um chocalho, toquei do jeito que eu achava certo. O mestre ouviu, gostou e me chamou pra participar dos ensaios e desfilar com eles. Desse ano pra cá não parei mais, só troquei de instrumentos. A minha grande paixão sempre foi o surdo de terceira, que toco hoje.
O convite para ser mestra da Feitiço, para a jovem, foi um reconhecimento do trabalho dela. Mas, quando recebeu a ligação do presidente da agremiação, Antônio Gonçalves, ela demorou a acreditar.
— Tomei aquele baque! Milhares de coisas passaram na minha mente. Pensei: "Tem tanta gente boa por aí. Eu, mestre?". A cabeça pensou uma coisa e a boca falou outra: "Claro, agora" [risos].
Além de comandar a bateria da Feitiço, Thaís desfila na Unidos da Tijuca desde 2011 tocando surdo de terceira e foi convidada pela Paraíso de Tuiuti para participar do desfile tocando o mesmo instrumento.
Dificuldades por ser mulher?
Por ser uma das poucas mulheres a ocupar o cargo de mestre de bateria, Thaís relata que já enfrentou preconceito e olhares desconfiados por parte de outros ritmistas homens.
— Lembro de uma vez que fui numa escola e, como a bateria estava muito cheia, tivemos de dividir os instrumentos. O mestre pediu para um senhor passar o instrumento pra mim, porque o ensaio ia acabar e eu não tinha tocado. Ele não gostou, começou a me xingar... foi todo um processo para o mestre conversar com esse senhor e tudo ficar bem.
Em outra história curiosa, Thaís conta que um amigo e mestre de bateria de uma agremiação desconfiou quando ela disse que ela comandava o surdo de terceira microfonado da Rocinha.
— Tive que chamar o diretor da Rocinha para falar. Ele se desculpou, disse que todo ano fica escutando e acha muito bom, me parabenizou também.
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Para Thaís, há uma crescente de mulheres nas baterias das escolas de samba e ela torce para que este movimento se amplie, seja nas agremiações ou nos blocos de samba.
— Quero agradecer a todas as mulheres que desfilam nas baterias, que vêm tentando ser mestres e diretorias de baterias. As mulheres de blocos, de grupos de mulheres... estou muito feliz dessas pessoas virem me procurar e me agradecer. Mas, na verdade, eu tenho que agradecer essas pessoas que vieram antes de mim. Estou feliz de ter a oportunidade de estar representando todas elas.