Entrevista do Arcanjo: "Ator de TV é muito sozinho", diz Mel Lisboa
A sensual Marcinha de Pecado Mortal abre o jogo sobre a vida, marido, filhos e carreira
Entretenimento|Miguel Arcanjo Prado, editor de Cultura do R7
![Mel Lisboa, 31 anos: atriz, mãe e esposa](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/YA3LH6OUQ5NTVIONHXZMS7OFGE.jpg?auth=27b267d35b7c432ebd48ba881fd222f1c630c1ce23c30d48faad5cc6f71347b1&width=500&height=751)
Mel Lisboa está se readaptando ao Rio. Após nove anos em São Paulo, ela voltou a morar na Cidade Maravilhosa por conta das gravações da novelaPecado Mortal(Record). Na trama de Carlos Lombardi, ela vive Marcinha, uma jovem que sofre uma reviravolta na vida e se torna a prostituta de luxo Eva. A personagem da atriz está surgindo aos poucos na trama, mas logo ganhará destaque.
No meio tempo, ela também se prepara para viver Rita Lee no musical Rita Lee Mora ao Lado, previsto para estrear em São Paulo, no Tuca, em março de 2014. E ainda atua aos fins de semana na peça Superadas, em cartaz no Teatro das Artes, no Shopping Eldorado até 24 de novembro [veja o serviço ao fim da entrevista]
No meio disso tudo, Mel ainda encontra tempo para ser esposa do percussionista Felipe Roseno e mãe dos pequenos Bernardo, de três anos, e Clarice, de um.
Apesar de ser gaúcha, Mel foi criada no Rio. Ela é estrela da TV desde que surgiu na minissérie Presença de Anita, uma versão de Lolita criada pelo autor Manoel Carlos em 2001. Dez anos depois, estreou na Record como a sensual Dalila, na minissérie Sansão e Dalila, adaptada da Bíblia por Gustavo Reiz.
Mel conversou com o R7 nesta Entrevista do Arcanjo, na qual falou da família, da carreira na TV e no teatro, e ainda explicou por que foi fazer teatro de grupo na região da cracolândia: “Ator de TV é muito sozinho”.
Leia com toda a calma do mundo:
![Mel Lisboa também atua no teatro, em plena cracolândia, com o grupo Pessoal do Faroeste, em São Paulo](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/P7W5XIWE2NPWRJ2DWBAO5JRINQ.jpg?auth=fa7a08b6ebbb53d3482260b36fce2256c44356dc1fe2b36ea82b0edca4a82196&width=895&height=516)
Miguel Arcanjo Prado – Desde sua estreia como Anita, você tem uma carreira marcada por personagens sensuais na TV. Suas duas últimas, a Dalila, e agora a Marcinha, também são sensuais. Como você lida com isso?
Mel Lisboa – Acho que as pessoas enxergam isso também, né? [risos]. Deve ter algo de sensual em mim... Não acho que seja algo tão óbvio. Tem a ver com a entrega e também com a energia. Tem a ver com isso. Mas o problema é quando as pessoas só enxergam isso, de ser sensual, isso é limitador! Mas proporcionam coisas bem diferentes. As personagens do teatro, das peças Cine Camaleão e Homem Não Entra [que Mel fez com o grupo Pessoal do Faroeste, em São Paulo] também são muito sensuais. Mais não era só isso. E é isso que me enriquece, porque se eu ficar só fazendo a sensual eu vou me ferrar, nunca mais vou evoluir.
E qual é a pegada da Marcinha em Pecado Mortal?
A personagem acabou de aparecer. Agora que eu recebi uns capítulos que começa a contar a história dela. A história dela começa no capítulo 38, e aí que começa a ser contada. Era uma menina ingênua, mas à frente do tempo dela, que não leva desaforo para casa. Ela tem atitude. Ela passa por todo o calvário até ter uma reviravolta e voltar um mulherão. É uma personagem rica e difícil porque tem essa transformação toda. Só a Dalila, de Sansão e Dalila, também tinha uma grande transformação. A Marcinha é uma grande personagem na TV. Estou muito feliz com ela.
Mel Lisboa fala sobre ser prostituta de luxo em Pecado Mortal
E como está sendo para você viver a Rita Lee em um musical?
Isso será no ano que vem. Eu estou fazendo aulas de canto e acho uma oportunidade incrível. Fui aprovada pela própria Rita, o que me emocionou. É uma grande oportunidade de viver uma mulher da qual sou fã e que rompeu tantas barreiras e ainda continua rompendo.
Você tem dois filhos. Ser mãe lhe obrigou a fazer escolhas?
Sim. Você se desdobra. Ser mãe lhe ensina a ter de dar conta do tempo, de trabalhar sem se distanciar de seu filho. Como faz para conciliar o trabalho? Tem de abrir mão de muitas coisas. Eu, por exemplo, não consigo dormir como gostaria porque quero acordar cedo para levar meus filhos na escola.
Você já ficou grávida duas vezes, mas sempre volta ao corpo normal muito rápido. Como consegue isso?
Eu nunca paro de treinar a parte física, sobretudo porque faço teatro. Eu voltei a fazer a peça quando a Clarice tinha um mês e pouco! A vida não para porque você é mãe. Aí, você amamenta e seu corpo vai voltando de uma forma bem natural. Sem ter de fazer dieta e ginástica que nem uma louca. A minha ginastica é minha própria vida.
Você é mãe de Bernardo e Clarice, qual a diferença entre ser mãe de menino e de menina?
Eles são diferentes e até independentemente de ser menino e menina. Tirando a parte física, que são parecidíssimos, no resto são bem diferentes. O Bernardo é um menino bem tranquilo, bonzinho, brinca sozinho. O Bernardo nunca deu trabalho. A Clarice é mais moleca, acho que porque tem um irmão mais velho. Não sei se tem essa coisa de menino e menina...
Com foi ter o segundo filho?
Uma coisa que falaram é que você não tem mais um filho. Você tem outro filho. É outra pessoa que chega. Com outras demandas, outros jeitos, outras formas de se relacionar. E você tem que aprender tudo. Eu crio os dois do mesmo jeito. O que eles vão demandado é o que faz ter diferenciação. Você vai se moldando às demandas.
Você resolveu morar em São Paulo; por quê?
Eu fui para são Paulo há nove anos. Começou com questão de afinidade e trabalhos. Eu gostava bastante e decidi mudar. Isso faz bastante tempo. Aí, vinha trabalhar no Rio e ficava na ponte aérea. Nos últimos cinco anos, eu fiquei bem mais em São Paulo. Aí, o que aconteceu? Quando fiz Sansão e Dalila, fiquei pouco assustada com isso de ter filho em São Paulo e ir gravar no Rio. Então, quando fui chamada para fazer essa novela, Pecado Mortal, não pensei duas vezes: vou levar todo mundo para o Rio.
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Você se mudou para o Rio então?
Sim, pelo menos por este próximo ano. Conversei com o Felipe [Roseno, músico, marido da atriz], ele topou. Aí fomos embora. Só que surgiu esta nova peça em São Paulo [risos]. Eu acho que me precipitei [risos]. Mas está bom, pelo menos estou segura. Passo um ano no Rio e pronto. E estamos curtindo o que o Rio tem a oferecer de bom. Mas a ideia é voltar a São Paulo.
Como foi voltar para o Rio?
Está engraçado. É diferente, né? Ontem, fui na casa de uns amigos cariocas e já percebi. A minha mãe sempre morou no Rio, então, é mais legal porque ficamos mais próximas. Eu fui criada no Rio e minhas amigas de infância moram na cidade. Temos nos visto muito mais. Tenho recuperado minha relação com a cidade. Cada cidade tem seu valor. Apesar de gostar muito de São Paulo, o Rio tem muitas coisas legais. Apesar de não ser uma carioca típica, daquelas que vivem na praia [risos].
Onde você mora?
No Rio, em Laranjeiras, que é um bairro antigo da zona sul, onde tudo fica perto. É bem bairro. Em São Paulo, moro no Jardim da Glória. Você sabe onde é?
Não.
Praticamente ninguém sabe [risos]. É perto da Vila Mariana. Moro em uma casa em uma rua sem saída. Eu adoro. Parece que estou no interior em plena São Paulo.
Mel Lisboa fala sobre ser prostituta de luxo em Pecado Mortal
Veja fotos da trajetória da atriz Mel Lisboa
Você conta com ajuda para cuidar dos filhos?
Tenho. Tenho sim, a Nina. Inclusive ela veio morar com a gente no Rio também. Quando a gente decidiu vir, ela quis vir com a gente, mas ela volta duas vezes por mês para São Paulo, para ver a família.
Seu marido lhe ajuda?
Acho que tem de mudar esse jeito de perguntar [risos]. Porque esta pergunta está colocando necessariamente que quem faz o trabalho é a mãe. E ele só dá uma ajuda ou outra. E isso não está certo. Tem de perguntar assim: “Seu marido é pai mesmo?” Porque o trabalho não é meu, não é do Felipe, não é da Nina. É de todos. Quem vai passar este fim de semana inteiro com os dois, por exemplo, é ele. Ele sempre fez tudo.
A peça que você está fazendo, Superadas, fala da mulher moderna, com mil obrigações. Como é para você interpretar este papel?
A gente se identifica. Porque as questões da mulher contemporânea são questões que se relacionam com a quantidade de coisas que você é exigida. A mulher precisa trabalhar, ficar bonita, ganhar dinheiro, ser boa mãe, boa esposa... Eu também trabalho, sou mãe, sou esposa, tenho minha casa, tenho coisas para resolver e ao mesmo tempo tenho de trabalhar muito. Então, a gente se cobra muita coisa.
Você faz duas personagens na peça?
Isso mesmo. Uma é a Marisa, uma das três protagonistas da peça: Margarida, Marisa e Marta. A Marisa tem humor pitoresco, muda de humor o tempo todo. Ela fala uma coisa e logo muda completamente. Ela está numa fase que já está com dois filhos, e meio cansada do casamento. Então, são três mulheres já adultas e casadas, uma já está se separando. Faço também a filha da Margarida, uma pós-adolescente, por volta dos 20 anos.
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Você agora é balzaquiana, tem 31. Você prefere mais esta idade ou quando tinha 20 anos?
Agora, sem dúvida! Dos 30 aos 40 anos acho que é a melhor fase. As coisas mudam bastante com a maturidade. A minha vida acabou estabelecendo de um jeito que me obriga a ser mais madura. Você já sabe o que você é. Já sabe o que você quer e a parte do que você tem para desejar outras coisas. Você não fica com o impalpável. As coisas são mais reais com esta maturidade.
Todo mundo comentou o fato de você ir fazer teatro na cracolândia, em São Paulo, com o grupo Pessoal do Faroeste. Como se deu isso?
Eu conhecia o Paulo Faria [diretor da trupe] como amiga e também espectadora. A gente tinha simpatia pelo outro e ensaiava trabalhar junto. Quando ele me chamou para fazer a peça Cine Camaleão, eu tinha acabado de ter dado um tempo na comédia Mulheres Alteradas, porque não queria viajar. Então, achei a proposta muito tentadora. Toda a pesquisa era muito legal, a personagem era muito bacana. Aí começamos a parceria. Eu me considero colaboradora da companhia. Porque ele trabalha com atores colaboradores. E eu sou um deles.
Qual foi a principal mudança que você percebeu ao ir fazer teatro alternativo?
Fazer teatro alternativo, teatro de grupo, é completamente diferente! É um trabalho que agrega muitas coisas, você lida com o público de uma maneira bem diferente. Eu gosto muito.
Você acha que houve preconceito pelo fato de você ser famosa e ir para um grupo alternativo?
Eu vi uma certa estranheza, primeiro da imprensa. E também das próprias pessoas que fazem teatro. O pessoal dos grupos, da Cooperativa [Paulista de Teatro]. Quando começou, as pessoas não entenderam muito bem. E na verdade não tem nada que se entender. São artistas que querem trabalhar juntos. Eu estava lá porque estou a fim de fazer, porque eu gosto. Eu acho que em Homem Não Entra [peça mais recente de Mel com o Pessoal do Faroeste] houve uma aceitação ainda maior. E se vier fazer uma terceira, será maior ainda. As pessoas vão se acostumando.
Mel Lisboa fala sobre ser prostituta de luxo em Pecado Mortal
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Você acha importante que artistas da TV façam teatro?
Eu acho bacana hoje em dia ter essa discussão. Você ter a liberdade de fazer. O teatro é fundamental para o ator, não tem outra palavra. Para mim é muito interessante que haja esse trânsito não só no teatro comercial quanto no de grupo. No teatro de grupo é uma parceria, todo mundo está junto. O ator de TV não está acostumado, ele é muito sozinho. No teatro de grupo, não, o que vale é o coletivo. Eu acho interessantíssimo. Para mim, fazer trabalho de grupo me enriquece muito.
Mas é a TV quem dá dinheiro?
Isso é um fato. É quase impossível sobreviver só de teatro. Acho interessante eu ser uma artista que tenha um contrato com a Record que me permite fazer teatro sem ter de me preocupar se a peça vai conseguir pagar minhas contas. Por esse lado, eu entendo o espanto de alguns jornalistas com o fato de eu fazer teatro de grupo, porque são raras as pessoas da TV que fazem isso. Mas eu acho que todos deveriam fazer. A TV só teria a ganhar com isso, porque seus atores ficariam melhores.
Superadas
Quando: Sexta e sábado, 21h30, domingo, 20h. 75 min. Até 24/11/2013
Onde: Teatro das Artes do Shopping Eldorado (av. Rebouças, 3970, CPTM Hebraica Rebouças, São Paulo, tel. 0/xx/11 3034-0075)
Quanto: R$ 50 (sexta), R$ 70 (domingo) e R$ 80 (sábado)
Classificação etária: 12 anos