Entrevista do Arcanjo: “Agora, estou no palco; o resto Deus decide”, diz atriz Eva Wilma
Mito da TV, atriz celebra 80 anos de vida e 60 anos de carreira com turnê pelo Brasil
Entretenimento|Miguel Arcanjo Prado, editor de Cultura do R7
Prestes a completar 80 anos em 14 de dezembro próximo, a atriz paulistana Eva Wilma não quer saber de ficar parada. Após terminar a temporada paulistana da peça Azul Resplendor [leia a crítica], na qual contracena com Pedro Paulo Rangel e Dalton Vigh, ela viaja o Brasil com o espetáculo que celebra suas oito décadas de vida e 60 anos de carreira – por conta da montagem e da data, ela está indicada ao Grande Prêmio da Crítica da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) deste ano.
Eva Wilma é filha de pai alemão e mãe argentina descendente de judeus ucranianos. Começou a carreira com a dança clássica e logo se tornou uma atriz de sucesso. Bela e talentosa, sempre chamou a atenção de diretores tanto na televisão, quanto no teatro e no cinema.
Teve dois casamentos: o primeiro, com John Herbert, que durou de 1955 a 1976, lhe deu dois filhos, Vivien e John Buckup; o segundo, com o também ator Carlos Zara, durou 23 anos até a morte do artista em 2002 - eles não tiveram filhos juntos.
Além de temporada de sucesso em São Paulo, a peça Azul Resplendor, na qual Eva vive a atriz Branca Estela, já passou por Campinas e, nos próximos fins de semana, estará em Porto Alegre, Uberlândia, Curitiba e Vitória. Afinal de contas, o palco é o lugar onde Eva se sente mais à vontade.
Atriz que confunde sua trajetória com a da televisão brasileira, ela fez papéis marcantes como a Altiva de A Indomada, as gêmeas Ruth e Raquel da primeira versão de Mulheres de Areia, ou ainda a Dra. Martha, do seriado Mulher. Seu papel mais recente foi a engraçada Tia Íris em Fina Estampa, novela de Aguinaldo Silva exibida em 2011.
Quando o assunto é carreira, Eva prefere não fazer mais planos. Vive cada dia e deixa o resto para Deus decidir, com contou nesta exclusiva Entrevista do Arcanjo ao R7.
Leia com toda a calma do mundo:
Miguel Arcanjo Prado — Você fez grandes papeis na TV, mas você sempre faz teatro. Por quê?
Eva Wilma — Teatro é a escola do ator. É onde a gente evolui. Fiz peças marcantes, como Uma Mulher de Três Palhaços, Um Bonde Chamado Desejo e Feiticeiras de Salém. Além de Ato sem Perdão e O Santo Inquisidor, em plenos anos de chumbo da ditadura!
Você chegou a dar a cara a tapa, ao participar de passeata contra o regime...
Sim. Eu sempre fui a favor da democracia e contra a censura. Não poderia ter sido de outra forma. Era nossa obrigação como artistas.
Quais são seus momentos mais marcantes na TV?
Na TV, fiz muitas coisas especiais! Posso começar falando dos seriados Alô Doçura, na Tupi, e Mulher, na Globo. Gosto também de citar as novelas da Ivany Ribeiro, como Mulheres de Areia e A Viagem, além de Meu Pé de Laranja Lima. E, depois que a Tupi acabou, eu vivi muitas coisas boas na Globo, como a Lygia de Ciranda de Pedra e a Altiva de A Indomada, com o humor crítico do Aguinaldo Silva. Com certeza esta foi uma personagem muito importante e que até hoje é muito lembrada pelo público.
Quais outras personagens você gostou de fazer?
Também adorei fazer Os Maias, da Maria Adelaide Amaral. E o Rei do Gado, do Benedito Ruy Barbosa. Ah, dele teve também Esperança. É muita coisa... Você sabia que em Rei do Gado, para gravarmos aquela primeira fase, a gente teve três meses? Só para fazer aqueles sete primeiros capítulos! A primeira fase de O Rei do Gado é uma obra prima da TV!
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E no cinema?
Ah, no cinema eu tenho muito orgulho de ter feito Cidade Ameaçada, do Roberto Faria, e São Paulo S/A, do Person, e também Vaias e Vinhos, do João Batista de Andrade.
Como se deu esta sua volta aos palcos?
O Renato Borghi [um dos diretores da peça, ao lado de Elcio Nogueira Seixas] me telefonou contando que tinha voltado de uma longa viagem pela América Latina. E disse que estava com um texto que tinha de ser feito por mim. Assim que li telefonei entusiasmada para ele. É uma personagem muito especial para mim! A Branca Estela está no limite entre a vida e a morte. É a quarta personagem que faço que aborda a finitude da vida...
Como você vê a chegada da idade mais madura?
Com alegria. Vou aprendendo a conviver cada vez melhor com as limitações e as perdas de pessoas que se vão. Faz parte da vida. E isso também, de perder pessoas queridas, não tem idade. Você pode perder alguém querido mesmo sendo jovem.
Como você recebeu a indicação ao Grande Prêmio da Crítica da APCA pelos 60 anos de carreira?
Olha, eu fiquei muito feliz, sim. Muito honrada e agradecida. Afinal, é uma instituição muito importante. Eu tenho muita honra de já ter ganhado o troféu da APCA.
Como você vê o embate entre gerações retratado na peça?
A peça Azul Resplendor tem basicamente humor e crítica. Todos estão se criticando a si próprios. Todos riem de si próprios. O humor crítico do autor da peça, o peruano Eduardo Adrianzén, é brilhante. Ele arranca gargalhadas da plateia. A peça abre com um momento poético, comparando a vida com a chama de um fósforo. E, ao fim, ele fala da importância da vida do ator. Eu que tenho 60 anos de personagens falo isso com muita alegria! Quando fala Azul Resplendor, ele fala do azul celestial, como o azul do teatro que imita a noite... O texto é muito bom. E a gente, falando direitinho e se entregando poeticamente, emociona as pessoas.
O que você deseja para a turma que está chegando?
Eu desejo muita sorte e coragem às novas gerações. Sobretudo aos que querem ser atores. Porque precisa ter muita força para ser ator. E tem muita gente nova com talento por aí.
Você falou que esta é sua quarta personagem que fala da finitude da vida. Como é para você morrer em cena?
No Rei do Gado, foi uma morte linda a da minha personagem. Mas acho que a mais linda foi em Veias e Vinhos. Eu brinco: eu já morri tantas vezes poeticamente! Ator adora fazer cena de morte [risos] Mas eu adoro também fazer comédia. Gosto de humor crítico, quando a risada de si mesmo nos mostra o quanto as coisas são ridículas.
Quais são seus planos futuros?
Agora, estou no palco; o resto, Deus decide.