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Comédia com famoso não assusta cineasta independente

Filme livre quer chegar ao grande público como o "vira-lata brasileiro que pulsa"

Cinema|Miguel Arcanjo Prado, editor de Cultura do R7

Filme independente e inteligente: Amor, Plástico e Barulho, de Renata Pinheiro, com Leo Pyrata e Nash Laila
Filme independente e inteligente: Amor, Plástico e Barulho, de Renata Pinheiro, com Leo Pyrata e Nash Laila

O cinema brasileiro está longe de dizer que se encontra em crise. O ano de 2013 foi o primeiro em que ultrapassou a barreira dos 100 longas lançados, chegando a 127 filmes segundo a Ancine (Agência Nacional do Cinema).

Contudo, nem sempre os números coincidem com a real criatividade dos cineastas brasileiros, já que o mercado vê uma invasão de comédias com estrelas da TV, ocupando as já poucas salas disponíveis para a produção nacional, já que Hollywood ainda domina nosso mercado.

O público de cinema cresceu mais de 200% nos últimos dez anos, segundo dados da Filme B. Em 2001, as salas de cinema receberam 75 milhões de brasileiros. Desses, apenas 6,9 milhões foram ver produção nacional. Em 2012, o número total de público saltou para 148,9 milhões — dos quais 15,1 milhões viram filme brasileiro.

A cineasta Ana Carolina; abaixo, Marcelo Ikeda, autor do livro Cinema de Garagem
A cineasta Ana Carolina; abaixo, Marcelo Ikeda, autor do livro Cinema de Garagem

A arrecadação também cresceu entre 2001 e 2012 de R$ 412 milhões para R$ 1,6 bilhão, o que torna o Brasil um dos maiores mercados de cinema do mundo.


Mostra do Filme Livre

Mesmo com poucas salas para exibir seus trabalhos, os produtores independentes seguem firmes e produzem como nunca. Os 1.060 filmes inscritos na 13ª Mostra do Filme Livre são um indicador da resistência criativa brasileira. Destes, 198 foram selecionados e são exibidos no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo até 8 de junho com entrada gratuita.


O evento, que existe desde 2002, tenta trazer fôlego novo à produção nacional e conquistar novas plateias para filmes de qualidade, sobretudo após a invasão das comédias pastelão.

Leia o blog de Miguel Arcanjo Prado: Atores & Bastidores


Burocracia e monopólio

A cineasta Ana Carolina, homenageada em 2014 pela MFL, conta que o processo de captação de recursos "sempre é lento e difícil". Ela concorda que a cena independente conquistou mais espaço na última década, mas isso ocorre justamente quando este tipo de filme, em sua opinião, fica "vedado" por conta dos longas que pertencem "ao mainstream".

— O Brasil agora apresenta um sistema de produção cruel, porém viável. Obviamente, trata-se do reino do mercado. O monopólio de uma TV, que conta com a não concorrência das outras, deita e rola.

Guilherme Whitaker: criador da Mostra do Filme Livre, espaço para cinema inovador
Guilherme Whitaker: criador da Mostra do Filme Livre, espaço para cinema inovador

Para a cineasta, é preciso "acabar com a burocracia e com o monopólio".

Mais salas pequenas

Guilherme Whitaker, criador e um dos curadores da Mostra do Filme Livre e sócio da WSET Multimídia, concorda. Para o produtor, o cinema industrial vai sempre passar na frente do cinema alternativo quando o assunto é público ou verbas. Sobretudo porque "o público do cinema comercial é o mesmo da TV".

Em sua visão, tal público "precisaria ter contato com o cinema livre, para passar a rejeitar o padrão global estabelecido". Para ele produções feitas a toque de caixa empobrecem nosso cinema. E denuncia que há muito "copia e cola, porque funciona e vende". Falta, em sua visão, valorização de conteúdos originais, como os que exibe na MFL.

— Hoje, para o cinema independente, o maior problema não é a produção, mas a distribuição e exibição. Seria preciso investimento em novas salas, não para 500 pessoas, mas para 50 ou 100 pessoas, com estrutura mais simples, como mesmo o DVD, para que os filmes livres sejam mais vistos, criando um circuito alternativo.

Leia o blog de Miguel Arcanjo Prado: Atores & Bastidores

Cena do filme Estação Bahia, feito de forma independente: direção de André Michiles e Fábio Bardella
Cena do filme Estação Bahia, feito de forma independente: direção de André Michiles e Fábio Bardella

"É preciso desmistificar"

O documentarista Fabio Bardella, que dirigiu o filme Estação Bahia com André Michiles, define a atual produção como "vibrante e heroica". Mas não demoniza as comédias brasileiras.

— O Brasil precisa produzir filmes, desde comédias idiotas até grandes épicos, estamos engatinhando neste processo ainda. O sucesso que estes filmes comerciais "mela cueca" fazem, estão atrelados a falta de crítica do público que o consome.

Fabio Bardella: "O cinema independente é o vira-lata brasileiro"
Fabio Bardella: "O cinema independente é o vira-lata brasileiro"

Para Bardella, "o cinema independente nunca teve espaço suficiente no Brasil, independentemente dos filmes comerciais ou não".

—Não interessante comercialmente abrir espaço para este tipo de produção na TV aberta. Mas existem canais, como Canal Brasil, Art1 e Curta, que tem uma programação voltada para produções nacionais independentes também.

O diretor sonha ver o cinema livre dialogando mais com o público.

—É preciso desmistificar o cinema independentes. Não pode virar filme de galeria. É necessário criar espaços de difusão, incentivo. O público precisa entender a complexidade e beleza da produção independente, senão sempre seremos os cineastas que fazem filmes para meia dúzia de pessoas.O independente é o vira-lata brasileiro, aquela coisa vibrante que pulsa. Vibração que não existe neste pastelões comerciais.

Outros modos de ver

Marelo Ikeda também é curador da MFL e professor de cinema da UFC (Universidade Federal do Ceará). Ele afirma que mostras e festivais de cinema têm um papel importantíssimo neste cenário. Para o pesquisador, as "ligações em rede" ajuda na sobrevivência do cinema alternativo, tema que abordou no livro Cinema de Garagem, escrito em parceria com Dellani Lima.

Ikeda também critica o atual modelo de salas multiplex, "em que três ou quatro filmes ocupam 80% das salas, contribuindo para a homogeneização do consumo de audiovisual".

Para ele, "isso é perigoso", sobretudo por minar a "diversidade de estilos e de olhares nas salas de cinemas".

—Ver um filme brasileiro, italiano, japonês, filipino, conhecer outras culturas, outros modos de ser, é parte fundamental da cidadania, de entender que as pessoas são diferentes. É um caminho de tolerância e de respeito à diferença, fundamental no mundo de hoje, em que proliferam os preconceitos.

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