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Entrevista do Arcanjo: “Fico até o fim e apago as luzes”, diz Zico Goes, diretor de programação da MTV Brasil

A poucos dias do fim da emissora que fez história com o jovem brasileiro, executivo diz que canal manteve identidade até o fim e afirma: "A Globo ainda não acertou com Adnet"

Entretenimento|Miguel Arcanjo Prado, editor de Cultura do R7

Zico Goes (à esq): projeto de livro e documentário; (à dir., alto) Adnet, que não deu certo na Globo; Astrid Fontenelle, Marina Person e Zeca Camargo, nomes da história da MTV Brasill; (à dir., baixo) acústicos Titãs e Cássia Eller
Zico Goes (à esq): projeto de livro e documentário; (à dir., alto) Adnet, que não deu certo na Globo; Astrid Fontenelle, Marina Person e Zeca Camargo, nomes da história da MTV Brasill; (à dir., baixo) acústicos Titãs e Cássia Eller

Zico Goes, diretor de programação da MTV Brasil, é como um capitão de navio digno: será o último a abandonar o barco da emissora jovem que chega ao fim tal qual a conhecemos no próximo dia 30 de setembro.

A partir de 1º de outubro, o canal passa para o comando da norte-americana Viacom, detentora da marca, que promete continuar com a MTV no ar apenas na TV paga, bem diferente daquela que fez história desde a estreia com Astrid Fontenelle em 20 de outubro de 1990, no canal aberto 32 UHF – a MTV Brasil foi a terceira do mundo e a primeira em canal aberto. Caberá também a Astrid dar o último adeus, no próximo dia 30.

Nesta Entrevista do Arcanjo, Zico Goes falou ao R7 sobre este momento derradeiro da MTV Brasil. Revelou o que pretende fazer para que a memória da emissora não morra – até o momento o precioso arquivo do canal com mais de 30 mil fitas tem destino incerto –, disse que jamais quis baixar o nível para conquistar ibope e ainda respondeu, bem-humorado, sobre a famosa “maldição” que acompanha os artistas que saíram da emissora: “A Globo ainda não acertou com o Adnet”.

Leia com toda a calma do mundo:


Miguel Arcanjo Prado – A MTV Brasil faliu? Por quê?

Zico Goes – Não faliu. Tinha dificuldades como outros canais, mas não faliu.


Então, explique direitinho, por favor... A MTV Brasil vai ou não vai acabar?

Essas dificuldades, entre outras coisas, talvez tenham sido determinantes para que a [Editora] Abril tenha decidido entregar de volta a marca aos donos. O que acaba é só a MTV Brasil. A partir de 1º de outubro surge uma nova MTV, dessa vez, feita diretamente pelos donos da marca, os americanos da Viacom. Outra empresa com outra equipe, outra programação. Um outro canal. Não mais aberto, mas pago.


Você fica deprimido, vendo estes últimos momentos da MTV Brasil no ar, com reprises e ex-VJs falando de seu passado na emissora?

Não, ao contrário. Estamos felizes por celebrar o que fizemos e nos orgulhamos. Dá saudade, mas não deprime.

Não é engraçado ver uma emissora que era tão jovem terminar como uma senhora idosa falando de seus dias de glória?

Os dias de glória não estão em um passado tão distante. Estamos falando também de glórias recentes como [Marcelo] Adnet, Tatá [Werneck], VMB. E nos pareceu o momento certo para voltar ao passado distante e não deixar no esquecimento tantas coisas legais. Tem sido emocionante esse resgate da memória, muito por causa da emoção dos VJs de todos os tempos que têm vindo gravar o My MTV [programa no qual os antigos apresentadores relembram seus grandes momentos na emissora].

Você acha que o telespectador foi ingrato com a MTV?

A questão é que o público cresce e sai da MTV. Mas, depois se sente órfão: "no meu tempo a MTV era mais legal". Mas o tempo passa, a pessoa envelhece, não é mais o target da MTV. Outros jovens aparecem, mudam os programas, trocam-se os VJs, e a pessoa de 15 anos que adorava o Disk MTV agora tem 30 e assiste a séries. Mas tem saudades da MTV.

Você acha que a MTV Brasil errou ao investir dinheiro em coisas como o seriado A Menina Sem Qualidades?

Não, foi algo que vamos lembrar para sempre. Foi caro, difícil, trabalhoso. Teve a má sorte de ser feita num momento já conturbado em que notícias sobre o fim da nossa operação vazavam no mercado e prejudicaram a venda da série. Mas foi uma honra trabalhar com Felipe Hirsch [diretor da série] e o resultado, incrível.

Leia o blog de Miguel Arcanjo Prado

Leia todas as edições da Entrevista do Arcanjo

Você acha que a MTV Brasil foi prepotente em não tentar abarcar um público mais popular?

Não. Ela tinha que manter sua personalidade, sua identidade.

A MTV Brasil deveria ter abraçado mais a música popularesca como forma de sobrevivência?

Mas a que custo? De perder a identidade pra ter ibope? Deus nos livre! Deixa isso pra outros canais, credo!

O Multishow é o substituto da MTV Brasil?

A nova MTV é a substituta da MTV Brasil. Dos canais atuais, o que mais se parece com a MTV Brasil, pelo deboche, pelo desprendimento, pela qualidade e liberdade é o Canal Brasil.

Você acredita na "maldição" que diz que ex-VJ não dá certo fora da MTV?

Acha que ela vai acabar com o fim da emissora? Essa maldição não se aplica a todos, claro. Vide Astrid [Fontenelle], [Marcos] Mion, Zeca [Camargo] e Tatá [Wernerck]. Depende do que cada um faz quando sai da MTV. Se o antigo VJ se adapta a um novo relacionamento, se extrapola aquele personagem MTV, se tem talento para fazer outras coisas, aí dá certo. Depende também do jeito de trabalhar e da liberdade que o outro canal dá ao ex-VJ. A Globo ainda não acertou o jeito de trabalhar com o [Marcelo] Adnet, mas logo pega a manha, pois o cara é um gênio.

Quantas pessoas foram demitidas nos últimos meses na MTV Brasil? Não vai sobrar ninguém para contar história? Xii, mais de cem! Alguns acabaram contratados pela nova MTV. Outros estão se recolocando, muitos ainda não. Uma parte tem que ficar para cuidar do canal que a Abril tem que fazer para substituir a MTV Brasil até que venda a coisa toda. Eu mesmo quero contar a história, quero fazer um documentário, um livro. Esse projeto My MTV, com o resgate dos VJs e do que se fez ao longo desses anos, já é a ponta de lança desse registro que eu quero fazer. A história da MTV Brasil é muito rica.

Qual é o legado da MTV Brasil?

Penso num legado quando esse canal acabar em 30 de setembro. Esse laboratório que foi a MTV Brasil rende frutos em outros lugares. Não estou falando só de apresentadores, produtores e diretores formados na MTV e que hoje estão em outras TVs, produtoras. Estou falando também de um jeito diferente de encarar a TV. A MTV ensinou a não se ater a formatos e padrões, a rir de si próprio, a desconfiar de quem diz saber a verdade. A MTV nãos se levou a sério, não teve medo de experimentar e romper com o estabelecido. É esse o legado que ela deixa: uma maneira diferente e livre de pensar a TV. Essa maneira foi inaugurada pelos gringos da nave-mãe, eles nos ensinaram a fazer uma TV sem amarras e essa pegada, de um jeito ou de outro, vai continuar na nova MTV que eles agora vão tocar.

Você fica na MTV Brasil até quando? Vai ser como um capitão de navio, o último a deixar a embarcação?

Fico até o fim. Apago as luzes.

Qual vai ser sua maior saudade?

Das pessoas, do jeito de trabalhar: livre, em grupo, sem medo das ideias.

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