'Homem-Aranha: no Aranhaverso" é ousado, alegre e maravilhoso
Novo longa consegue dar aos fãs de filmes de heróis um respiro às sequências e universos gigantes que sufocaram o meio para trazer algo mais profundo
Cinema|Caio Sandin, do R7
Quando se vai ao cinema, pelo menos de 10 anos para cá, a chance de se encontrar um filme de super-heróis em cartaz é muito grande. Universo Cinematográfico da Marvel, DC, Fox, Sony... todas as produtoras já tentaram se lançar no novo "gênero" em busca das enormes cifras alcançadas pelas incursões mais bem-sucedidas. Isso acabou gerando uma sensação de saturação e afastando algumas pessoas das telonas.
Durante este tempo, poucos foram aqueles que conseguiram ser ousados o suficiente para, fazendo um bom filme, quebrar o padrão e se destacar na cada vez crescente pilha de lançamentos. Homem-Aranha: no Aranhaverso é um desses.
Veja aqui as nossas primeiras impressões: filme com mais cara de quadrinhos da saga
Baseado em um dos personagens que começou esta tendência, nos idos de 2002, a animação já se destaca em seu próprio segmento, por usar uma técnica nova e fresca, fugindo do tradicional 3D realista, visto nos últimos anos, abraçando um visual mais cartunesco, com cara, jeito e estética de história em quadrinhos. Essa sensação é ainda maior por conta da utilização de textos na tela para expressar sentimentos e pensamentos, como nas revistinhas.
Um dos fatores principais para tamanho acerto é com este longa é um roteiro muito bem escrito e muito bem amarrado. Ao utilizar diversas versões do personagem central, poderia haver algum tipo de confusão, já que as possibilidades da audiência não entender um mínimo pedaço é grande, mas a história flui tão naturalmente que desde crianças até adultos conseguem compreendê-la e perceber os valores que estão sendo transmitido, de forma sutil, na extensão do filme.
Apesar de vermos diversos 'Homens-Aranhas' ao longo da trama, é Miles Morales o grande foco de tudo. O jovem, filho único de uma família modesta composta por mãe latina e pai negro, não nega suas origens — muito pelo contrário, a sua insegurança está no que não conhece. Retratando uma nova geração, mais conectada, o personagem consegue conversar com o público da sua idade, mas seus dilemas e problemas são tão universais que a empatia é imediata em toda a audiência.
O filme tem excelentes cenas de ação, com lutas muito bem coreografadas e ideias engenhosas para mostrar estes combates, porém o grande brilho não está em um empolgante confronto entre mocinho e vilão, mas sim em como este mocinho chegou onde está e como, apesar de tudo, é ele quem está ali. Neste ponto, até os vilões tem suas motivações relacionadas a fatores mais íntimos — não há uma megalomania em tentar conquistar a galáxia — e, por conta disso, mais relacionáveis à nossa realidade.
Nos quesitos técnicos o longa é um deleite. A fotografia nos brinda com cenas maravilhosas, a direção é ágil e inteligente para conseguir entregar tudo o que o roteiro deseja, além de incrementar elementos visuais marcantes, que dão um charme e uma personalidade propria ao filme. Falando em personalidade, a trilha sonora é brilhante para guiar o público, ao utilizar faixas somente com percussão nas cenas de Morales, enquanto dá ao Homem-Aranha os grandes acordes das orquestras e instrumentos de cordas, gerando maior sensação de recompensa nas cenas de ação.
No fim, o filme poderia ter quantos 'homens-aranhas' ele quisesse, porque o mais importante está no lugar certo — seu coração, sua alma, sua vibe — e, afinal, o uniforme "sempre serve. Eventualmente". Sem possibilidade de trocas.
Ficha técnica:
Ano: 2018
Classificação: 12 anos
Duração: 1h56 min
Direção: Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman
Roteiro: Phil Lord e Rodney Rothman
Elenco: Shameik Moore, Jake Johnson, Hailee Steinfeld, Mahershala Ali, Brian Tyree Henry, Nicolas Cage
Produtores: Avi Arad, Amy Pascal, Phil Lord, Christopher Miller e Christina Steinberg
Música: Daniel Pemberton